Forte de São Filipe reabre com feira quinhentista
Músicos, dançarinos, malabaristas, comes e bebes e gente com arte em manusear a espada. Todos juntos dão as boas-vindas à reabertura do Forte de São Filipe, na serra da Arrábida, sobranceiro ao rio Sado. Estava fechado desde novembro de 2014 devido a problemas estruturais. A pousada, inaugurada em 1965 e que dispunha de 16 quartos, continua encerrada à espera das obras de consolidação da própria serra, que poderão demorar cerca de dois anos.
A Câmara Municipal de Setúbal quis anunciar, alto e bom som, que tinha voltado a abrir as portas de um dos seus maiores ex-líbris, monumento nacional desde 1933, e não fez por menos: recuou até final do século XVI para invocar a chegada do rei Filipe I à cidade, onde havia de mandar construir a célebre fortificação. O Mercado Quinhentista conta toda a história até amanhã.
É na estrada de acesso ao interior do forte, mas já dentro das muralhas, que o Mercado Quinhentista começa por fazer a invocação histórica. Chega Giraldo Pimpão, contador de histórias do Reino de Portugal, a puxar o carreto pelo povoado rural. "Trago aqui as coisas para fazer a função", justifica-se a plenos pulmões, achando estranho aqueles óculos - "lunetes", como lhe chama - escuros que duas senhoras que ali passam usam. "Como é que conseguem ver por ali", questiona-se, enquanto o cheiro a pernil assado desfila entre as dezenas de barracas em hora de lanche.
É Jorge Batista quem lhe dá o retoque final sobre as brasas e tenta apurar a sopa da pedra, entre chouriços e queijos, enquanto na tenda ao lado o porco no espeto está no ponto e João Neves "saca" da faca que o vai cortar em finas tiras. Não faltam as tradicionais exposições temáticas.
Há para ver ferramentas e utensílios rurais, instrumentos musicais medievais, caligrafia e iluminura da época. Também por lá se encontra uma mostra de armas e de jogos de tabuleiro típicos da época. Para a noite anunciam-se espetáculos de fogo e dança inspiração naquele século. As aves de rapina estão preparadas para o voo livre. Já no túnel de acesso ao topo do forte está em exibição a exposição Tortura Medieval, que expõe instrumentos e aparatos utilizados nas práticas de tortura durante a Idade Média.
Mas quem quiser saber como foi feita em tempos a guarnição do forte tem de subir lá cima, à zona do bar, onde a vista se perde entre Troia e o oceano. Por ali estão os soldados que zelavam pela segurança da fortificação, agora em posição mais descontraída atrás da mesa onde repousam espadas e escudos antes de mais uma luta, além de proteções de cabeça (capacetes é nome recente), couraças e armas de choque. "Toda a panóplia que era usada pelo homem da época, nobre ou não", explicava o mestre João Maia, rodeado de curiosos.
"As pessoas estavam desejando poder voltar a usufruir deste espaço e achámos que esta feira se ajustava à sua reabertura", explicava Fernanda Correia, do departamento de Turismo da autarquia, anunciando mais iniciativas para breve. "Tanto de cariz cultural como musical, turístico ou promocional. É preciso vivenciar o forte", sublinhava, depois de uma longa caminhada do município para conseguir devolver o Forte de São Filipe ao turismo da terra.
Tinha sido encerrado há três anos (a 1 de novembro de 2014 ), por perigo de derrocada. O alerta vermelho foi dado em 2011 pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), tendo os técnicos identificado nas encostas dos castelos de São Filipe e de Palmela um cenário de "elevado risco". Foi mesmo admitido a ocorrência de "um acidente particularmente grave, com eventual perda de vidas humanas e de equipamentos, no caso de se verificar um sismo ou um período de chuvas intensas e prolongadas".
Foi pedida a realização de obras de estabilização para devolver a segurança e a resposta foi dada há cerca de um ano com garantia de que as autarquias de Setúbal e Palmela iriam deitar mãos à obra com um orçamento total de 5,8 milhões de euros para consolidar a serra da Arrábida. Mas a câmara sadina quis ir mais longe e viria a aprovar a celebração de um contrato de comodato com o Grupo Pestana para reativar o bar e esplanada da pousada e uso das casas de banho. São espaços que estão afastados dos locais alvo de trabalhos de consolidação.