FLAD, uma ponte entre Portugal e os Estados Unidos

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Fizemos nesta semana 35 anos de existência enquanto fundação portuguesa dedicada a promover o desenvolvimento de Portugal, através da cooperação bilateral com os EUA. Tínhamos planeado uma série de eventos e iniciativas para comemorar a data, mas, como aconteceu a todos nós, a pandemia alterou tudo e obrigou-nos a repensar e reorganizar.

Mas o que é verdadeiramente importante é celebrar o muito que foi feito nestes anos e projetar o futuro que queremos ser.

Há 35 anos que a Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento (FLAD) é uma ponte entre Portugal e os Estados Unidos da América. Através da fundação, milhares de cientistas, investigadores, jornalistas, professores e artistas cruzaram o Atlântico para fazer estágios de investigação, doutoramentos e mestrados, participar em conferências, partilhar experiências. Foram criadas parcerias entre pessoas e instituições que perduram e que reforçam o papel de Portugal e dos portugueses no mundo. Por isso, ao celebrar este aniversário, é inevitável perguntarmo-nos como é que a FLAD, cuja missão implica movimento, contacto e proximidade, cumpre o seu propósito numa época de pandemia e isolamento.

Como todos, tivemos de nos reinventar e tentar encontrar novas formas de continuar a apoiar a ciência, a educação, a arte e as relações transatlânticas. E assumimos um compromisso importante: manter o apoio a todas as iniciativas que já tínhamos decidido apoiar, mesmo que agora sejam feitas de forma diferente ou apenas online.

Porque a FLAD é uma fundação portuguesa, consciente da sua responsabilidade social, optámos por redirecionar parte da nossa atividade para ajudar aqueles que o covid-19 tornou ainda mais vulneráveis. Contribuímos com 350 mil euros para a Rede de Emergência Alimentar do Banco Alimentar contra a Fome e integrámos o grupo de instituições que vão adquirir os ventiladores Atena, produzidos pelo CEiiA, que iremos doar ao Serviço Nacional de Saúde. Distribuímos ainda dez mil viseiras, produzidas pela portuguesa Iberomoldes, por médicos, profissionais de segurança, bombeiros e lares.

Num contexto em que o mundo está de olhos postos na ciência, considerámos também prioritário contribuir para a investigação científica. Daí surgiu o financiamento do BioBanco Covid-19, do Instituto de Medicina Molecular, que irá seguramente ajudar a entender melhor o comportamento deste vírus. E é igualmente nesta linha que a FLAD ajudou a promover a produção de testes covid-19 de forma autónoma no nosso país, ao lado da Hidrofer, do Algarve Biomedical Center, da Logoplaste e do Instituto Superior Técnico.

Nas quatro áreas a que nos dedicamos, acredito que o papel da FLAD deve ser premiar o mérito e o talento nacional e facilitar a aproximação entre os dois países, mesmo que essa ligação tenha de ser feita de formas menos presenciais.

Ainda ontem anunciámos o vencedor do FLAD Science Award Atlantic, o cientista Rui Seabra, da Universidade do Porto, que vai estudar o impacto das alterações climáticas na biodiversidade do Atlântico, numa investigação complexa e ambiciosa que poderá mudar a forma como olhamos para este oceano.

Na educação, estamos a aproveitar este tempo de menor mobilidade para reforçar parcerias com instituições portuguesas e norte-americanas e renovar a estratégia do nosso programa Study in Portugal Network, que já trouxe mais de mil alunos americanos para universidades portuguesas. Acredito que Portugal continuará a ser um local atrativo para os estudantes dos EUA e é fundamental estarmos preparados para responder às suas necessidades num cenário pós-pandemia. E retomaremos, logo que possível, as bolsas para professores visitantes nas universidades de Brown e Georgetown, cujo papel no reforço da importância de Portugal no contexto académico americano é inestimável.

No final deste ano, e em parceria com o MAAT, iremos expor a coleção de arte contemporânea da FLAD. Uma coleção singular, que retrata a arte portuguesa das últimas três décadas, mas que integra a produção de jovens artistas que merecem toda a nossa atenção.
Vamos também no outono apresentar um ciclo de cinema americano independente em Lisboa, no Porto e, desejavelmente, nos Açores.

Continuaremos muito ligados à cultura nacional, nomeadamente nos Açores, mas também fora do território português. Nos Estados Unidos, a comunidade lusodescendente está profundamente ligada a Portugal e à cultura portuguesa: celebra as suas origens com sabores e músicas nacionais, cumpre tradições e defende um património que supera os limites da geografia.

Reforçar a voz da comunidade de ascendência portuguesa nos Estados Unidos é uma das prioridades da FLAD, no âmbito das relações transatlânticas. Por isso estamos ao lado do Instituto Camões na promoção da língua portuguesa - para que haja cada vez mais alunos, professores e investigadores de Português nos Estados Unidos - e mantemos um contacto muito regular e atento com os legisladores lusodescendentes, que cada vez mais se destacam da costa leste à costa oeste.

Queremos continuar a ser um espaço de debate e reflexão. Em junho, vamos dar início às nossas conferências What"s Next, reunindo através de plataformas online especialistas portugueses e americanos. Está também para breve o lançamento de um podcast sobre o impacto da relação Portugal-Estados Unidos nos últimos 35 anos, na política, na música, na economia e em tantas outras áreas.

A relação entre Portugal e os Estados Unidos da América é uma relação estrutural. As circunstâncias mudam, mas a relação permanece. Somos amigos, parceiros e aliados. E acreditamos na relação transatlântica como um pilar essencial da política externa portuguesa. Só em conjunto, trabalhando para reforçar a aliança atlântica, seremos capazes de enfrentar com sucesso as grandes questões do futuro, como as alterações climáticas ou os novos desafios de segurança.
A FLAD chega aos 35 anos com um importante legado, feito de pessoas e projetos que marcaram Portugal, mas celebra este aniversário com os olhos postos no futuro e no enorme potencial desta ligação atlântica.

Presidente da FLAD

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