Festa de beneficência acaba aos tiros em Marvila

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Foi uma madrugada de sobressalto para as gentes do Bairro Prodac, no Vale Fundão, na zona oriental de Lisboa. Uma festa, alegadamente para obter fundos para ajudar as crianças da Guiné, terminou em perseguição aos tiros de pistola e caçadeira, aparentemente num cenário que leva a crer num ajuste de contas entre bandos rivais.

Dos sete homens baleados, dois ainda permaneciam internados, ao fim da tarde de ontem, no Hospital de S. José. Os restantes, com ferimentos leves, já tinham recebido alta. Da noite agitada sobram apenas as lembranças do silvo dos tiros e das correrias por entre o aglomerado habitacional, observadas em surdina por detrás das cortinas das janelas.

Festa de beneficência
Festa de beneficência acaba aos tiros em Marvila

Pela manhã, ainda com as cápsulas de balas espalhadas pelo pátio fronteiro ao salão do Oriental Recreativo, ninguém sabia dos acontecimentos ocorridos às quatro da madrugada. Pelo salão da colectividade do bairro, que serviu de palco ao início dos desacatos, parecia que tinha passado um tufão: os vidros estavam partidos, havia buracos nas paredes e a sujidade era mais que muita. "Vivo aqui há 33 anos, e nunca houve nada assim", conta um popular, que se levantou ao ouvir o barulho dos tiros, mas não se atreveu a meter um pé fora de casa. Uma testemunha presencial, no hospital, contou que um dos elementos do grupo agressor partiu os vidros para disparar melhor para o interior, "mas sem saberem sequer para onde disparavam".

José Freitas, o presidente do Recreativo, não ouviu os tiros: "Quando acordei de manhã, a minha mulher disse-me que a polícia queria falar comigo. Ela tinha ouvido os tiros, mas como a confusão era muita nem me quis acordar." Freitas, de boa-fé, cedera o salão do Recreativo "a uma moça que se propunha organizar a festa de beneficência". Já o fizera há um mês, para uma festa idêntica, e nessa altura "correra tudo bem".

Dessa moça, o dirigente associativo sabe apenas que se chama Fátima e que disse pertencer a uma associação guineense que estava interessada em angariar fundos para com- prar bens destinados às crianças da Guiné-Bissau. Como da primeira vez, conta José Freitas, entregou as chaves do salão de festas da colectividade à rapariga, que lhe afiançou fechar tudo bem quando saíssem, lá pelas duas horas da manhã.

Familiares pedem justiça

No Hospital de S. José, ontem a meio da tarde, estavam ainda duas vítimas nos cuidados intensivos. À porta mantinham-se as famílias de um rapaz de 21 anos e de outro de 17. Teotónio Moniz, pai do rapaz mais novo, mostrava-se algo apreensivo: "Parece que foi operado e que correu bem, mas o estado é algo grave." O seu irmão pedia acção às autoridades. "É um rapaz de 17 anos que estuda e estava apenas numa festa e nem sequer é dali. Tem que haver justiça", sublinhava. Depois das visitas, as duas famílias conheceram melhor o estado dos dois rapazes, um deles atingido na coluna. No entanto, os médicos admitiam que podiam recuperar, tendo em conta as idades.

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