FIA deixa aviso e não quer truques sujos na batalha final entre Verstappen e Hamilton
Max Verstappen e Lewis Hamilton decidem este domingo, em Abu Dabi, quem será o novo campeão de fórmula 1 numa das disputas mais marcantes da história da modalidade, a fazer lembrar a rivalidade de Senna e Prost. Os dois pilotos chegam à última corrida com os mesmos pontos (369,5) e com várias polémicas durante a temporada. Por isso há quem desconfie de uma manobra suja para decidir o campeonato. Por isso, Michael Masi, diretor da FIA, lembrou ontem os artigos do Código Desportivo Internacional que falam em condutas antidesportivas e do papel dos comissários.
Os artigos em causa são dois. O primeiro (12.2.1) estabelece que "uma conduta antidesportiva ou uma tentativa de influir num resultado de uma maneira não ética é uma infração do regulamento". O segundo (12.4.5) indica expressamente que "os comissários tem o poder de retirar pontos a um piloto" se este infringir de forma grave os regulamentos. Foi a primeira vez esta temporada que Massi lembrou o código de ética e ninguém tem dúvidas sobre quem são os destinatários deste sério aviso, sobretudo no caso do holandês.
O alerta da FIA remete para a decisão do título de 1997 entre Michael Schumacher e Jacques Villeneuve. O ex-piloto da Ferrari chegou à corrida final, em Jerez de la Frontera, com 78 pontos, mais um do que o canadiano. A dado momento da prova, Villeneuve tentou ultrapassá-lo e o alemão atirou o carro para cima do rival, acabando, contudo, por ser ele forçado a desistir, permitindo a Villeneuve sagrar-se campeão. Dias mais tarde, a FIA retirou todos os pontos de Schumacher nessa época.
Um alegado incidente entre os dois pilotos na corrida de domingo, que os tirasse de prova, e caso nenhum fosse penalizado, beneficiaria Verstappen. Apesar de ambos terem os mesmos pontos, em caso de igualdade o beneficiado seria o holandês porque tem mais uma vitória do que o britânico (9/8).
Os receios de um incidente (um toque ou uma manobra perigosa que deixe um dos pilotos fora de pista) são legítimos, pois as tropelias entre ambos têm marcado esta temporada. Em março, no circuito de Silverstone, Verstappen sofreu um acidente e ficou fora de prova quando Hamilton lhe fechou a trajetoria logo na primeira volta. O britânico foi castigado com uma penalização de 10 segundos, mas não o impediu de vencer a prova.
Em Monza, novo choque. Quando tentavam garantir a quinta posição no GP de Itália, o carro do holandês atropelou o Mercedes de Hamilton e os dois ficaram fora de pista. No final, os comissários de corrida decidiram que Max Verstappen foi o culpado do acidente - foi castigado com três posições na grelha de partida do GP de Sochi e dois pontos na licença,
Na semana passada a polémica voltou a estalar, no GP da Arábia Saudita, com um novo toque entre ambos, numa prova que Hamilton venceu. Verstappen foi penalizado com 10 segundos pelos comissários, que consideraram que o holandês travou bruscamente quando recebeu ordens para deixar passar Hamilton, motivando um toque entre ambos.
Os dois pilotos estiveram ontem juntos numa conferência de imprensa e o tema foi obviamente falado, com Verstappen a desabafar que se sente injustiçado pelos comissários: "Uma colisão? Não penso nisso. Os media falam dessas coisas, mas o meu foco é vencer a corrida. Sou claramente tratado de maneira injusta. Eu sou penalizado enquanto os outros saem tranquilos por fazerem a mesma coisa. Têm que perguntar a essas pessoas [comissários] se acham este tratamento justo."
Já Hamilton foi questionado sobre os avisos feitos por Michael Masi acerca das regras antidesportivas. "Já aconteceu no passado sem que os comissários fizessem nada, mas se acontecer é justo que façam algo. Os comissários vão ter precauções. Espero que eles não tenham de usar penalizações e tenhamos uma grande corrida", disse o britânico.
Esta guerra tem sido travada também pelos responsáveis das duas equipas. Após o GP da Arábia Saudita, Christian Horner, diretor da Red Bull, não escondeu a sua insatisfação " Não sentimos que a punição tenha sido justa, porque o Lewis atingiu a parte de trás do carro de Max. O desporto sente falta de Charlie Whiting", atirou, numa referência ao ex-diretor de corridas da FIA, que morreu em 2019.
A Mercedes também tem vincado a sua posição. E as palavras de Toto Wolf, diretor da Mercedes, podem ser encaradas como uma forma de pressão. "Só queremos um campeonato limpo. Que vença o melhor e se no final for o Max, então fico em paz. Mas é preciso que seja uma corrida justa", atirou, acrescentando que a pilotagem "precisa de ser avaliada e examinada": "É dura, muito dura, talvez acima da dureza aceitável. Só queremos ter um campeonato limpo."