Joanna Newsom é um ovni, passando a expressão, na constelação da música popular americana. Multinstrumentista, dona de uma voz "característica" para dizer pouco, é provavelmente a única artista com ambições de sucesso popular em larga escala a subir a palco para tocar harpa, o que de si é já uma mostra de coragem. Have One on Me, o recente álbum triplo que editou em 2010, não a tornou propriamente um sucesso de vendas, se bem que lhe valeu notas máximas de publicações como a Uncut, a Mojo e o LA Times. .É em digressão de apoio a Have One on Me que Joanna Newsom volta a actuar em Portugal, mais precisamente na Casa da Música, no Porto, amanhã (dia 24) às 21.30, no Teatro Aveirense, segunda-feira (25) às 22.00, e no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, na terça- -feira (26) às 21.00. .A primeira parte dos concertos estará a cargo do escocês Alasdair Roberts, que desde 2001 tem desenvolvido um discreto percurso a solo na folk de autor, tendo já antes participado no grupo Appendix Out entre 1997 e 2001. O ano passado, editou pela Drag City (também a "casa" de Joanna Newsom) o álbum Too Long In this Condition..Voltando a Joanna Newsom, já presença regular nos palcos nacionais (passou pelo Lux em 2005 e pela Aula Magna e o Theatro Circo de Braga em 2007), esta começou a carreira com o disco The Milk- -Eyed Mender em 2004. Três anos depois, aos 24 anos, já tinha tocado com a Light and Sound Orchestra e outros conjuntos na Europa e na América, tudo isto devido ao sucesso relativo de Ys, gravado em 2006 ao lado de Van Dyke Parks (o antigo colaborador dos Beach Boys), Steve Albini (fundador dos Big Black) e Bill Calahan (o seu namorado de então, que actua a solo sob o nome de Smog)..Milk-Eyed Mender fez com que fosse conotada com a folk mais estranha que despontava então na América, tendo-lhe valido uma digressão com Devendra Banhart. Mas foi com Ys (lê-se "Ees", é o nome de uma cidade mitológica da Bretanha francesa) que deu o salto para outros campeonatos. .Ys era um álbum labiríntico. Ali, Newsom, que ainda não tinha "domado" a sua voz distintiva, falava da família, da morte e dos astros de forma invariavelmente metafórica, recorrendo várias vezes a símbolos medievais. Na capa, surgia com uma foice e uma coroa de louros, qual Ceres romana. Tudo isto, e a colaboração com nomes longe do terreno da folk, já frustravam a associação mais ou menos gratuita à estética do movimento New Weird America, surgido em inícios do século XXI..O álbum não apagou, no entanto, a imagem de "miúda gira de voz fininha a tocar harpa renascentista" que lhe ficou associada. Foi apenas com a excursão pelo mundo da moda e a aparição na série Os Simpsons (ver texto secundário), que o estereótipo começou a ser contrariado, embora a harpa e a voz fininha viessem a continuar as suas marcas registadas. Em Have One on Me troca definitivamente o misticismo pela referência histórica e o passado por uma temática tipicamente americana, onde Newsom surge como dona de uma voz própria, inspirada em Joni Mitchell, Carole King e no duo Richard & Linda Thompson.