Fitness em casa, realidade aumentada e tecnologia na mobília vão marcar 2021

Muita gente não vai querer regressar aos ginásios e o trabalho remoto continuará a a prevalecer, segundo o analista da IDC David Myhrer.
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Com uma campanha maciça de vacinação em curso, a expectativa é de que a pandemia de covid-19 seja controlada e haja um regresso a alguma normalidade. No entanto, tal não deverá acontecer na primeira metade do ano. É por isso que o analista David Myhrer, vice-presidente de pesquisa de estratégias de consumo na IDC, espera ver novidades ligadas ao "novo normal" a surgirem em 2021.

"Vamos ver o lançamento de gadgets desenhados para combinarem algumas das tendências a que temos assistido", disse o norte-americano ao DN. "As pessoas estão a passar muito tempo em casa e a preencherem-no com coisas como streaming de vídeo, videojogos, e estão mais abertas a abraçarem novos hábitos, como comprar mercearias online."

Uma das áreas que o analista destaca é a do exercício, que mudou radicalmente com o encerramento dos ginásios. "Estamos muito confiantes sobre o que vai acontecer nos wearables e no mercado do fitness", explicou.

Myhrer sublinhou a explosão de vendas da bicicleta estática Peloton, que tem associado um serviço de aulas virtuais e custa cerca de 1600 euros, e de outros sistemas inovadores como o Mirror, um espelho de exercício acima dos 1200 euros.

"Há uma necessidade de um mercado menos premium neste espaço", disse Myhrer, referindo que "muitas pessoas não preveem voltar a ir para os ginásios" e por isso vão querer sistemas inteligentes de fitness em casa que tenham preços mais apelativos.

O analista considerou que o novo serviço da Apple, Fitness+, terá bastante potencial. "A Apple tem um serviço único, que não exige comprar uma bicicleta estática de mil dólares", frisou. Apesar de requerer um Apple Watch, o Fitness+ permite às pessoas usarem os seus próprios equipamentos para fazerem os exercícios, a partir de vídeos de aulas lideradas por professores de fitness, com personalização e métricas precisas. "Antecipo que as aulas passem a ser ao vivo", disse Myhrer. "Esperamos que este se torne um mercado maciço."

O analista disse ainda ser provável que surja um serviço similar da Samsung ou outra, baseada no sistema operativo Android, para competir com o Apple Fitness+.

Outra das tendências detetadas é que muitos profissionais estão a investir do seu próprio bolso na aquisição de tecnologia profissional. "Há um esbatimento da linha entre o que é trabalho e o que é pessoal", referiu Myhrer. O analista prevê que mais empresas estarão dispostas a financiarem a compra de dispositivos tecnológicos que também serão usados para consumo pessoal dos trabalhadores.

Dentro da mesma linha, deverá surgir mobiliário com tecnologia integrada. "As pessoas estão a usar os quartos como escritórios e salas de aulas. Penso que vamos ver mais tecnologia embebida nas mobílias", afirmou Myhrer. O analista descreveu "mobília que é desenhada para ser flexível" e ao mesmo tempo útil neste contexto.

Outras áreas de foco serão comunicações e realidade aumentada. Myhrer acredita que surgirá em 2021 uma alternativa ao Zoom e Microsoft Teams. "Penso que surgirá uma aplicação de vídeo que seja mais amiga do consumidor e mais orientada como rede social", disse, frisando que "houve muitas queixas" no que toca à colaboração e ao sentimento de ligação na empresa.

"Toda a gente gosta de evitar o trânsito, mas é tudo muito mais planeado, não há nada que replique a dinâmica de ir beber um café e parar na secretária de um colega para trocar ideias." Segundo ele, uma solução poderá estar na realidade aumentada (ou até virtual). Estas "são áreas onde vamos ver muitas empresas a investir para tentar melhorar essa dinâmica e criar uma situação com altos níveis de envolvimento e colaboração."

Numa perspetiva estrutural, David Myhrer acredita que muitas empresas vão alterar a forma como contratam profissionais e os mantêm nos quadros. "Agora que as empresas viram o resultado do trabalho remoto, vão estar mais disponíveis para contratarem pessoas numa base de biscates", disse, referindo a "gig economy" que se popularizou com serviços como Uber e Airbnb. "Podem contratar trabalhadores altamente qualificados que têm a capacidade de trabalhar de forma remota. Será algo que veremos a mais longo prazo."

anarguerra@icloud.com

Ana Rita Guerra é correspondente em Los Angeles

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