Tal como têm avisado outras instituições, a agência de rating Fitch reafirmou ontem que um dos maiores perigos para as contas públicas e a economia portuguesa continua a residir nos bancos e no setor financeiro..A empresa está, em todo o caso, confiante na retoma no curto prazo e o seu cenário central, embora não aponte para um corte notável no défice público, projeta uma redução "significativa" do peso da dívida..Num estudo sobre os soberanos da Europa Ocidental, ontem divulgado, a Fitch, que em dezembro último subiu a nota da dívida da República em dois níveis, retirando-a de um nível especulativo (lixo), recorda esse passo decisivo.."A promoção do rating de Portugal para BBB reflete a redução do rácio da dívida pública, a sua trajetória de descida firme, o progresso em termos de desalavancagem [di- minuição da dívida] externa, o ajustamento orçamental significativo e a forte retoma cíclica.".No entanto, a Fitch, que fará nova avaliação ao rating português a 1 de junho, também repara nas fragilidades do país. Diz que a dívida externa líquida nacional vale quase 90% do produto interno bruto (PIB), um nível que é "elevado" quando comparado com os outros soberanos que também partilham o rating BBB..Os riscos relacionados com os bancos têm diminuído, mas "o rácio elevado de NPL [créditos improdutivos, malparado incluído] continua a ser um risco e um constrangimento potencial ao crescimento de médio prazo"..Nesse sentido, embora a Fitch reconheça que a conjuntura é positiva e permite ao setor bancário "uma normalização adicional", há uma "sensibilidade negativa" concreta: a eventual ocorrência de "um novo stress no setor financeiro que exija apoios públicos significativos e/ou que afete a estabilidade financeira e as perspetivas de crescimento" de Portugal..Não há muito tempo, Bruxelas reconheceu progressos orçamentais, mas criticou a lentidão na estabilização financeira do setor da Saúde e alertou para a persistência de problemas nos bancos por causa do malparado. Até enviou uma carta ao governo por causa disso. No estudo sobre os desequilíbrios macroeconómicos de Portugal, a Comissão Europeia acolheu os passos positivos para resolver o problema dos créditos improdutivos, que paralisam os bancos, arrasam com os resultados e correm os rácios de capital (é o caso do Novo Banco, que teve prejuízos enormes e vai ser novamente recapitalizado). Mas isso não chega..Bruxelas avisou que os bancos portugueses como um todo são dos menos lucrativos da Europa e dos menos capitalizados, apesar de todo o esforço dos últimos anos. O malparado pode estar a cair, mas o rácio de 14,6% do crédito total em más condições é o terceiro pior da Europa a seguir ao da Grécia e de Chipre..Para já, o cenário da Fitch aponta para um défice de 1,3% do PIB neste ano (o governo diz 0,7% no Programa de Estabilidade) e para um peso da dívida na ordem dos 123% (o governo diz 122,2%). A agência de rating vê a economia a crescer 2,2% em termos reais, menos uma décima face à nova projeção do governo (2,3%)..A Fitch está assim um pouco mais otimista do que estava em dezembro em relação ao cenário macro. Nessa altura, quando subiu o rating de Portugal, considerava que o crescimento seria de 1,9% em 2018 e o défice 1,4%.