Força Aérea cria plano para rentabilizar aeroporto de Figo Maduro
Após anos sem gastar um tostão na manutenção das suas instalações no aeroporto de Lisboa, a Força Aérea investiu milhares de euros nos últimos dois anos para as recuperar e tornar apresentáveis. Agora aposta em rentabilizar o espaço e, por essa via, obter receitas adicionais.
Um dos exemplos é o do aluguer de espaço no hangar do Aeródromo de Trânsito n.º 1 (AT1), que renderá perto de um milhão de euros, para a companhia aérea White reparar o trem de aterragem de um dos seus aviões, admitiu ao DN o comandante da unidade militar, coronel Rui Campos.
O aparelho da White, dadas as limitações de espaço existentes no Aeroporto Humberto Delgado e que se estendem às oficinas e placas de parqueamento de aviões, está desde novembro passado no hangar do AT1 - donde sai no final deste mês.
"A Força Aérea estabeleceu um valor diário que é cobrado à empresa pela utilização do espaço", o qual "já foi usado por outras companhias", disse o ramo ao DN, acrescentando que "com o período de ocupação do exemplo em apreço é caso isolado".
A viver com fortes restrições financeiras, o ramo procura assim rentabilizar o espaço do AT1 enquanto não avançam as alterações decorrentes da futura utilização da base do Montijo como espaço complementar do aeroporto de Lisboa - a exemplo do que está prestes a concretizar-se nas instalações da base aérea de Beja (ver caixa).
Certo é que, enquanto não chega o dia da mudança de instalações (ver texto ao lado), a Força Aérea tem na mesa projetos de protocolos a estabelecer com a gestora privada do aeroporto de Lisboa e com a companhia aérea Ryanair.
Segundo o coronel Rui Campos, no primeiro caso trata-se de renegociar um acordo antigo de cedência de espaço na placa militar para parqueamento de aviões civis, tendo como contrapartida os serviços aeroportuários fornecidos pelo aeroporto - bombeiros, por exemplo - à operação das aeronaves militares. "Isso fazia sentido quando a ANA era pública, mas os tempos evoluíram, as condições mudaram", sublinhou um oficial do ramo, sob anonimato por não estar autorizado a falar do tema.
O ramo assumiu que, devido à "alteração do estatuto da empresa" que gere o Humberto Delgado, "a Força Aérea considera que o protocolo deve ser renegociado". Atualmente "existe um protocolo que na prática permite o parqueamento, mediante autorização prévia do comando, de até três aeronaves" de pequena dimensão "por períodos que em regra não ultrapassem os três a quatro dias", disse fonte oficial. "Em contrapartida, a ANA presta serviço de bombeiros bem como outros apoios logísticos pontuais", acrescentou.
Note-se que a condicionante do espaço disponível no Figo Maduro para utilização civil já inviabilizou o alugar de áreas dentro do hangar a outras empresas aeronáuticas, pois só é possível fazê-lo para um avião de cada vez - e tem estado ocupado pelo referido aparelho da White. A razão é que é nesse mesmo local que ficam estacionados os Falcon 50, onde agora também é feita a manutenção que estava a cargo da OGMA, referiu o comandante do AT1.
Quanto ao acordo com a Ryanair, Rui Campos explicou que abrange os autocarros de passageiros que esta companhia aérea usa no aeroporto. Sem espaço na área civil e confrontada com as dificuldades logísticas e de segurança associadas à deslocação daquelas viaturas para o exterior da zona aeroportuária, a empresa irlandesa requereu a cedência de espaço oficial sobrante no AT1 a fim de ali realizar as necessárias operações de manutenção e reparação.
A Força Aérea precisou que "não existe acordo formal" com a Ryanair. "O comando do AT1 autorizou a cedência do espaço de garagem somente para reparações urgentes e desde que haja disponibilidade." Mas "quanto a valores não existe nenhum montante estipulado e cobrado" até agora, referiu o ramo.