Depois de semanas de pressão, o rei emérito Juan Carlos deixou Espanha no meio da investigação sobre as suas contas em paraísos fiscais, deixando para trás o filho, Felipe VI, que terá de enfrentar sozinho as críticas à monarquia..Sempre se disse que os espanhóis não eram monárquicos, mas juancarlistas, agradecendo o papel que o anterior monarca teve durante a transição da ditadura para a democracia, mas diante dos escândalos, crescem as vozes - até dentro do próprio governo - contra o sistema..Depois de quatro décadas de reinado de Juan Carlos e mais de seis anos após este ter abdicado, Felipe VI enfrenta a maior crise para a monarquia espanhola..Não existem sondagens oficiais (do Centro de Investigações Sociológicas) sobre a monarquia desde 2015, sendo a última sondagem do El Confidencial de 2019. Nesta, 50,8% dos 1031 inquiridos apoiavam a coroa, contra 46,1% que defendiam a república e 3,1% diziam-se indecisos..O pai no autoexílio.A renúncia de Juan Carlos a favor do filho, em junho de 2014, não só não calou as críticas de que o monarca era alvo, como abriu a porta às investigações que agora obrigaram o rei emérito a deixar Espanha, numa tentativa de proteger não só Felipe VI como a própria instituição..A convivência entre rei e rei emérito não foi fácil. Logo no seu discurso de entronização, Felipe VI deixou claro que a coroa deve "procurar a proximidade com os cidadãos e ganhar continuamente o seu apreço, respeito e confiança", e que para isso deve "velar pela dignidade da instituição, preservar o seu prestígio e observar uma conduta íntegra, honesta, transparente". Só dessa maneira, indicou a 19 de junho de 2014, terá "a autoridade moral necessária para o exercício das suas funções"..Palavras que chocaram com aquilo que aos poucos foi sendo revelado sobre o seu próprio pai, que tinha estado quatro décadas no trono e que culminaram na sua reforma completa em junho de 2019, quando participou no seu último ato oficial..Mas as revelações sobre a alegada amante de Juan Carlos e as contas que este teria em paraísos fiscais foram-se tornando mais problemáticas quando começaram a atingir diretamente Felipe VI (que seria beneficiário de uma das fundações em caso de morte do pai), levando já em março deste ano o Palácio da Zarzuela a anunciar que o rei tinha retirado a pensão a que o emérito tinha direito (quase 200 mil euros anuais dos cofres públicos), renunciando também a qualquer herança no futuro - afastando-se assim dos seus negócios menos claros..Mas a pressão continuava para que fossem tomadas mais medidas e nesta segunda-feira foi anunciada a decisão de Juan Carlos de deixar o reino. "Com o mesmo desejo de servir Espanha que inspirou o meu reinado e diante da repercussão pública que estão a gerar certos acontecimentos passados da minha vida privado, desejo manifestar-te a minha mais absoluta disponibilidade para contribuir a facilitar o exercício das tuas funções, desde a tranquilidade e o sossego que requer a tua alta responsabilidade", escreveu numa carta ao filho, reiterando que sempre quis o melhor para Espanha e para a coroa..A mãe continuará na Zarzuela.Juan Carlos pode já estar na República Dominicana, segundo os media espanhóis, mas Sofia, com quem se casou em 1962, continuará a viver no Palácio da Zarzuela e a fazer o seu trabalho institucional e solidário na fundação que leva o seu nome. E a ser um apoio para Felipe VI, que naquele mesmo discurso de proclamação destacou "toda uma vida de trabalho impecável ao serviço dos espanhóis" da mãe..Há anos que Juan Carlos e Sofia vivem separados, dentro do Palácio da Zarzuela, sendo ocasionalmente vistos em público em algum evento..Para já, Sofia está no Palácio de Marivent, residência dos reis durante o verão, onde o próprio Felipe, Letizia e as filhas, Leonor e Sofia, são esperadas a partir do próximo fim de semana..As irmãs.Depois de Juan Carlos abdicar, em junho de 2014, tanto a infanta Elena como a infanta Cristina deixaram de fazer parte da família real, passando a ser apenas família do rei, perdendo o direito à fatia de dinheiro público que recebiam anualmente. Das duas, foi