Foi fotógrafo de casamentos e batizados para pagar o curso
"O Camilo costuma dizer que eu lhe meti o bichinho da rádio e a TV veio por arrasto", solta Júlia Pinheiro. Há quase trinta anos, quando a apresentadora conduzia as tardes da Rádio Renascença, precisou de um jornalista para falar de questões económicas. "Foi a estreia dele e descodificou tão bem o "economês" que ficou." Mais tarde, já em As Tardes da Júlia, na TVI, lembrou-se novamente de Camilo Lourenço. "Ele é um pedagogo da coisa e as pessoas gostam do seu raciocínio desgrenhado." Júlia Pinheiro conta ainda que o jornalista costumava levar para o estúdio o filho José Maria, que está quase a fazer 4 anos. "Nessa altura era bebé e tornou-se na nossa mascote", recorda.
Até chegar à rádio e à TV, Camilo fez um pouco de tudo porque os pais não tinham dinheiro para pagar os estudos dos filhos. "Na adolescência, e enquanto frequentava o secundário, trabalhei no campo, nas estradas a meter alcatrão e numa fábrica de bolos", lembra Camilo Lourenço. Quando entrou para a Faculdade de Direito os fins de semana eram passados a trabalhar. "Fotografava casamentos e batizados. Mas não só, também corria o país a fazer inquéritos para a Marktest", conta.
Ainda durante o secundário deu explicações de inglês a Mário Rolla, filho do cônsul italiano em Portugal. "Era pontual e não dava hipóteses a brincadeiras. Aprendi com ele a metodologia de estudo e de trabalho." Depois das explicações, Camilo espreitava a biblioteca do pai de Mário Rolla. "Ele devorava livros e o meu pai tinha largas dezenas deles. Deve tê-los lido quase todos".
Mudava muito de namorada
Ana Maria Ribeiro, advogada, foi colega de curso de Camilo Lourenço. "Fomos apresentados através de uma amiga comum e como ele já percebia muito de economia e eu não, explicava-me o que para mim eram questões ocultas", lembra. Nas aulas, dava nas vistas "por ser inteligente, seguro, confiante, falar bem e ser muito interventivo". Na época, recorda, destacava-se também pela imagem. "Era muito magrinho, tinha mais cabelo e usava barba." A elegância não tinha a ver com qualquer dieta. "A comida da cantina não era muito boa, se bem que ele tinha um tratamento especial por parte das senhoras da cantina".
Apesar de nessa altura não se vestir como hoje, Camilo Lourenço já gostava de seguir as tendências da moda. "Costumava usar um sobretudo verde, que ficou conhecido como o sobretudo à Freitas do Amaral." Entre as colegas da Faculdade fazia sucesso. "É um sedutor e sabe conquistar. Durante o curso conheci-lhe várias namoradas", revela Ana Maria Ribeiro.
O especialista em economia casou-se uma única vez, embora esteja agora divorciado, e tem dois filhos, Maria Carolina, de 9 anos, e José Maria, de quase quatro. "É um pai muito preocupado e acompanha a vida dos filhos", conta a irmã Clara Lourenço. E acrescenta: "Ele é muito poupado, não é de luxos e extravagâncias, gere bem as suas finanças e tenta incutir isso nos filhos."
Camilo Lourenço nasceu em Goa, Índia, onde o pai (José Maria) era militar e conheceu a mãe (Maria Telma). Quando tinha apenas 2 anos a família veio para Portugal e instalou-se no Vale de Santarém. Algum tempo depois os pais mudaram-se para Moçambique. "Tivemos uma infância muito feliz, brincávamos na rua às escondidas e subíamos às árvores", lembra a irmã do jornalista.
Durante umas férias em Goa, Camilo Lourenço acompanhou a avó materna, Clara Menezes, professora e poetiza, a várias sessões literárias e a outros eventos. "Herdou da avó a paixão pelos livros e tornou-se um estudante compulsivo e brilhante. Fez um curso de dois meses na Columbia University e uma especialização em jornalismo financeiro na University of Michigan."
Quando a família regressou de Moçambique, Camilo Lourenço, com 17 anos, a irmã e o irmão José viveram durante dois anos na Covilhã. Instalaram-se depois no Algarve, onde a mãe, com 83 anos, ainda vive. "É uma referência para Vila Real de Santo António", diz, orgulhosa, Clara Lourenço, professora do ensino especial. Aliás, é na escola onde dá aulas que Clara ouve elogios ao irmão. "Há dias, na cantina, disse à funcionária que não queria a fatura do almoço e ela respondeu-me: "Olhe que não é isso que o seu irmão diz. Ele recomenda pedir sempre a fatura"", conta.
As dicas que Camilo dá na televisão também são seguidas pela colegas da irmã. "Houve uma que me disse "já não uso o cartão do multibanco para pagar as compras. Faço-o com dinheiro"", ri-se Clara Lourenço.
É colecionador de relógios
Clara Lourenço diz que o irmão é um bom garfo. "Gosta de picanha, sushi, caril e muamba de galinha". Como curiosidade, conta que ele "não gosta de sujar as mãos a comer marisco e, por isso, come camarão de faca e garfo". Para manter a forma sempre fez desporto. "Jogou ténis enquanto viveu no Algarve e depois dedicou-se ao golfe."
Entre outras curiosidades, conta ainda que o irmão, em criança, "tinha medo das trovoadas". Foi fumador, mas desde "há 25 anos que deixou o tabaco de lado". O único vício que lhe conhece "é o trabalho" e "colecionar relógios". Clara revela ainda uma faceta que poucos lhe conhecem: "O meu irmão costuma fazer distribuição de comida aos sem-abrigo."
O jornalista, que já escreveu três livros, multiplica-se entre a RTP, como comentador de informação económica, pela Rádio M80, onde apresenta A Cor do Dinheiro", e pela TVI, onde conduz a rubrica Contas da TV, no programa Você na TV. Também dá aulas, e, segundo conta o próprio Camilo Lourenço à NTV, terminou há três meses de lecionar "a cadeira de Indústria do Desporto na Academia do Real Madrid".
A irmã revela que o segredo para fazer tantas coisas está em dormir tão pouco. "Quatro a cinco horas é suficiente para ele." Mário Fernando, jornalista da TSF, conheceu Camilo Lourenço no CM Rádio (onde este chegou pela mão de Rui Pêgo e por recomendação de Júlia Pinheiro) e garante que às sete da manhã, quando o programa arrancava, o especialista em economia estava "fresquíssimo e com boa disposição".
O jornalista da TSF recorda: "Não tinha experiência de rádio, mas aptidão para comunicar e esse era um dos seus trunfos. Além disso explicava as questões de forma simples e clara. Falava ao microfone como conversava com qualquer pessoa: de forma concreta e informal." Mário Fernando conclui: "Foi uma experiência boa. Se fosse agora, com a troika de volta a Portugal teríamos muito para discutir."
Camilo Lourenço passou por vários jornais e revistas, mas também esteve ligado ao Benfica, em 2003. "Quando saí da Exame fui porta-voz da campanha de Luís Filipe Vieira", recorda.