Fraca procura coloca em dúvida estreia em bolsa da Science4You

O mau momento nas bolsas, devido à guerra comercial EUA/China e ao Brexit, pode tirar o tapete à Science4You, que pretende entrar em bolsa no dia 21 de dezembro.
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A estreia da Science4You em bolsa está em dúvida. A fraca procura por parte de investidores na oferta que a empresa tem em marcha pode deitar por terra a ambição da retalhista de brinquedos didáticos de vir a entrar em bolsa a 21 de dezembro.

Depois de um arranque animador da oferta, na semana passada foi um "murro no estômago" para Miguel Pina Martins, acionista fundador e presidente executivo da empresa. Uma onda de vendas atingiu as bolsas e afastou muitos investidores do mercado de ações. Exemplo disso é o cancelamento do aumento de capital da Vista Alegre nesta terça-feira.

"Estamos sujeitos ao que acontece nos mercados. Não somos diferentes da Vista Alegre nem da Sonae MC [que foi obrigada a desistir da sua OPV, em meados de outubro, precisamente pelas más condições do mercado]. Mas acreditamos que é ainda possível fazer esta operação", afirmou Miguel Pina Martins, acionista e presidente executivo da Science4You, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo.

Na semana passada, o PSI 20 perdeu 1,58%, o índice norte-americano S&P 500 caiu 4,61% e o Stoxx 600, que reúne as 600 empresas mais importantes do Velho Continente, recuou 3,36%, com os investidores a afastarem-se das ações devido aos receios gerados pelo impasse no Brexit e ao adensar do clima de guerra comercial entre os EUA e a China.

"Os últimos dias são fundamentais. Tenho a expectativa de que ainda vai ser possível fazer a operação. Não estamos mortos, nem de perto nem de longe", adiantou Miguel Pina Martins.

Se a oferta da Science4You cair por terra, será a terceira operação a falhar na bolsa português no espaço de apenas dois meses, depois do recuo da Sonae MC e do cancelamento da Vista Alegre.

A Science4You pretende encaixar até 15 milhões de euros em duas operações: uma oferta pública de venda de até 2 755 102 ações e uma oferta pública de subscrição de até 3 367 346 ações, representativas, respetivamente, de 19,85% e de 24,26% do capital social da empresa. As operações avaliam a empresa de brinquedos didáticos entre 25 e 34 milhões de euros, dependendo do resultado das ofertas.

Para que a oferta da Science4You tenha sucesso, precisam de ficar colocadas, pelo menos, 2 040 817 ações. O apuramento e a divulgação dos resultados da oferta será feito pela Euronext em sessão especial no dia 17 de dezembro, estando prevista a admissão à negociação das ações no Euronext Growth no dia 21.

"Se não alcançar o valor mínimo, a operação é automaticamente cancelada, faz parte do que está definido no prospeto da oferta pública de distribuição", disse fonte oficial da empresa. "Até ao valor de cinco milhões [ações] é dada prioridade à venda por parte dos acionistas, a partir deste valor é a par e passo com o aumento de capital".

Oferta com objetivo definido

A Science4You pretende financiar-se para apostar na área de comércio eletrónico. "O aumento de capital visa a obtenção de fundos para financiamento da estratégia de negócio da emitente, através do reforço do seu capital social, financiamento da sua atividade geral e de investimentos futuros, nomeadamente tendo em vista a prossecução do processo de internacionalização e um modelo de negócio focado no e-commerce".

O Montepio Investimento é o coordenador global da operação. São acionistas da empresa o Millennium Fundo de Capitalização, com 28,18% do capital, Miguel Martins, com 27,24% e a Portugal Ventures, que através de diversos veículos detém 34,88%.

Após conclusão da oferta, e assumindo a integral subscrição do aumento de capital, o acionista fundador, os Fundos PV e o MFC irão deter 50,37% do capital social da emitente e, consequentemente, dos direitos de voto, pelo que irão manter a sua posição de controlo conjunto.

A oferta pressupõe um período de lock-up, em que os investidores não poderão vender as ações.

O período de subscrição arrancou a 28 de novembro de 2018 e termina às 15.00 do dia 14 de dezembro de 2018.

146 ofertas canceladas em todo o mundo

O cancelamento de ofertas em bolsa não tem ocorrido apenas em Portugal. Várias empresas têm recuado nas suas operações em outros mercados. Entre janeiro e novembro, de acordo com dados da agência Bloomberg, foram canceladas 146 emissões, sobretudo IPO, em todo o mundo.

Na Europa foram mais de 40. Os dados da Dealogic, plataforma de dados da área de mercados financeiros, divulgados em outubro, indicam que foram canceladas 41 emissões na Europa, praticamente o dobro do que aconteceu em 2017. E só no segundo semestre, das 11 desistências de IPO que se realizaram, oito ocorreram precisamente em outubro. A volatilidade que têm vivido os mercados financeiros, e também o desempenho que algumas empresas têm apresentado após a entrada em bolsa, podem ajudar a explicar a falta de entusiasmo dos investidores.

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