Fidel renunciou à presidência há dez anos. Raúl despede-se do poder em abril

Dentro de dois meses, se não houver surpresas, não haverá um Castro à frente dos destinos da ilha. Pela primeira vez desde 1959
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Há dez anos, e depois de 18 meses afastado dos olhares públicos devido a doença, Fidel Castro anunciava oficialmente que renunciava à presidência de Cuba. O seu irmão Raúl, que já assumira interinamente os destinos da ilha desde a operação de urgência em agosto de 2006, seria eleito cinco dias depois presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros. Um cargo que se prepara para deixar, precisamente dentro de dois meses, a 19 de abril.

"Comunico que não aspirarei nem aceitarei - repito - não aspirarei nem aceitarei o cargo de presidente do Conselho de Estado e o de comandante-em-chefe", lia-se a 19 de fevereiro de 2008 na mensagem publicada por Fidel no jornal oficial Granma. No sistema eleitoral cubano, cabe à Assembleia Nacional do Poder Popular eleger o presidente entre os seus membros - e Fidel, que viria a morrer a 25 de novembro de 2016, tinha sido reeleito deputado com 98,3% dos votos.

A 24 de fevereiro, Raúl seria escolhido, sem surpresas, para lhe suceder, garantindo que continuaria a consultar o irmão "para as decisões importantes". Quando foi reeleito para o segundo mandato de cinco anos, em 2013, avisou que seria o seu último. Algo que reiterou na sessão plenária de 21 de dezembro: "Quando a Assembleia Nacional for constituída terei concluído o meu segundo e último mandato à frente do Estado e do governo e Cuba terá um novo presidente", disse. Nessa ocasião, foi decidido prolongar a legislatura (que devia acabar a 24 de fevereiro) até 19 de abril por causa da "situação excecional" no país. Devido à passagem do furacão Irma, em setembro, já tinha sido atrasado o calendário eleitoral. Raúl ficará contudo à frente do Partido Comunista até 2021.

Fidel estava a poucos dias de celebrar os 80 anos quando foi operado e entregou temporariamente o poder ao irmão e 81 quando renunciou oficialmente à presidência - estava à frente dos destinos da ilha desde a Revolução Cubana de 1959. "Trairia a minha consciência ocupar um cargo de responsabilidade que requer mobilidade e entrega total que não estou em condições físicas de oferecer", afirmou na mensagem, dizendo que o regime conta com "a velha guarda" e com "jovens" capazes de dirigir a revolução.

Raúl, que o acompanhava desde sempre, era essa "velha guarda" e agora, aos 86 anos, vai passar finalmente o poder aos "jovens". O nome de que se fala para assumir o poder é Miguel Díaz-Canel, primeiro vice-presidente do Conselho de Estado e de Ministros desde 2013. O primeiro não Castro em mais de meio século a assumir os destinos da ilha nasceu em 1960, no segundo ano da Revolução Cubana.

O sucessor de Raúl terá como desafio manter a abertura económica da ilha, iniciada pelo irmão de Fidel, sem deixar cair os ideais da revolução. A economia tem tido altos e baixos: os primeiros graças ao turismo (que deverá sair prejudicado pelas novas barreiras às viagens dos norte-americanos) e os segundos pela crise na vizinha e aliada Venezuela. Terá também de lidar com os EUA. Depois dos avanços diplomáticos durante a presidência de Obama, a chegada de Trump à Casa Branca esfriou as relações. O embargo económico continua de pé.

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