Ferry Atlântida vendido à Venezuela por 42,5 ME
A informação foi avançada ao DN por José Luís Serra, um dos administradores dos ENVC, e resultado do acordo alcançado pela delegação da empresa que reuniu em Caracas, no fim-de-semana, liderada pelo presidente do Conselho de Administração, Carlos Veiga Anjos.
Recorde-se que em Dezembro de 2009, Governo Regional dos Açores e a empresa pública com sede em Viana acordaram resolver o diferendo em torno do Atlântida (e também do segundo ferry, Anticiclone), com o pagamento, pelos ENVC de 40 milhões de euros. O acordo agora alcançado na Venezuela deverá ser oficializado quinta ou sexta-feira. Com este negócio, que até fica acima daquilo que o construtor naval ainda tem de pagar aos Açores, os ENVC vão assumir as "necessárias obras de adaptação" do ferry Atlântida, nomeadamente na porta de desembarque do navio, que tinha sido feita à medida dos portos dos Açores, entre outras modificações. "Tratam-se de obras relativamente simples de se fazer, por isso temos esse prazo curto para a entrega", explicou José Luís Serra. Para trás fica um ano de negociação, envolvendo Empordef, administração dos ENVC e, até, José Sócrates, que acompanhou Chávez na visita aos estaleiros de Viana, e ao navio, a 24 de Outubro de 2010.
"Tremendo ferry, compadre, que vem para cá", afirmou Hugo Chávez nos seus habituais programas de rádio e televisão em que se dirige à nação. Neste caso, o presidente da Venezuela garantia a compra de um grande ferry a Portugal e até explicou que a rota prevista para o novo ferry é do porto de La Guaira até às ilhas de Orchila, Los Roques e Margarita. "Eu quero meter todos esses meninos pobres de La Guaira, as famílias mais pobres, no tremendo ferry, a classe média também. São 800 pessoas. Aí está um modelo do ferry que já pronto está a partir de Portugal, (será) uma linha de ferry, turismo popular, turismo venezuelano", frisou.
Chávez que visitou o interior do Atlântida e desde logo garantiu a compra do navio, que agora será efectivada, num negócio que inicialmente apontava para os 35 milhões de euros, mas que ficará afinal por 42,5 milhões de euros. Luxuoso e com capacidade para 750 pessoas, o navio deveria ter seguido em Maio de 2009 para os Açores, mas o Governo Regional decidiu romper o contrato com os ENVC, alegando incumprimento por parte da empresa de Viana, mas Chávez não parece preocupado e durante a visita chegou mesmo a perguntar: "Quantos dias leva para chegar daqui à Venezuela nele?". O Atlântida, nome que deverá ser alterado à chegada ao destino, no final do ano, representa uma parte substancial dos acordos rubricados por Portugal com a Venezuela, e que conseguiu mais 200 milhões de dólares para as exportações de produtos portugueses.
Negociações lideradas em Caracas pelo secretário de Estado do Comércio português, Fernando Serrasqueiro. "Foi possível dar continuidade aos projectos que já existiam, designadamente renovar o acordo para o fornecimento de crude pela Venezuela, que serve de base ao fornecimento de produtos portugueses", explicou. Foi assim decidido aumentar o fornecimento de computadores Canaima (nome local dos portáteis Magalhães) em cerca de mais 550 mil, e já foi identificado o local para que a empresa portuguesa Lena, inicie as obras do primeiro grupo de habitações sociais, na localidade de Cúa, Valles del Tuy, a sul de Caracas, no âmbito da construção de 6.256 unidades habitacionais. "Também se acordou mais um conjunto de propostas de fornecimentos de diferentes produtos portugueses, quer da área alimentar, quer da área da logística, quer também em termos de cabos ópticos", frisou o secretário de Estado, durante uma conferência de imprensa em Caracas, vincando o bom relacionamento existente entre os dois países. "Quero saudar o Governo da Venezuela pela oportunidade que nos deu de aprofundarmos as relações que são excelentes e mantermos este clima de diálogo ao longo dos últimos anos", disse.