França/Eleições: Adversárias Laëtitia Romeiro Dias e Virginie Araújo defendem "a renovação" da política

Laëtitia Romeiro Dias, a candidata "em marcha", e Virginie Araújo, a candidata "insubmissa", estão em duelo na segunda volta das legislativas deste domingo em França e defendem "a renovação" da classe política no país.
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Para ambas, a última semana de campanha na 3.ª circunscrição de Essonne, nos arredores de Paris, é uma maratona que começa de madrugada e termina noite dentro, com distribuição de panfletos nas feiras, nas estações de comboio, nas caixas de correio, colagem de cartazes, porta a porta e reuniões.

Às 06:30 da manhã, Laëtitia Romeiro Dias, candidata do movimento A República em Marcha!, do Presidente Emmanuel Macron, começa pelas estações de comboio, como na gare de Breuillet-Bruyères-le-Chatel, em frente ao café português "Le Bocage".

Atrás do balcão do café, a lusodescendente Aurélie Machado ficou surpreendida por haver dois apelidos portugueses na corrida eleitoral na sua terra, mas disse à Lusa que vai votar em branco "porque não gosta nem de Macron nem de Mélenchon" e costuma votar na Frente Nacional.

Para a jurista Laëtitia Romeiro Dias, uma francesa casada com um lusodescendente e, por isso, com apelido português, "nada está ganho e é preciso continuar no terreno 'non stop' até sexta-feira à meia-noite".

"Estou confiante porque temos uma boa receção no terreno e as equipas de campanha estão mobilizadas. Mas há o risco de as pessoas não irem votar porque pensam que como ganhámos na primeira volta, vamos ganhar automaticamente na segunda. É preciso continuar a convencer toda a gente no terreno", indicou à Lusa a candidata de 36 anos, fã de pastéis de nata e de bacalhau à Brás, que vai a Portugal de férias há 18 anos, desde que conheceu o companheiro.

À imagem do resultado nacional do partido de Macron que venceu a primeira volta das legislativas com 32,32% dos votos - com as projeções a apontarem para a conquista histórica de entre 415 a 455 deputados num total de 577 - Laëtitia Romeiro Dias passou à segunda volta com 35%, enquanto Virginie Araújo, candidata de A França Insubmissa, da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon, obteve 13,74% dos votos.

"O resultado foi a confirmação de que os franceses apoiam o Presidente e o seu projeto, e a confirmação de que há uma vontade de renovação da classe política. Esta renovação foi incarnada pelos candidatos Em Marcha", considerou Laëtitia Romeiro Dias, acrescentando que nas feiras lhe dizem "bom dia em português" mas que o voto dos franco-portugueses vai ser decidido em função do "projeto e não do apelido".

Na feira da cidade de Dourdan, a 19 quilómetros de Breuillet, às 10:30, as duas candidatas cruzam-se a distribuir panfletos numa praça rodeada por um castelo medieval e uma igreja gótica, onde também se ouve falar português.

"Eles fazem todos boas promessas. Muito bem de o voto ser livre, só que depois a gente vota e eles fazem o que querem. Eles fazem as leis. Você vai dizer qualquer coisa que não está de acordo. Conhece a resposta, não conhece? Ah, isso não é culpa minha, vocês é que votaram, vocês é que me escolheram. E agora, a culpa é de quem? É de quem votou. Merci!", comentou Eduardo Candeia Ramos, de 78 anos, que não pode votar por não ter nacionalidade francesa.

Para Virginie Araújo, o emigrante de Grândola "tem razão" e mostra "a desconfiança em relação aos políticos", considerando que "a renovação" só pode ser incarnada pelos candidatos de A França Insubmissa já que a que foi prometida por Macron "não é nada uma renovação porque há muitos antigos eleitos, republicanos e socialistas".

"Hoje, os eleitores votam por alguém que afinal fez o contrário do que prometia. É por isso que tivemos 50% de abstenção. É um falhanço da democracia. É preciso mudar as instituições e que as pessoas sejam representadas. Nós defendemos a destituição de um eleito. Se ele não fizer o seu trabalho, os eleitores podem mandá-lo embora através de um referendo. Eu não sou política profissional, não faço política para encher os bolsos", defendeu a lusodescendente de 32 anos.

Virginie Araújo e Laëtitia Romeiro Dias estão a dar os primeiros passos na política, são oriundas da sociedade civil e não tiveram qualquer mandato local, estando dispostas a deixar o seu trabalho para se dedicarem "a tempo inteiro" ao papel de deputadas, algo que não incomoda Sérgio Romeiro Dias, marido de Laëtitia, que vai votar na esposa no próximo domingo.

"Como eu sempre dediquei tudo à minha família, disse é agora ou nunca (...) A Laëtitia está no movimento [Em Marcha!] há mais de um ano e a gente teve de refletir se a família podia apoiar e ajudar o movimento e a Laëtitia", contou o enfermeiro franco-português, acompanhado pelos filhos de três e seis anos que vieram ter com a mãe em dia de campanha.

Para Laëtitia, a diferença com a adversária passa por "um programa que tem a adesão dos franceses e uma posição que vai além do comentário e das críticas", enquanto para Virginie a diferença é que A França Insubmissa quer "fazer um grupo de alternativa ecologista e humanista, o que não é de todo a proposta da candidata de Emmanuel Macron".

Virginie entrou na política graças a uma mãe sindicalista francesa e a um pai que emigrou de Braga para Breuillet com a família quando tinha apenas 11 anos, sublinhando que também pode representar os portugueses no parlamento, ainda que queira ser uma voz para todos os cidadãos, sejam de origem portuguesa ou não".

A lusodescendente também acredita que pode ser eleita no próximo domingo, recebeu um email de Jean-Luc Mélenchon a felicitá-la por ter passado à segunda volta e vai intensificar as ações de "contacto direto com as pessoas" para conquistar um assento parlamentar.

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