Franchising Guggenheim seduz árabes sem se despir

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Fracassados os planos de expansão no Rio de Janeiro e Taiwan, e com os mexicanos de Guadalajara a não conseguirem angariar as avultadas verbas necessárias, a Fundação Guggenheim vira-se para o mercado árabe. Há dias anunciou a construção de mais um museu em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, que terá o traço arrojado e inconfundível do arquitecto Frank O. Gehry, mas "algumas" limitações artísticas: nada de obras com nus ou temas religiosos.

O acordo de intenções foi assinado entre o director do Guggenheim, Thomas Krens, e o responsável pelo turismo do país, sultão Ben Tahnun al-Nayhane, na presença do príncipe Mohamed ben Zayed al-Nahyane.

Será, dizem, o projecto mais ambicioso de sempre: o maior edifício da cadeia, 30 mil metros quadrados, mais 25% de área que o célebre congénere de Bilbau. A inaugurar em 2011, na ilha desabitada de Saadiyat, 500 metros ao largo de Abu Dhabi.

Aí, na "ilha da felicidade", nascerá um novo pólo turístico e cultural para competir com o Dubai, que, além de outros três museus, teatro e parque, terá hotéis de luxo, restaurantes e campo de golfe.

Uma empreitada realizada em três fases, a finalizar em 2018. Um investimento total de 27 mil milhões de dólares (cerca de 21 mil milhões de euros; 4,2 mil milhões de contos em moeda antiga). Convém dizer a propósito que Abu Dhabi, o maior dos sete emirados, tem apenas 1,6 milhões de habitantes mas mais de 9% das reservas mundiais de petróleo, segundo dados da fundação.

O projecto de Gehry e os respectivos custos só serão conhecidos em Novembro, mês em que o Guggenheim vai inaugurar num hotel local uma exposição temporária dedicada aos modernistas russos.

"Quero jogar com o azul da água [do Golfo Pérsico] e com a cor da areia, do céu e do sol", adiantou o arquitecto norte-americano de origem canadiana. "Terá de fazer sentido. Se importarmos algo e o atirarmos para aqui, não vai funcionar", defendeu Frank O. Gehry, numa clara alusão ao ícone que projectou em Bilbau. O uso de cerâmica nas fachadas "poderá ser muito interessante", mas o vidro não se adequa às tempestades de areia, revelou o também autor do plano para o Parque Mayer, sem excluir o uso de titânio em Abu Dhabi.

Questionado sobre como conciliar a audácia da arte contemporânea com os valores conservadores desta região islâmica, Thomas Krens, director do Guggenheim, respondeu que "o objectivo não é o confronto mas o compromisso de intercâmbio cultural" e que coisas "impróprias" também não se fazem em Nova Iorque. "A nudez, as figuras e os temas religiosos serão totalmente excluídos", já garantiu à AFP um responsável da fundação, sob anonimato.

Quanto ao modelo financeiro deste franchising, será o mesmo ensaiado em Espanha e proposto desde então a todos os candidatos à "marca": depois de arcar com os dois milhões de dólares do estudo de viabilidade, a cidade de acolhimento paga a construção e o funcionamento; a fundação norte-americana cede as obras de arte, trata da programação e das iniciativas de carácter pedagógico.

Neste caso, Abu Dhabi financiará também as aquisições para constituir colecção própria, sob supervisão da casa-mãe de Nova Iorque. Haverá uma secção sobre o Médio Oriente.

Para o muito contestado Thomas Krens, mentor desta política expansionista "o desafio agora é definir a próxima geração de museus Guggenheim". A instituição e o Centro Pompidou de Paris estão, de resto, a discutir a construção de um novo museu em Hong Kong.

*Com agências, The New York Times e The Guardian

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