Fracasso ameaça Cimeira de Cancún

Prolongamento do Protocolo de Quioto para lá de 2012 está em risco devido à posição do Japão.
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A meio da Cimeira do Clima, que está a decorrer em Cancún, no México, até final da próxima semana, a balança parece pender perigosamente para mais um fracasso - Copenhaga ainda paira na memória -, mesmo em relação aos mínimos que já se esperavam desta Conferência da Partes da Convenção das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, ou COP16.

Em risco está o compromisso necessário para o prolongamento do Protocolo de Quioto, que termina em 2012, e que é actualmente o único instrumento com metas definidas de redução de emissões de gases com efeito de estufa para combater as alterações climáticas. Curiosamente, é o Japão, que albergou em 1997, a cimeira que viu nascer o protocolo, que está nesta altura a tentar travar a aprovação de um segundo período de cumprimento de Quioto, para lá de 2012.

"Existe aqui nesta altura um sentimento muito negativo e preocupante em relação a esta questão, devido à atitude do Japão, que logo na primeira sessão plenária afirmou não estar disposto ao prolongamento do protocolo", confirmou ao DN Francisco Ferreira, da Quercus, que acompanha em Cancún o desenrolar dos trabalhos.

Será na fase política da cimeira, que deverá contar com a presença de várias dezenas de ministros do ambiente (é o caso de Portugal com a ministra Dulce Pássaro) e cerca de 30 chefes de Estado, e que se inicia na próxima terça-feira, dia 7, que tudo vai decidir-se, e é possível que o Japão ainda mude a intenção. "Já aconteceu numa das outras cimeiras, em Bona, que o Japão teve exactamente a mesma atitude de início e depois alterou a sua posição", lembra Francisco Ferreira.

Se assim acontecer, e se o documento final desta cimeira mencionar esse segundo período do Protocolo de Quioto (para lá de 2012), e se estabelecer também as fundações para a aprovação de um acordo global de redução de emissões na próxima COP, em Joanesburgo, na África do Sul, em Dezembro de 2011, então esta COP 16 terá atingido os seus principais objectivos. Mas esse cenário é para já muito remoto.

Mas não são apenas estas duas grandes questões que estão em debate em Cancún. Em cima da mesa estão também um acordo sobre as florestas enquanto sumidouro de gases com efeito de estufa e também a operacionalização do Fundo Climático, que se destina a apoiar nos países em desenvolvimento acções de adaptação aos impactos das alterações climáticas.

E estas duas questões, afirmou ontem o ministro mexicano do ambiente Rafael Elvira, "serão objecto de acordo" em Cancún.

Rafael Elvira fez a afirmação em resposta ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, que esta semana declarou que esta cimeira "não vai dar nada", uma vez que "nenhum chefe de Estado lá estará, apenas ministros do Ambiente, na melhor das hipóteses", de acordo com a AFP.

"À partida, esperamos dois acordos, um sobre a adaptação às alterações climáticas e sobre a protecção das florestas, e outro sobre um fundo de financiamento", contrapôs o ministro do Ambiente mexicano.

A meio da cimeira, as posições definem-se. Ontem mesmo, a organização Alba, a Aliança bolivariana para as Américas, declarou que sem um compromisso dos países industrializados no prolongamento do Protocolo de Quioto, "será muito difícil" chegar a um acordo global.

Este acordo global, para a redução das emissões por parte de todos - e não apenas dos industrializados que estão vinculados ao Protocolo de Quioto, à excepção dos Estados Unidos - exigirá negociações que englobem também os países em desenvolvimento. E estes esperam contrapartidas.

Para levar estas negociações a bom termo, a Índia indicou estar disponível para fazer a ponte entre o mundo rico e o mundo pobre.

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