Fernando Pessoa, o homem que percebia de economia

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Fernando Pessoa está na História como poeta e escritor. Mas ao longo da sua vida teve outros afazeres em que manteve sempre a escrita associada. E deixou muitos escritos sobre gestão e economia. Filipe S. Fernandes, jornalista da revista Exame, compilou alguns desses artigos pessoanos, que revelam um homem liberal, defensor da concorrência do mercado e contra o excessivo peso do Estado na economia. Sobre a sua profissão, Fernando Pessoa escrevera: "A designação mais própria será 'tradutor', a mais exacta a de 'correspondente estrangeiro em casas comerciais'. O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação."

A ligação ao mundo dos negócios inicia-se em 1902 (aos 14 anos), na África do Sul, para onde emigrou com a mãe depois da morte do pai. Nesse ano, entrou na Commercial School, em Durban, onde se aprendia contabilidade aritmética comercial, taquigrafia e técnicas contabilísticas. De regresso a Lisboa, em 1905, decide entrar no curso de Letras, o qual abandona dois anos depois. "E começou a definir-se o futuro". Vai para a R.G. Dun & Companhia, uma agência de informações comerciais. "Aguentou pouco tempo este emprego, ou não tivesse escrito, a propósito dos exames, 'odeio todo o trabalho imposto'." Antes já se tinha proposto como tradutor a empresa francesa. "Sempre dedicado aos negócios das comissões e das consignações, foi abrindo e fechando empresas. (...) A redacção de cartas comerciais em inglês e francês foi a principal fonte de rendimento de Pessoa, tendo passado por mais de 20 firmas, que, além dos proventos financeiros, lhe propiciavam papel e máquinas de escrever". Mas o seu sonho era a edição. Depois de uma tentativa falhada em avançar com uma tipografia, começou em 1919 a projectar a editora Olisipo, que iniciou actividade em 1921 e foi até 1925. Depois, entrou na publicidade. Criou o famoso slogan: "Primeiro estranha-se. Depois entranha-se" para a Coca-Cola. Este também ligado à agência de publicidade da Chevrolet, sendo, por isso, reconhecido como o impulsionador do outplacement, já que a marca esteve presente em poemas seus. Outros conceitos, como o networking (importância da rede de contactos), já estavam nos seus escritos. E fala da importância de Portugal se tornar um país exportador, ao mesmo tempo que critica o proteccionista e intervencionismo do Estado. |

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