Feno de Portugal, aroma da natureza

Tem nova embalagem, mas mantém um perfume que desperta memórias de infância. Tal como o anúncio de televisão em que uma jovem loura e ingénua se passeava pelos campos.
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Feno de Portugal é um nome bem achado. Tão bem achado que uma pessoa quer encontrá-lo e vê-se grega, coisa que nesta altura do campeonato não se recomenda a ninguém. Sobretudo a um português, cândido e citadino, que queira andar por aí a gastar os pneus do carro à procura do mítico feno. Não é fácil. Se alguém criasse as marcas «Tulipas da Holanda» ou «Lavanda da Provença», saberíamos ao que se referia, mas evocar a ideia de «Feno de Portugal» deixa-nos perdidos na nossa geografia - e o que vem à cabeça é sempre o sabonete. Isso e a imagem de uma jovem mulher de cabelos louros, chapéu de renda e vestido ligeiro, voltejando pelos campos em câmara lenta, num cenário bucólico de Verão. O anúncio que passou na televisão permanece na memória de muita gente como uma inspiração soft das fotografias diáfanas de David Hamilton, que eram o máximo da sensualidade nos anos 1970. A ingenuidade ainda convencia, o slogan fez o resto: «Feno de Portugal, aroma da natureza...», cantava uma voz melodiosa. «Aroma da natureza» ou «encanto da natureza»? Pouco importa. Ficou no ouvido.

Aquele que já foi publicitado como «o melhor sabonete português» era fabricado por uma empresa da Quimigal e integrava-se na Divisão de Óleos e Sabões. Remete para outra época da indústria nacional, quando ainda não havia campanhas a incitar ao «compre o que é nosso». Onde está essa indústria? Ainda existe, tal como o sabonete. Mas é preciso procurá-la bem, no meio das tulipas da Holanda e da lavanda da Provença.

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