Fim da austeridade na Europa se alemães formarem governo
Uma nova aposta na União Europeia é um dos compromissos mais importantes alcançados entre os conservadores de Angela Merkel e os sociais-democratas de Martin Schulz, que na segunda-feira se aproximaram de um acordo para formar um governo e tirar o país de um longo impasse. "Concluímos as discussões sobre a Europa e é opinião unânime que o nosso país apenas tem futuro numa Europa forte e unida. Estamos prontos para avançarmos para a Europa juntos", declarou o líder do SPD.
O acordo final entre os partidos, cujo prazo termina hoje, não está garantido. "Estamos na reta final, mas ainda não a cruzámos", comentou a vice-presidente da CDU, Julia Klöckner. Ontem à tarde, a dirigente adiantou, sem precisar, que ainda há "dois ou três" temas para fechar. Outro democrata-cristão, Volker Bouffier, mostrou confiança num acordo. "Talvez ainda precisemos de amanhã [hoje] de manhã", alvitrou.
Foi o próprio Martin Schulz quem anunciou o acordo para uma estratégia comum europeia da CDU/CSU e SPD. Um "orçamento de investimento para a zona euro" - uma proposta do presidente francês, Emmanuel Macron -, o fim da austeridade como política orçamental, fundos para combater o desemprego da juventude europeia, e a aplicação de "impostos justos" para as grandes empresas tecnológicas são medidas concretas a exportar para Bruxelas. Um pacto social para a Europa, o alargamento dos direitos dos trabalhadores europeus, o reforço dos poderes do Parlamento Europeu - um tema caro a Schulz, ex-presidente da instituição - e um debate público o mais participado possível para a reforma da União Europeia são outros temas a merecer acordo.
A AFP mostra prudência em relação à questão da zona euro. "Resta saber o que o acordo da coligação estipula de facto, porque os conservadores de Angela Merkel sempre se mantiveram muito cautelosos sobre o assunto", escreve a agência francesa.
Outros dossiês levados à mesa pelo SPD são os causadores de divergências e de longas discussões: a reforma do sistema de seguros de saúde e os contratos de trabalho a termo. Em contrapartida, temas como a imigração, segurança, transportes, ambiente ou economia digital estão fechados. No que respeita aos refugiados, a entrada estará limitada a um fluxo de 180 mil a 220 mil por ano.
No domingo, os partidos falharam um prazo autoimposto para obterem um acordo sobre a renovação da coligação.
As primeiras negociações para uma inédita coligação Jamaica, que incluiria os liberais (FDP) e os Verdes, em novembro, redundaram num fracasso. O chefe do Estado alemão, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier, não se limitou a ver a crise do palácio presidencial. Chamou à pedra Martin Schulz, que, depois de ter sofrido uma derrota histórica nas eleições legislativas, afirmara que o partido tinha sido castigado nas urnas por ter integrado a grande coligação e, em consequência, iria liderar a oposição.
Em nome da Alemanha, e mandatado pelo partido, o líder social-democrata aceitou partir para negociações com o partido de Angela Merkel. No entanto, e em caso de acordo entre os partidos, este tem ainda de ser aprovado pelo órgãos do SPD.
Se o acordo for rejeitado pelo partido mais antigo da Alemanha, a chanceler terá de governar com minoria. A alternativa é a convocação de novas eleições, um cenário que só agrada à extrema-direita. Qualquer um dos cenários será inaudito.
Avanço da extrema-direita
Sociais-democratas e democratas-cristãos negoceiam desde o início de janeiro uma nova grande coligação. As eleições parlamentares de setembro, marcadas pela queda dos partidos tradicionais e pelo avanço da extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD), não permitiram obter uma clara maioria no Parlamento.
Na segunda-feira, uma sondagem da INSA, e publicada pelo tabloide Bild, demonstra que os eleitores, se fossem chamados às urnas agora, iriam castigar democratas--cristãos e sociais-democratas. A CDU obteria 30,5%, uma queda de três pontos percentuais, e o SPD 17%, menos meio ponto. A AfD, com mais um ponto, chega aos 15%. Os Verdes têm 12,5% de intenções de voto (a maior subida, 1,5%) e os liberais também sobem um ponto, chegando aos dois dígitos.