Cristina aquela que deu mais dores de cabeça ao irmão, não sendo, contudo, a relação de ambas com Letizia das melhores..Elena, que se divorciou há dez anos de Jaime de Marichalar, mantém o título de duquesa de Lugo. Está neste momento com a mãe em Marivent. Já Cristina perdeu o de duquesa de Palma de Maiorca, depois de ter visto o seu nome envolvido no escândalo que acabaria por deixar o marido, Iñaki Urdangarín, a cumprir pena de prisão por desvio de fundos públicos ou tráfico de influências..O governo.A pressão para a saída de Juan Carlos terá vindo do próprio governo, com o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, a dizer numa conferência de imprensa que não sabe onde está o rei emérito, mas a defender a decisão tomada pela coroa de o afastar.."Aqui não se estão a julgar instituições, estão a julgar-se pessoas, e o rei emérito deixou claro que está à disposição da justiça", indicou, dizendo ainda que Felipe VI "está a tomar medidas de transparência e de exemplaridade que todos os espanhóis devem valorizar"..Mas o parceiro de governo, a Unidas Podemos, é crítico da posição do anterior monarca, tendo deixado claro que não participou em nenhuma reunião com a Casa Real sobre o futuro de Juan Carlos..É conhecida a posição de Pablo Iglesias sobre a monarquia. Em 2018, no El País defendia que a sua função histórica para a democracia espanhola tinha perdido o seu sentido e lembrando que o sistema já só entusiasma um setor conservador, sendo cada vez mais incómodo aos progressistas. E criticou a posição de Felipe VI após o referendo ilegal na Catalunha, em outubro de 2017. "Uma nova república será a melhor garantia para uma Espanha unida sobre a base do respeito e da livre decisão dos seus povos e gentes", escreveu então..Já no governo de coligação, onde é vice-primeiro-ministro para a Área Social, e no meio deste escândalo mais recente, enquanto os socialistas procuravam afastar Felipe VI de Juan Carlos, Iglesias deixava a mensagem: "É complicado ignorar que a monarquia é uma instituição hereditária na qual a legitimidade reside precisamente na filiação", indicou, defendendo um debate sobre a monarquia..Após a saída de Juan Carlos de Espanha, escreveu no Twitter: "A fuga para o estrangeiro de Juan Carlos de Borbón é uma atitude indigna de um ex-chefe de Estado e deixa a monarquia numa posição muito comprometida", defendendo que por respeito à cidadania e à democracia devia responder pelos seus atos em Espanha.."Sánchez chegou ao poder graças a uma coligação parlamentar de partidos cujo objetivo era a destruição de Espanha como unidade política e territorial. O abandono de Espanha do rei Juan Carlos é a maior vitória de quem quer acabar com a unidade de Espanha. Porque sabem que essa unidade é muito mais difícil de pôr em causa com a monarquia. E a monarquia está muito mais debilitada hoje do que ontem. Apesar de haver quem não o queira ver", escreveu o jornalista Ramón Pérez-Maura no jornal ABC (conservador e monárquico)..Os independentistas catalães.O presidente do governo catalão, o independentista Quim Torra, foi mais longe nas suas críticas e pediu mesmo a renúncia de Felipe VI..Torra denunciou a "fuga tolerada" de Juan Carlos, a quem descreveu como "um fugitivo da justiça", e instou o governo de Sánchez a explicar se "ocultou a saída de um possível corrupto para o estrangeiro", o que, na sua opinião, "comprometeria seriamente a democracia espanhola"..Segundo Torra, este é "um caso que deveria envergonhar qualquer democrata" e que "põe em causa o compromisso do governo espanhol, já para não falar do de Felipe VI, na luta contra a corrupção e a responsabilização".."Peço a Felipe VI que não prolongue mais a monarquia Borbón e abdique, para dar aos cidadãos espanhóis a oportunidade de sair deste buraco", afirmou, alegando que estará "sempre ao lado dos republicanos espanhóis", embora o seu projeto "seja o da república catalã independente"..Torra pediu ao presidente do Parlamento catalão, Roger Torrent, a realização de uma sessão plenária extraordinária para "estabelecer uma posição comum a partir da sede da soberania da Catalunha".
