Foi instalar Páginas Amarelas no Quénia e ficou 21 anos

José Saldanha é o português há mais tempo no Quénia, onde chegou há duas décadas, para ajudar a Portugal Telecom a criar as Páginas Amarelas no país dos "safaris bonitos", que vai a votos na segunda-feira.
Publicado a
Atualizado a

Aos 42 anos, José Saldanha decidiu ir pelos seus dedos até ao Quénia. "Estava bem", era diretor geral da Time Sharing, mas a Portugal Telecom -- Sistemas de Informação (PT-SI) lançou-lhe o "desafio" de ir trabalhar para Nairobi, com um contrato de dois anos.

Hesitou, mas a mulher, criada em Angola, incentivou-o a partirem juntos, e com os dois filhos, na aventura africana. Corria o ano de 1992 e o "desafio" era instalar no Quénia as Páginas Amarelas -- "exatamente com o mesmo conceito" da versão portuguesa.

A primeira lista telefónica nasceu em dezembro de 1992 e, desde essa altura, já foram publicadas duas dezenas de edições do diretório anual.

Hoje, passadas mais de duas décadas, a empresa Kenya Postel Directories -- 'joint venture' da Directel, subsidiária da PT, e da local Telkom Kenya -- é apresentada como "caso de sucesso".

O projeto é "sustentável" e tem tido "resultados positivos", diz José Saldanha, administrador delegado da Kenya Postel Directories, sem esconder as "dificuldades" e enumerando os "grandes desafios" trazidos com a Internet, que obrigaram à procura de novas receitas e à aposta em novos formatos.

"Temos que fazer uma viragem para acompanhar uma população de 45 milhões, que tem 20 milhões de telemóveis", constata o gestor.

Com ou sem Internet, as equipas de vendas da Kenya Postel Directories continuam a percorrer cidades para vender espaços de publicidade nas três listas de Páginas Amarelas do país -- Nairobi (capital), Inland (Interior) e Coast (Costa).

Em África, as Páginas Amarelas existem em Moçambique, Angola e Cabo Verde, e as pessoas vão pelos seus dedos como noutro sítio qualquer, procurando "o que precisam", resume José Saldanha.

"Estranhamente, num país de língua inglesa, é um português que faz as Páginas Amarelas", aponta, reconhecendo, porém, que as "tentativas de replicar" o projeto noutros países vizinhos falharam.

José Saldanha aprecia a forma de trabalhar no "país de língua inglesa, com cultura inglesa", onde os funcionários "são extremamente responsáveis".

"Tenho a melhor das impressões das pessoas do Quénia a trabalhar, cumpre-se horários, (...) as reuniões começam quando combinamos, andamos sempre de gravata. (...) É muito formal, cumprimentamo-nos de passou-bem, não damos beijinho", diz.

No que respeita ao ambiente social, José Saldanha destaca "uma emergente classe média", que não impede, porém, que o hiato entre "gente muito rica e gente muito pobre" esteja "a aumentar".

A viver há mais de 20 anos no Quénia, o gestor de 63 anos continua a achar África "um bocadinho agitada".

Aparte as "facetas fantásticas" e os "safaris bonitos", a vida em Nairobi "não é fácil" e "há que ter segurança em casa".

O "roubo é uma coisa muito comum" e mais "violento" do que em Portugal, compara, recordando que o medo do terrorismo está igualmente presente, forçando os edifícios a segurança máxima e os carros e as pessoas a "cansativas" vistorias.

Pedindo desculpa por, às vezes, deixar escapar muletas linguísticas de "emigrante", José Saldanha desabafa que, 20 anos de Quénia depois, aprendeu "a gostar mais de Portugal", e que vai voltar, "com certeza", mas "não tão depressa".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt