O que podemos esperar de Face to F@ce na TVI Ficção?.Um programa de conversa informal, intimista, que tenta abordar todas as facetas do entrevistado. Temos algumas rubricas, umas de cariz mais profissional, como cenas mais marcantes, outras mais pessoais, com a família a falar sobre o convidado. É um talk show..São dez anos sem estar no ecrã com um programa seu..Sim, num programa meu, sim..O último que fez tinha sido na RTP1, Melhor É Impossível.Foi, com crianças... Então são dez anos (risos)! Sabe, é um bocadinho como andar de bicicleta, a gente, ao fim de cinco minutos, já pedala normalmente..Estava nervosa antes de gravar o primeiro programa? .Não, nada. Mas eu nunca fiquei muito nervosa, nem em diretos, nada. Se calhar sou inconsciente, mas não fico (risos)..Mas tem expectativas, em relação a si própria, à reação do público?.Sim, tenho expectativas. Tenho a noção de que as coisas não nascem logo a 100%. Há imensas coisas que sinto que ainda se têm de limar, muitas coisas que eu tenho que melhorar. Mas acho que os primeiros que gravei correram bem. Se me perguntar "está 100% como quer?" Não, mas tenho a certeza de que vai ficar. É uma equipa ótima, da ficção da Plural. Eu também não tenho muito tempo, tenho mesmo de ter um suporte bom, e eles são fantásticos..Fazer este programa é conflituante com o facto de ser diretora da revista Lux [propriedade do grupo Media Capital]? Imagine que vai entrevistar a Rita Pereira e, no dia anterior, a revista publicou uma capa com o novo namorado dela, por exemplo..Não é nada conflituoso. Aqui sou diretora da Lux, lá sou apresentadora de um programa. Eu separo, mas as pessoas podem não separar. Se eu amanhã tiver umas fotografias da Rita Pereira com o namorado, a primeira coisa que faço é pedir para alguém da redação lhe ligar a dizer que isso existe. Eu não tenho, à partida, uma má relação com ninguém. As pessoas podem até não gostar muito que o tenhamos feito mas, em última instância, até preferem que sejamos nós a fazê-lo de uma forma séria a serem outros, que não o fazem da mesma forma. O futuro o dirá, pode haver surpresas, mas não vou com esse constrangimento. .A maneira de se fazer televisão mudou muito, de há dez anos a esta parte?.Depende da televisão que se faz. Um talk show não muda muito, não é câmara ao ombro, não é televisão em movimento. Talvez o que tenha mudado seja uma forma mais coloquial de estar. Se lhe apetecer dar uma gargalhada, dá. Há 20 anos, quando comecei, essa gargalhada nós guardávamo-la e não a dávamos assim tão facilmente. Hoje em dia acho que talvez haja uma maneira de estar mais coloquial e para isso contribuíram também os programas da manhã e tudo isso..O seu primeiro convidado foi o Nicolau Breyner. Para além de ser seu amigo, é uma espécie de padrinho televisivo?.É. Para já, é um dos meus grandes amigos. E sim, foi com ele que comecei a fazer televisão. Ele teve o enorme mérito de me por, como atriz, a fazer uma série de televisão muito nova, Homens da Segurança. Daí eu ter percebido muito cedo que não seria atriz e que não era aquilo que eu queria fazer. Foi uma maneira de eu dizer "posso querer tudo na vida menos isto! Ser atriz eu não quero!" E isso foi uma coisa que ficou logo arrumada, o que foi ótimo. Depois fiz o Jogo de Cartas com ele, era o primeiro programa de acesso ao prime time que a RTP fazia e foi, na altura, uma lufada de ar fresco na televisão. Para nós foi fantástico porque era um ambiente ótimo e os dois, muitas vezes, falamos em momentos que vivemos, já lá vão mais de 20 anos. .Os formatos de acesso ao prime time não mudaram muito nestes 20 anos. Se formos comparar, O Preço Certo não é assim tão diferente do Jogo de Cartas. .Lembro-me que, enquanto nós gravávamos o Jogo de Cartas, o Herman dizia-nos: "Também quero um, o próximo é meu!". E foi. Acabou o Jogo de Cartas e começou A Roda da Sorte. .Já disse que começou a fazer televisão através de Nicolau Breyner. Mas porque é que quis fazer televisão?.Eu acho que nem quis bem. Eu tenho muita pouca memória nestas coisas mas creio que, uma vez, encontrei o Tozé Martinho num supermercado em Cascais. Ele estava a fazer castings para essa tal série e ele perguntou-me: "Não queres ir lá fazer o casting?" E eu achei graça. Nessa altura eu andava no mundo da moda e disse "está bem, vou'". Fui escolhida para fazer um episódio da série e, é como lhe digo, serviu para saber o que não queria, o que já é ótimo!."O reality show Confiança Cega era um formato com o qual eu não estava nada à vontade".Teve programas na RTP, SIC e agora na TVI. Como é que foi a passagem por cada uma das estações?.Estive na RTP numa altura complicada. Havia muito pouca coisa para gente nova fazer, arriscava-se muito pouco. Lembro-me que fiz um programa de moda na Piazza di Spagna, em Roma, mas em estúdio. Não