Filho de doente que morreu nega que mãe tenha recusado tratamento

O hospital Egas Moniz reafirmou hoje que a doente recusou tratamentos convencionais durante seis anos.
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O filho da doente que morreu na sexta-feira, no Hospital de Santa Maria, alegadamente por falta de tratamento com um medicamento inovador para a Hepatite C, negou que a mãe tenha recusado tratamento anterior com terapêutica alternativa.

David Gomes, que vai avançar com ação judicial, referiu à agência Lusa que a mãe "nunca rejeitou" anteriormente a outra terapêutica para combater a doença hepática, ao contrário do afirmado pelo Hospital Egas Moniz.

Num comunicado, o hospital refere que a doente, de 51 anos, poderia ter sido tratada anteriormente com terapêutica alternativa, o que sempre recusou. "Desde 2008 foi-lhe proposta por várias vezes a terapêutica convencional com resultados muito favoráveis para o genótipo que a doente apresentava, terapêutica esta que a doente sempre recusou, tendo a doença evoluído, sem tratamento específico durante cerca de seis anos", refere a nota.

"Isso é uma profunda mentira. Os efeitos secundários são muitos grandes e a minha mãe nunca rejeitou, mas nunca conseguiu concretizar o tratamento. Mais do que uma vez, ela tentou fazer os tratamentos e não os acabou", afirmou.

No entender de David Gomes, a unidade hospitalar "quer fugir às responsabilidades".

O hospital esclareceu ainda que a doente apresentava um quadro de doença hepática "muito avançada, com prognóstico reservado, em 2014", ano em que esteve internada por sete vezes.

O filho da doente vincou que a questão "não tem a ver com o tratamento agora em causa", no Hospital de Santa Maria - para onde foi encaminhada a doente, em estado crítico, a 28 de janeiro -, uma vez que disse desconhecer por que não foi administrado "o medicamento" [Sofosbuvir].

"Desde fevereiro de 2014 que a minha mãe está ao cuidado dos hospitais, primeiro no Hospital Egas Moniz e, nesta fase final, no Hospital de Santa Maria. Desde janeiro do ano passado que o medicamento está disponível", referiu.

Sem saber quem "foi o responsável por não ter sido dado o medicamento", David Gomes referiu que se pretende "afastar a morte" da mãe, criando "um assunto que é falso, que é a terapêutica alternativa".

"O medicamento cura a 95 por cento e é disponibilizado para os estados mais graves. Não sei por que não o foi para a minha mãe", acentuou David Gomes, que teve hoje uma audiência com o ministro da Saúde, Paulo Macedo, que lhe transmitiu que a morte será investigada.

"Por que não lhe deram o medicamento? Quem é o responsável?", questionou David Gomes.

A farmacêutica disse que o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental enviou à Gilead, a 04 de novembro do ano passado, pedido de acesso ao medicamento sem custos, embora sem enquadramento legal para o fornecimento naquelas condições.

A Gilead garantiu que nunca recebeu nota de encomenda do fármaco, mas que o disponibilizou para a doente.

A 31 de dezembro do ano passado, a Autoridade do Medicamento explicou que o fornecimento do medicamento se enquadrava num novo regulamento relativo ao programa para acesso precoce a fármacos sem custo para o Serviço Nacional de Saúde.

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