Depois de semanas de pressão, o rei emérito Juan Carlos deixou Espanha no meio da investigação sobre as suas contas em paraísos fiscais, deixando para trás o filho, Felipe VI, que terá de enfrentar sozinho as críticas à monarquia..Sempre se disse que os espanhóis não eram monárquicos, mas juancarlistas, agradecendo o papel que o anterior monarca teve durante a transição da ditadura para a democracia, mas diante dos escândalos, crescem as vozes - até dentro do próprio governo - contra o sistema..Depois de quatro décadas de reinado de Juan Carlos e mais de seis anos após este ter abdicado, Felipe VI enfrenta a maior crise para a monarquia espanhola..Não existem sondagens oficiais (do Centro de Investigações Sociológicas) sobre a monarquia desde 2015, sendo a última sondagem do El Confidencial de 2019. Nesta, 50,8% dos 1031 inquiridos apoiavam a coroa, contra 46,1% que defendiam a república e 3,1% diziam-se indecisos..O pai no autoexílio.A renúncia de Juan Carlos a favor do filho, em junho de 2014, não só não calou as críticas de que o monarca era alvo, como abriu a porta às investigações que agora obrigaram o rei emérito a deixar Espanha, numa tentativa de proteger não só Felipe VI como a própria instituição..A convivência entre rei e rei emérito não foi fácil. Logo no seu discurso de entronização, Felipe VI deixou claro que a coroa deve "procurar a proximidade com os cidadãos e ganhar continuamente o seu apreço, respeito e confiança", e que para isso deve "velar pela dignidade da instituição, preservar o seu prestígio e observar uma conduta íntegra, honesta, transparente". Só dessa maneira, indicou a 19 de junho de 2014, terá "a autoridade moral necessária para o exercício das suas funções"..Palavras que chocaram com aquilo que aos poucos foi sendo revelado sobre o seu próprio pai, que tinha estado quatro décadas no trono e que culminaram na sua reforma completa em junho de 2019, quando participou no seu último ato oficial..Mas as revelações sobre a alegada amante de Juan Carlos e as contas que este teria em paraísos fiscais foram-se tornando mais problemáticas quando começaram a atingir diretamente Felipe VI (que seria beneficiário de uma das fundações em caso de morte do pai), levando já em março deste ano o Palácio da Zarzuela a anunciar que o rei tinha retirado a pensão a que o emérito tinha direito (quase 200 mil euros anuais dos cofres públicos), renunciando também a qualquer herança no futuro - afastando-se assim dos seus negócios menos claros..Mas a pressão continuava para que fossem tomadas mais medidas e nesta segunda-feira foi anunciada a decisão de Juan Carlos de deixar o reino. "Com o mesmo desejo de servir Espanha que inspirou o meu reinado e diante da repercussão pública que estão a gerar certos acontecimentos passados da minha vida privado, desejo manifestar-te a minha mais absoluta disponibilidade para contribuir a facilitar o exercício das tuas funções, desde a tranquilidade e o sossego que requer a tua alta responsabilidade", escreveu numa carta ao filho, reiterando que sempre quis o melhor para Espanha e para a coroa..A mãe continuará na Zarzuela.Juan Carlos pode já estar na República Dominicana, segundo os media espanhóis, mas Sofia, com quem se casou em 1962, continuará a viver no Palácio da Zarzuela e a fazer o seu trabalho institucional e solidário na fundação que leva o seu nome. E a ser um apoio para Felipe VI, que naquele mesmo discurso de proclamação destacou "toda uma vida de trabalho impecável ao serviço dos espanhóis" da mãe..Há anos que Juan Carlos e Sofia vivem separados, dentro do Palácio da Zarzuela, sendo ocasionalmente vistos em público em algum evento..Para já, Sofia está no Palácio de Marivent, residência dos reis durante o verão, onde o próprio Felipe, Letizia e as filhas, Leonor e Sofia, são esperadas a partir do próximo fim de semana..As irmãs.Depois de Juan Carlos abdicar, em junho de 2014, tanto a infanta Elena como a infanta Cristina deixaram de fazer parte da família real, passando a ser apenas família do rei, perdendo o direito à fatia de dinheiro público que recebiam anualmente. Das duas, foi