Felipe VI. "A Europa como berço e destino comum" de Portugal e Espanha

Monarca espanhol falou pela primeira vez no parlamento português
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Dezasseis anos depois do rei Juan Carlos, Felipe VI falou hoje, pela primeira vez, na Assembleia da República. No terceiro e último dia da visita de Estado dos reis de Espanha a Portugal, o monarca voltou a fazer um discurso com algumas partes em português. Na véspera do feriado que assinala a reconquista da independência de Portugal face à Espanha, há 376 anos, Felipe VI terminou precisamente em português, afirmando que "como espanhol, como Rei de Espanha, o meu coração está com Portugal." Acabou ovacionado em pé por boa parte do hemiciclo, com exceção da bancada do PCP, que se levantou, mas não aplaudiu, e do Bloco de Esquerda, que permaneceu sentado.

Sublinhando que os dois países assinalam este ano o trigésimo aniversário da adesão às então Comunidades Europeias, Felipe VI sustentou que a Europa "é o nosso berço e o nosso destino comum". "Para ambos os países, a incorporação no projeto de integração europeu pôs em marcha um dos motores que mais promoveram o nosso progresso económico e desenvolvimento social", disse Felipe VI, defendendo que "quanto melhor estiver a Europa, melhor estarão Espanha e Portugal" - e vice-versa. O mesmo é válido para a NATO e para as Nações Unidas, capítulo em que o rei de Estanha destacou a eleição de António Guterres - "o melhor candidato" -, conseguida com o "ativo e entusiasta apoio de Espanha a partir do Conselho de Segurança". "Estou certo que o seu mandato impulsionará com força e convicção os valores universais, que num mundo tão complexo e incerto é cada dia mais necessário defender", disse o monarca espanhol.

Felipe VI fez também questão de destacar a "semelhança entre as nossas duas grandes línguas", o que constitui "uma das bases fundamentais da nossa força e singularidade", formando um "espaço linguístico composto por uma trintena de países de todos os continentes e por mais de 750 milhões de pessoas", um "espaço formidável, de alcance e projeção universal".

Também o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, destacou o passo comum dos dois países numa União Europeia a que deixou muitas críticas. "Estivemos unidos na condenação da hipótese de sanções contraproducentes e injustas aos nossos países", numa UE que "respondeu de forma tardia e insuficiente, deixando que a crise financeira se transformasse numa crise das dívidas soberanas com consequências graves nos sistemas políticos, sociais e financeiros".

"A resposta muito insuficiente da União Europeia deixou-nos impacientes no caso das sanções e muito preocupados no caso dos refugiados", disse ainda Ferro Rodrigues, num discurso aplaudido por todas as bancadas parlamentares.

Os reis de Espanha chegaram ao hemiciclo com alguns minutos de atraso relativamente ao previsto no protocolo - que define ao minuto os vários passos da cerimónia solene. Felipe VI e Letizia foram recebidos, à chegada ao Palácio de São Bento, pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e a mulher, Filomena Aguilar. O rei espanhol recebeu então honras militares e, ouvidos os hinos dos dois países, passou revista à Guarda de Honra.

Nas galerias da Assembleia da República, hoje reservadas aos convidados, estiveram Ramalho Eanes (o único ex-presidente da República presente) e Manuela Eanes - foi nesta tribuna que se sentou Letizia durante a sessão solene -, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, o ensaísta e conselheiro de Estado Eduardo Lourenço ou o capitão de Abril Vasco Lourenço.

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