Fora do armário depois do êxito global

Ricky Martin admitiu recentemente  a sua homossexualidade, mas é apenas mais um dos nomes da música  que optaram por sair do armário  num período tardio da sua carreira
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Nos Menudo, Ricky Martin foi parte do período áureo da boy band que se tornou o modelo a adoptar por grupos como os Backstreet Boys ou os N'Sync (dos quais Justin Timberlake fez parte) para alcançar o estrelato internacional.

Em 1999, quase uma década depois de se afirmar uma vedeta a solo na América Latina, Ricky Martin tornou-se um sucesso crossover nos mercados americano e europeu com o êxito Livin' La Vida Loca (1998), que abriu as portas do público anglo-saxónico a artis-tas já célebres no espaço latino-americano como Jennifer Lopez, Marc Anthony ou Enrique Iglesias. Simultaneamente ao sucesso de Livin' La Vida Loca, e devido ao vasto grupo de seguidores que reuniu na comunidade gay, Ricky Martin foi quase imediatamente questionado acerca da sua orientação sexual. O cantor e intérprete negou, na altura, rumores acerca da sua homossexualidade, e a polémica dissipou--se com o anúncio do noivado (entretanto cancelado) com a apresentadora de televisão mexicana Rebecca de Alba.

Porém, no mês passado, Ricky Martin veio a público declarar a sua homossexuali-dade, 11 anos depois de se ter recusado a pronunciar-se sobre o assunto à entrevistadora Barbara Walters.

Ricky Martin é apenas mais um músico a "sair do armário" depois do auge da sua carreira. Elton John, George Michael ou Boy George foram outros músicos, agora considerados referências da comunidade gay, que se abstiveram de se pronunciar acerca das respectivas orientações sexuais durante décadas, talvez por receio de prejudicar as respectivas carreiras, ou por reservas quanto à exposição mediática que o assunto reúne invariavelmente.

Na verdade, movimentos assentes inicialmente numa estética andrógina, como o glam rock ou o movimento neo-romântico do início dos anos 80, fizeram-se notar precisamente pela indefinição quanto às conotações sexuais associadas à imagem dos músicos. O glam de Marc Bolan ou de David Bowie sob o alter ego Ziggy Stardust, por toda a dualidade sexual e identitária que representava, estava firmemente plantado no universo rock 'n' roll que movia multidões junto do público adolescente.

Décadas depois, a sofisticação pop electrónica de bandas como os Erasure ou os Pet Shop Boys assentava mais no núcleo emocional das composições do que em tomadas óbvias de posição ou numa estética abertamente gay. Ao mesmo tempo, em Smalltown Boy ou Why? (1984), coroas de louros dos Bronski Beat revelara-se uma forma diferente de estar na pop. Directa e sem segundos sentidos (o seu álbum chamava-se, inclusivamente, The Age of Consent). A androginia de Boy George, dos Culture Club, foi também nos anos 80 tão importante para o sucesso do grupo junto do público como a melodia de Do You Really Want to Hurt Me?.

No caso de Ricky Martin, que alcançou o estrelato global no final da década de 90, talvez a sua homossexualidade, a ser revelada na altura, se demonstrasse irrelevante, mas a história mostra que o público prefere a ambiguidade.

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