A preocupação do presidente Nixon com a iminente morte do general Franco foi agora revelada através das gravações que o governante norte-americano realizou no seu gabinete da Sala Oval. Segundo o jornal El País mostra num longo artigo e gravações, a administração americana temia no princípio dos anos 1970 o que veio a acontecer no ano de 1975: o futuro de Espanha no pós-franquismo..Desde o presidente Eisenhower que Espanha era uma preocupação para os EUA e a Guerra fria fazia temer que um dia acordasse comunista. Com Nixon, não foi diferente a perceção. .Conhecedores do estado de saúde de Franco, a administração norte-americana receava que a sua morte pusesse em caso a utilização das bases militares em território espanhol pelos Estados unidos num momento em que essa localização era importante para o domínio mediterrânico. Perante esta hipótese, explica o jornal, Richard Nixon pôs em marcha uma imensa atividade diplomática para obter informações através de missões secretas e o estreitamento das relações com os protagonistas do franquismo..Entre essas aproximações de uma intensa diplomacia está a visita de Nixon a Espanha em 1970, e no ano seguinte a dos príncipes de Espanha aos Estados Unidos, bem como encontros entre o secretário de estado Henry Kissinger e o presidente do governo espanhol, Carrero Blanco, em 1973..Entre as várias gravações agora conhecidas, está uma que resume a opinião de Nixon após a referida visita a Madrid, em que o governante americano se mostra surpreendido pela calorosa receção dos madrilenos, com uma ovação ao longo de muitos quilómetros, ainda maior do que aquela que o seu antecessor, Eisenhower, recebera em 1959. Também se surpreendera com o inglês perfeito do então príncipe Juan Carlos..No entanto, o encontro com Franco causara-lhe preocupação devido ao estado debilitado em que o ditador se encontrava - adormecera num dos trajetos de carro e pouco falava. Para a administração Nixon, que recebia informações periódicas sobre Franco, o seu estado era bem pior do que tinham conhecimento..Outra das preocupações de Nixon era se Juan Carlos estaria preparado para suceder a Franco ou se estava "muito verde" para governar. Noutras gravações, feitas um ano depois durante a visita de Juan Carlos e a mulher aos EUA, mostram que Nixon manteve-se indeciso e sem saber se o príncipe estava pronto para suceder a Franco. O príncipe, parecia ao político americano, não parecia sentir-se à vontade sobre o que se passaria posteriormente e Nixon acabou por recomendar a Juan Carlos que "era preciso manter o equilíbrio entre a liberdade e a ordem e pediu para que o sucessor de Franco não se preocupasse se a sua imagem era demasiado liberal ou reformista mas que mostrasse o dinamismo próprio da sua juventude, uma mensagem que daria confiança sobre as suas capacidades quando chegasse a hora do poder"..Muitas destas gravações resumem as opiniões recolhidas por Bob Haldeman, assessor de Nixon, que se punha em frente ao microfone a registar o que pensava o presidente, e também Kissinger, sobre a questão espanhola. Em fevereiro de 1971, Haldeman ditava para o gravador que Nixon preferia que o "melhor seria Franco entregar em vida o poder a Juan Carlos" e que, para evitar a instabilidade que os EUA receavam poder vir a acontecer nesse país, "havia que apressar a nomeação de um governo forte e entronizar Juan Carlos como novo chefe de Estado"..Para transmitir essa opinião de Nixon a Franco sem provocar crises diplomáticas ou ser conhecida fora do círculo mais íntimo da governação espanhola, foi designado o general norte-americano Vernon Walters, adido militar em Paris. Mas chegar próximo de Franco para lhe transmitir as preocupações dos EUA sobre a sua própria morte e fazê-lo sem conhecimento do ministro dos Negócios Estrangeiros, López Bravo, não era uma missão fácil..Walters acabou por conseguir o encontro com Franco através de Carrero Banco e no dia 24 de fevereiro de 1971 o enviado de Nixon conversou sobre o tema que preocupava os EUA. Segundo as suas memórias, Walters foi surpreendido pela "frieza com que Franco falou sobre o assunto" e ouviu do governante que "havia alguma distância entre o que Espanha e os Estados Unidos queriam, e que Espanha não era os EUA". Acrescentou Franco que "as Forças Armadas espanholas nunca deixariam que a situação lhes fugisse ao controlo e garantiu que confiava em Juan Carlos para dominar a situação após a sua morte.".Em 2000, Vernon Walters voltou a referir esse encontro e acrescentou mais pormenores sobre o que Franco lhe dissera para transmitir a quem o enviara, Nixon: "Eu criei certas instituições que ninguém acreditava que funcionassem. Estão errados. O príncipe será rei, porque não há alternativa. Espanha terá o futuro que os EUA desejam, bem como os ingleses e os franceses: democracia, pornografia, droga. Haverá grandes loucuras em Espanha, mas nenhuma delas será fatal para o país." Walters quis saber porque tinha tanta certeza sobre o futuro para Espanha e Franco respondeu: "Porque vou deixar algo que não existia quando assumi o Governo há 40 anos: a classe média.".Nixon não desejava ser apanhado por uma mudança política em Espanha e o desenlace do franquismo e a sucessão de Franco exigia um acompanhamento de perto, de modo que a transição da ditadura para um novo regime servisse os intentos norte-americanos. Daí que os EUA tivessem nomeado a partir daí representantes seus em Espanha, um país que Nixon conhecia o suficiente para saber quem queria lutar pelos cargos pós-ditador..Aliás, a doença de Parkinson de que Franco sofria nos últimos anos era ignorada no seu próprio país mas conhecida na Casa Branca. O embaixador americano em Madrid, Robert C. Hill, enviou um relatório explícito: "Começou a ter ataques, tem dificuldade em se alimentar e vomita.".A gravação destas conversas, dos depoimentos e das memórias fazia parte da crença de Richard Nixon de que um governante só passa à história se as suas relações internacionais ficarem registadas. Assim sendo, a instalação de um sistema de gravação por sua ordem guardou tudo o que era falado na Sala Oval, até as manobras eleitorais para a sua reeleição, que culminaram no Caso Watergate e no seu fim político..As gravações da Sala Oval ultrapassam a 3000 horas.