Binta Djaloe, 43 anos, e Tiago Barnora, 47, vivem com uma filha, sobrinha e respectivos filhos, na zona M, em Chelas. São guineenses muçulmanos e constituem uma família nuclear alargada, como é costume nos povos africanos. Em 2004, o fim do ano muçulmano é a 9 de Fevereiro, a festa do carneiro, para a qual é obrigatória a compra de um animal vivo..«É o dia mais importante dos muçulmanos. É o nosso Natal e Ano Novo. Compramos um carneiro vivo na Granja, em Loures. Fazemos a oração e depois são os donos da quinta que matam o animal na nossa frente», conta Tiago Barnora. Nesse dia não trabalham, facto que já é do conhecimento dos patrões do casal, onde estão há alguns anos, ela como doméstica e ele como canalizador. A Binta vai a Dacar, Senegal, comprar roupa que vende em Portugal..O carneiro é assado no forno ou cozinhado em caldo de amendoim e é servido com arroz branco. Nas sobremesas há sempre doces à base de coco, além de doçaria comum à generalidade dos portugueses. Tudo acaba ao som dos ritmos africanos, como qualquer boa festa no seio da comunidade..Binta reside há 20 anos em Portugal e o marido há 15. Fazem parte do fluxo migratório da Guiné-Bisau, particularmente intenso entre meados de 1980 e de 1990, como regista o sociólogo Fernando Luís Machado (Contraste e Continuidades). Com a guerra na Guiné-Bissau, em 1998, vieram muitos refugiados, tendo a maioria fixado residência em Portugal. .A mãe Binta teve o primeiro filho aos 14 anos, de um total de quatro. «Os muçulmanos são assim, casamos muito cedo, sobretudo naquela época, agora já é diferente», conta. Não parece ser assim tão diferente, já que a filha, Fanta, de 23 anos, teve o Tiago aos 16. Aliás, os guineenses, tal como os moçambicanos, são os primeiros responsáveis pelo peso da comunidade muçulmana em Portugal..Os rapazes, de 19 e 21 anos, estão na Guiné. «Vivem com a minha irmã e estudam. É melhor do que se estivessem em Portugal. Aqui iam continuar a trabalhar nas obras como os pais», explica Tiago, esperançado de que tenham melhor sorte que as filhas, também trabalhadoras domésticas..O casal tem autorização de residência permanente e vivia no bairro de barracas no Lumiar, antes de habitar a casa de cinco assoalhadas de um prédio da Associação Guineense de Solidariedade, em Chelas. Um luxo, mas os dirigentes associativos sabem que o seu povo tem famílias alargadas. .Têm uma casa na Guiné, em Gombé, para onde mandam dinheiro e pensam regressar na velhice. Um desejo de muitos africanos, mas que poucos conseguem cumprir.