Festival Internacional de Cultura não será só literatura
A rentrée literária nacional que agora começa vai ter no Festival Internacional de Cultura de Cascais (FIC) o palco perfeito para se ouvir a voz de alguns dos escritores que protagonizam a chegada às livrarias portuguesas de alguns bons - e alguns grandes - livros estrangeiros neste final de 2016. É o caso do francês Mathias Enard e dos espanhóis Artur Pérez-Reverte e Daniel Innerarity. Será também o caso de vários autores nacionais que lançaram recentemente livros, como Domingos Amaral, Lídia Jorge, Manuel Alegre, Maria Teresa Horta, Nuno Júdice, Ricardo Paes Mamede, entre outros; ou dos que têm vários livros a sair, como Gonçalo M. Tavares e Helena Sacadura Cabral.
A programação do segundo FIC, evento que decorre a partir da próxima sexta-feira e até dia 18, é extremamente apelativa e tem tudo para repetir o sucesso da primeira edição. Que se preocupou com a relação da língua portuguesa entre Portugal e África enquanto desta vez será voltado para o Brasil.
Apesar de lhe dar grande importância, o Festival Internacional de Cultura não estará focado apenas na literatura. Cascais tanto vai receber exposições culturais como experiências gastronómicas, cinema ao ar livre, teatro, artes de rua e vários espetáculos de música, além de coincidir com a quarta edição do Festival de Luz Lumina. Uma nota: o acesso a toda a programação é gratuito.
A abertura do FIC está a cargo de dois grandes nomes da música e literatura brasileira. Caetano Veloso e António Cícero. Que vão debater no palco da Casa das Histórias de Paula Rego, com a moderação de Inês Pedrosa, o tema A identidade cultural é uma utopia? A partir desse momento a programação irá percorrer em debates realizados com especialistas nacionais e estrangeiros muitas outras temáticas. Haverá economia sob o tema Estamos condenados a viver em crise, política Em tempo de indignação; o Terror global, 15 anos depois do 11 de Setembro, e a História é um trajeto de inconsciência.
Pelo meio, irá impor-se a literatura, também com a presença de dezenas de autores nacionais e estrangeiros. Subirão ao palco temas como a Realidade e a ficção nos romances históricos, os Poetas que escrevem romances, a Revolução de mentalidades, que Conhecimento nos dá a literatura e Até que ponto a Literatura pode transformar o mundo?. No último dia, a pintora Paula Rego fará a entrega de Prémios Belas Artes e a sua obra será analisada sob o ângulo da presença de Eça de Queiroz e Charlotte Brontë.
Vale a pena perguntar à responsável pela curadoria desta segunda edição do FIC qual é o ponto alto da programação? Inês Pedrosa recusa-se a apontar um dos eventos pois a escolha cabe aos visitantes: "Claro que o Festival reúne algumas figuras mais conhecidas do público do que outras, até com grande dimensão internacional, mas a presença nacional é muito grande e de qualidade". Para a escritora, o facto de a componente internacional ser elevada é importante: "Facilita a mediatização do Festival, aumentando a sua visibilidade e exigindo a atenção do público." É nesse caso que enquadra os "autores que têm trajetos e obras importantes", presenças que tornam o Festival "menos paroquial num mundo totalmente globalizado, que exige o confronto de várias visões do mundo". Com isto não quer criticar outros festivais: "Estão orientados na perspetiva nacional, o que não acontece com este que à segunda edição quer cumprir a vocação internacional".
Entre as figuras mais mediáticas, Inês Pedrosa não pode ignorar Caetano Veloso, David Lodge ou Arturo Pérez-Reverte, quando se referem alguns nomes estrangeiros: "Mas não podemos esquecer todos os historiadores e ensaístas que, tendo menos popularidade, possuem a mesma importância." Logo acrescenta uma longa lista de autores portugueses que vão estar em todos os debates destes dez dias de Festival em Cascais: "Temos quem perceba muito do que se passa no mundo, com perspetivas diferentes para apelar a debates sobre história, poesia e ficção."
Garantia que a responsável pela programação dá é a de o FIC contar com bons moderadores: "Sei que estão a fazer uma preparação aturada e alguns até falaram com os autores de modo a preparar os encontros." Dá o seu exemplo: "Vou conversar com David Lodge, o que me obrigou a passar todo o verão a estudá-lo, de maneira a tirar dele o melhor que puder com perguntas interessantes tão vasta é a sua obra como pensador da coisa literária."
Para Inês Pedrosa o Festival está a chegar a cada vez mais público interessado: "Creio que terá na assistência mais leitores pois tenho sido contactada, por exemplo, por brasileiros que querem conciliar a sua visita a Portugal com o FIC, tal como temos várias perguntas sobre outros autores presentes. Sem dúvida, pode dizer-se que o interesse é principalmente de leitores, alguns dos quais desejam conhecer os autores que leem."
Quantas versões teve esta programação? Responde: "Há sempre ajustes a fazer além do objetivo inicial e até gostaria que o Festival tivesse mais dias para encaixar outros debates, designadamente no âmbito da literatura." Acrescenta: "Houve a preocupação de não repetir oradores e estou contente com o resultado." Antes de terminar, faz um aviso a quem ler a programação com menos atenção: "Recomendo o espetáculo de José Miguel Wisnik, Gabriel Improta e Paula Morelembau (dia 17), porque Wisnik é um grande conhecedor da música do Brasil e faz um espetáculo sobre Vinicius e Tom Jobim onde explica como se constrói uma canção a quatro mãos. É uma lição de música e de literatura através de canções."