Cristina aquela que deu mais dores de cabeça ao irmão, não sendo, contudo, a relação de ambas com Letizia das melhores..Elena, que se divorciou há dez anos de Jaime de Marichalar, mantém o título de duquesa de Lugo. Está neste momento com a mãe em Marivent. Já Cristina perdeu o de duquesa de Palma de Maiorca, depois de ter visto o seu nome envolvido no escândalo que acabaria por deixar o marido, Iñaki Urdangarín, a cumprir pena de prisão por desvio de fundos públicos ou tráfico de influências..O governo.A pressão para a saída de Juan Carlos terá vindo do próprio governo, com o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, a dizer numa conferência de imprensa que não sabe onde está o rei emérito, mas a defender a decisão tomada pela coroa de o afastar.."Aqui não se estão a julgar instituições, estão a julgar-se pessoas, e o rei emérito deixou claro que está à disposição da justiça", indicou, dizendo ainda que Felipe VI "está a tomar medidas de transparência e de exemplaridade que todos os espanhóis devem valorizar"..Mas o parceiro de governo, a Unidas Podemos, é crítico da posição do anterior monarca, tendo deixado claro que não participou em nenhuma reunião com a Casa Real sobre o futuro de Juan Carlos..É conhecida a posição de Pablo Iglesias sobre a monarquia. Em 2018, no El País defendia que a sua função histórica para a democracia espanhola tinha perdido o seu sentido e lembrando que o sistema já só entusiasma um setor conservador, sendo cada vez mais incómodo aos progressistas. E criticou a posição de Felipe VI após o referendo ilegal na Catalunha, em outubro de 2017. "Uma nova república será a melhor garantia para uma Espanha unida sobre a base do respeito e da livre decisão dos seus povos e gentes", escreveu então..Já no governo de coligação, onde é vice-primeiro-ministro para a Área Social, e no meio deste escândalo mais recente, enquanto os socialistas procuravam afastar Felipe VI de Juan Carlos, Iglesias deixava a mensagem: "É complicado ignorar que a monarquia é uma instituição hereditária na qual a legitimidade reside precisamente na filiação", indicou, defendendo um debate sobre a monarquia..Após a saída de Juan Carlos de Espanha, escreveu no Twitter: "A fuga para o estrangeiro de Juan Carlos de Borbón é uma atitude indigna de um ex-chefe de Estado e deixa a monarquia numa posição muito comprometida", defendendo que por respeito à cidadania e à democracia devia responder pelos seus atos em Espanha.."Sánchez chegou ao poder graças a uma coligação parlamentar de partidos cujo objetivo era a destruição de Espanha como unidade política e territorial. O abandono de Espanha do rei Juan Carlos é a maior vitória de quem quer acabar com a unidade de Espanha. Porque sabem que essa unidade é muito mais difícil de pôr em causa com a monarquia. E a monarquia está muito mais debilitada hoje do que ontem. Apesar de haver quem não o queira ver", escreveu o jornalista Ramón Pérez-Maura no jornal ABC (conservador e monárquico)..Os independentistas catalães.O presidente do governo catalão, o independentista Quim Torra, foi mais longe nas suas críticas e pediu mesmo a renúncia de Felipe VI..Torra denunciou a "fuga tolerada" de Juan Carlos, a quem descreveu como "um fugitivo da justiça", e instou o governo de Sánchez a explicar se "ocultou a saída de um possível corrupto para o estrangeiro", o que, na sua opinião, "comprometeria seriamente a democracia espanhola"..Segundo Torra, este é "um caso que deveria envergonhar qualquer democrata" e que "põe em causa o compromisso do governo espanhol, já para não falar do de Felipe VI, na luta contra a corrupção e a responsabilização".."Peço a Felipe VI que não prolongue mais a monarquia Borbón e abdique, para dar aos cidadãos espanhóis a oportunidade de sair deste buraco", afirmou, alegando que estará "sempre ao lado dos republicanos espanhóis", embora o seu projeto "seja o da república catalã independente"..Torra pediu ao presidente do Parlamento catalão, Roger Torrent, a realização de uma sessão plenária extraordinária para "estabelecer uma posição comum a partir da sede da soberania da Catalunha".