Fernão de Magalhães e outros mortos: para uma necrologia de há 500 anos
Fernão de Magalhães morreu há 500 anos. Foi em 27 de abril de 1521 que esta figura cimeira da história universal foi morta numa batalha travada na ilha de Mactan, nas Filipinas, tendo-se imortalizado por entretanto ter revelado a forma do mundo tal como ele é. Ao evocar um acontecimento tão significativo e ao enquadrá-lo nesse ano de 1521 podemos lembrar algumas personalidades de grande significado que também então faleceram.
Em abril de 1521, quando Magalhães estava nas Filipinas, ilhas que ficam perto da China, morreu em Pequim, em 20 de abril de 1521, o imperador chinês Zhengde, que ali havia nascido em 27 de outubro de 1491 e começara a governar em 19 de junho de 1505. Para o nosso propósito apenas realçamos o facto de em maio de 1520, no tempo em que decorria a viagem de Magalhães, esse imperador foi contactado informalmente em Nanquim pela embaixada portuguesa que lhe fora enviada por
D. Manuel e era comandada por Tomé Pires. Essa embaixada foi depois para Pequim onde acabou por não ser recebida oficialmente porque entretanto aquele imperador morreu e o teor da carta que D. Manuel lhe enviara criou uma reação negativa nas autoridades chineses. Estas assumiam uma posição de superioridade perante aqueles estrangeiros desconhecidos, a qual era incompatível com o presumível teor de tal carta.
Foi sete dias após o passamento do referido imperador que Magalhães foi morto.
Alguns meses depois destas duas mortes, faleceram duas personalidades importantes: uma era Leão X, o representante máximo da cristandade, a outra D. Manuel, o monarca que ambicionou um poder imperial à escala mundial. Começamos por nos referir a Giovanni di Lorenzo de Medici, que nasceu em Florença em 11 de dezembro de 1475 e em 11 de março de 1513 foi eleito Papa com o nome de Leão X, o qual morreu em Roma em 1 de dezembro de 1521. Treze dias depois da sua morte falecia, em 13 de dezembro de 1521, no seu Paço da Ribeira em Lisboa, o rei português D. Manuel, que nascera em Alcochete em 31 de maio de 1469 e foi o primeiro governante que expressou um poderio à escala global. Ele fizera então de Lisboa um centro efetivo da Terra, ao contrário da pretensão fantasiosa e sem fundamento manifestada pela vasta mas isolada China, que afirmava ser o centro do mundo. Basta lembrar que no tempo de D. Manuel para se ir da Europa até à China, ou a qualquer ponto dos litorais do Brasil, da África ou da Ásia se tinha de partir da capital portuguesa.
De lembrar ainda que foi o comportamento negativo de D. Manuel para com Magalhães que levou este navegador a conceber e a realizar o projeto da grande viagem para ocidente com vista a ir às Molucas, durante a qual veio a morrer.
De entre importantes personalidades relacionadas com a história de Magalhães assinalamos aqueles que também morreram em 1521.
A mais relevante dessas personalidades foi Francisco Serrão, o amigo e inspirador de Magalhães, que morreu envenenado em Ternate, nas Molucas, talvez em março de 1521, quando o grande navegador estaria a chegar às Filipinas.
É igualmente de considerar a circunstância de ter sido em agosto de 1521 que morreu em Malaca D. Tristão de Meneses, fidalgo que havia sido enviado em 1517 por D. Manuel às Molucas, onde chegara em 1519, tendo em novembro de 1520 procurado saber se Magalhães lá chegara.
Entretanto, talvez em junho de 1521, morreu em combate em Achém Jorge de Brito, que em 6 de abril de 1520 saíra de Lisboa rumo às Molucas, a fim de aí intercetar Magalhães e erguer uma fortaleza. Foi o seu irmão António de Brito que o substituiu na sua missão tendo ainda contactado com D. Tristão de Meneses em Malaca, pouco tempo antes de este ter morrido.
1521 foi um ano marcado pela morte para muitas personalidades que é importante invocar num tempo em que o mundo ficara completamente conhecido e se estava a abrir à modernidade em tempos do início da mundialização, num processo que está na raiz remota da atual globalização.
Biógrafo de Fernão de Magalhães e historiador do Gabinete de Estudos Olisiponenses