Fernando Horta: o rei do samba é português
"Esta vitória marca uma vida. Sempre lutei muito para alcançar êxito, aprendi a insistir e a ser optimista. Um resultado como este coroa toda uma carreira." Foi emocionado com a vitória da sua Unidos da Tijuca no desfile de Carna- val do Rio de Janeiro, que o presidente da escola, o português Fernando Horta, natural da Lixa, concelho de Felgueiras, contou ao DN que um dos segredos deste sucesso passou por compensar os escassos recursos da escola com o trabalho e união de todos. "Foi isso que ocorreu. Estamos todos de parabéns, pois ganhámos a gigantes, muito mais tradicionais."
Para que se tenha uma dimensão desta vitória, deve-se destacar que a Unidos da Tijuca é uma escola de samba mediana. O seu único título foi em 1936, há 74 anos e, na verdade, pouca gente esperava que isso se repetisse. A cada ano, a vitória cabia às "grandes" Beija-Flor, Imperatriz, Mangueira.
Na tarde da última quarta-feira, enquanto a cimeira da escola roía os dentes ante cada nota divulgada, Horta, parecendo tranquilo, bebia cerveja. O desfile tinha recebido grandes elogios, mas ninguém podia prever o que diria o júri. Na verdade, este ano o título da Unidos da Tijuca foi praticamente unânime. Além da vitória oficial, a escola foi eleita a melhor pelos jornais O Globo e Extra e pelas rádios Globo e Tupi. A criatividade do "carnavalesco" Paulo Barros foi ressaltada.
A escola inovou no tema , É segredo, nada tradicional; apresentou batmans e homens-aranha e, principalmente, a comissão de frente, na qual os participantes trocavam de roupa de forma instantânea, através de actos de magia trazidos dos Estados Unidos. O treino dos integrantes da comissão de frente levou intensos quatro meses, para que a troca de roupa fosse feita com perfeição.
Fernando Horta, 57 anos, chegou ao Brasil com apenas 12 anos. Começou a trabalhar três anos depois e, após seis anos de actividade, já era dono do próprio bar. Prosperou e abriu novos negócios, inclusive uma loja de antiguidades e até uma fábrica de vidro. Segundo se informa, tem investimentos em vinhos, em Portugal. Assumiu o comando da Unidos da Tijuca quando a escola estava em crise. Para convencê-lo, exibiram-lhe um abaixo-assinado com 17 mil assinaturas de gente que o via como o homem certo para enfrentar crises. Mas no dia em que festejava esta história, Horta não tinha problemas em revelar que o seu sonho, neste momento, é dirigir o clube de futebol Vasco da Gama. Ele é aliado do ex-presidente Eurico Miranda, que mandou no clube da colónia luso-brasileira durante mais de uma década. O actual presidente é o antigo jogador Roberto Dinamite, adversário de Miranda e, portanto, também de Horta. Como o Vasco acaba de subir da segunda divisão - onde passou apenas um ano - e está a obter bons resultados de volta à elite do futebol, a tarefa de Horta será muito difícil. Mas para quem conseguiu um campeonato de samba tão difícil, nada é impossível. Nesse ponto, Horta deixa a modéstia de lado. À rádio Jovem Pan, disse: " Eu não penso em me candidatar, eu vou ser presidente do Vasco."