Fracasso político
O PS e António Costa tiveram o privilégio de receber dos portugueses uma maioria absoluta nas últimas eleições legislativas. Algo inusitada, e numa contenda em que o desfecho se antevia diferente, o partido no poder renovou e melhorou as suas condições de governabilidade, libertando-se da tensão com os partidos à sua esquerda.
O primeiro-ministro anunciou uma maioria dialogante, percebendo que arrasou por completo nas urnas aqueles que o tinham "salvado" em 2015.
A verdade é que António Costa já nos mostrou várias faces, demonstrando que hoje, infelizmente, quem Governa com coragem reformista é penalizado em relação "a quem se adapta". António Costa nunca quis correr.
Sem prejuízo do debate dos próximos meses, podemos já abordar o legado destes últimos 8 anos e como sai o país deste ciclo político.
A maioria absoluta nunca chegou a ser uma maioria social e este PM nunca foi propriamente amado no seu partido. Tivemos, inclusive, a originalidade de ter um chefe de Governo quase que desafiado por alguém que, legitimamente, tem a ambição de liderar o país, mas que não deixou o ciclo político terminar para o anunciar. O PS nunca se atrapalhou com o cenário, antes parecia confortável com a situação de ter um PM e um futuro PM. Uma originalidade.
Tivemos, portanto, de tudo um pouco. Um prato político cheio, com diversas polémicas e a funcionalização do Governo, mostrando a incapacidade para atrair governantes na sociedade civil, na academia, fora dos partidos.
Nada disto seria um problema se a dinâmica governativa trouxesse consigo uma agenda de desenvolvimento para o país. Pelo contrário assistimos aos Governos mais inoperantes e situacionistas de que há memória.
A política das contas certas e a subida do salário mínimo nacional não devem esconder que António Costa geriu a coisa pública dia a dia, recorrendo não raras vezes à desculpa pandémica, ao sabor do que entendia mais eficaz para conservar o poder. E não é para isso que serve o poder e as maiorias absolutas.
Ora vejamos:
Os propalados criadores do SNS deixaram uma guerra aberta com os profissionais de saúde. Pagamos o preço da incompetência gestionária e de um envelhecimento da população que requer estratégia. A mesma que não existe para preservar o Estado Social - não foi dado um passo para proteger a sustentabilidade da Segurança Social.
Um PS que quis o apoio dos professores, mas que fica marcado pelo período de maior degradação da escola pública. Uma governação sempre em choque, professores em luta, alunos em casa, futuro incerto. Colégios privados a bater recordes de procura e inscrição.
Uma agenda para a habitação 8 anos depois de chegarem ao Governo e à boleia do enorme bolo monetário europeu disponível. O resultado? Apenas com o anúncio de medidas criaram pânico no mercado. All in: arrendatários, senhorios, investidores, empresários do AL, proprietários. Tudo em polvorosa.
TAP. Recuperar soberania, poder de decisão, proteger "as caravelas", manter a diáspora. No final, mais de 3000 milhões de euros para deixar a empresa "comprável", financeiramente fit, e apetecível para privados. Uma espécie de novo banco com asas.
Degradação dos serviços públicos e impostos em máximos, com a desculpa, repetida à exaustão, do pleno emprego e receita na Segurança Social. A correlação deveria ser inversa. Mais impostos arrecadados, melhor serviço prestado.
O tempo de balanços chegará em breve, mas podemos já adiantar que houve muita parra e pouca uva, muito foguetório político. Veremos que as condições que António Costa teve para governar dificilmente se repetirão - estabilidade e dinheiro - ainda assim deixa o sabor de país à deriva.
Para lá do fortíssimo spin socialista que se avizinha, há algo inegável: o legado desta governação não atinge só a degradação das instituições. Foi mesmo uma década perdida para Portugal.
Deputado PSD