me mandaram a Roma (risos). E fazíamos muita voz off, muita locução de continuidade. Enfim, não foi uma passagem que eu relembre com muita saudade. Havia um ambiente muito hostil na Av. 5 de Outubro, na altura. Lembro-me de entrar no elevador de manhã, dizer 'bom dia' e ninguém responder..A RTP pré-privadas era muito elitista?.Muito. E era muito conservadora, também. Talvez mais na área do entretenimento do que na informação. Depois tive um convite para sair, e saí..Foi um privilégio estar nos primeiros anos da SIC?.Foi. Foi fantástico. São anos que, haja o que houver, ninguém nos tira. Foi um privilégio trabalhar com uma equipa tão boa, com tanta entrega, com tanto entusiasmo, com tanta verdade nas coisas. São tempos que não se voltam a repetir. .Acha que, hoje em dia, era possível fazer um programa como o Mundo VIP?.Acho, completamente..Sem os mesmos recursos?.Nós também não tínhamos recursos por aí além. Tínhamos muitos patrocínios, mas éramos uma equipa relativamente pequena e trabalhávamos muito..Que recordações mais marcantes tem do programa?.Ui... tenho tantas! É difícil dizer-lhe uma. O coautor do programa, hoje ator, Miguel Monteiro, que foi também coordenador. Depois comecei com a Margarida Pinto Correia, depois estive um tempo sozinha, depois apresentei com o Paulo Pires. O Paulo ficou meu amigo para a vida. E toda a equipa de jornalistas que por lá passaram, e foram muitos. Os quadros da SIC... Catarina Furtado, Bárbara Guimarães... quando estavam parados tinham umas rubricas no programa. Era um programa que nunca tinha existido na televisão portuguesa. Eu lembro que, quando apresentámos aquilo ao [Emídio] Rangel... acho que só por ser o Rangel é que aquilo foi avante..O programa acabou porque tinha que acabar ou por outras razões?.Por outras razões que a razão desconhece (risos). O programa na altura tinha muito boa audiência. Não era um programa caro, mas apanhou a saída do Rangel, todo aquele rebuliço. Um dia, para minha surpresa, depois até de uma fotografia de família, quando o Rangel saiu, que o Balsemão fez questão de fazer com todos os trabalhadores da SIC, e onde eu estou com o Paulo Pires, e do Balsemão, nesse discurso, ter dito que o Mundo VIP era uma das âncoras da estação... o Manuel Fonseca [antigo diretor de programas da SIC] encontrou-me no corredor e disse-me: "O teu programa vai acabar". Sem grandes explicações. Mas também, de quem vem, não esperava mais..Porquê?.Porque acho que as pessoas revelam-se nas atitudes que têm ao longo da vida. E o Manuel Fonseca, para mim, revelou-se. Mas também não quero falar dele porque não perco tempo com mesquinhices. .Depois, ainda na SIC, apresentou o reality show Confiança Cega. Era um formato com o qual se identificava?.Não, era um formato com o qual eu não estava nada à vontade. Estávamos numa altura complicada na SIC, a TVI tinha comprado o Big Brother e nós tínhamos todos que alinhar. O Rangel pediu-me para apresentar o programa e eu achei que era altura de avançar e tentar fazer com que a estação não perdesse mais audiência do que já estava a perder. E assim fiz. Se me perguntar se era um programa com o qual me identificasse, não. Mas fiz da melhor maneira que soube e não me arrependo. Não me caem os parentes na lama..Voltaria a apresentar um reality show?.Eu não gosto de dizer 'nunca'. Friamente, acho que não, até porque hoje em dia há aí gente nova, fantástica, a despontar, e já com talento firmado, e com muito mais talento que eu. Mas, sei lá, depende das contingências do momento. ."A privatização da RTP vai ser completamente fatal para o mercado da comunicação social".A TVI Ficção surge numa altura complicada para a Prisa [acionista maioritária do grupo Media Capital], que despediu 150 trabalhadores do jornal El País..E prepara-se para despedir muito mais....Isso preocupa-a, não só porque tem este programa mas também porque é diretora da Lux?.Preocupa-me mais pelo cargo que ocupo na revista do que pelo programa. Ali, sou uma apresentadora, quando o Fragoso decidir que o Face to F@ce já deu o que tinha a dar, eu retiro-me. Na Lux, não. Sou diretora de uma equipa e preocupa-me sobretudo porque uma coisa é cortar gorduras e outra coisa é cortar osso. Preocupa-me que se corra o risco de amputar produtos..Este é o pior momento que a Media Capital atravessa?.Sim, acho que sim. Pelo menos desde que cá estou, há nove anos, é, sem dúvida. Também é o pior momento que Portugal atravessa e que a Europa atravessa. É inevitável em grupos grandes, como a Prisa, e com dívidas grandes como tem a Prisa, que nos toque. Agora, acho que não se deve perder o norte porque, se se perde o norte, deita-se tudo a perder. E depois quando se for tentar apanhar os cacos já não se consegue colar. Eu luto para que isso não aconteça, mas não sei. .A RTP está na iminência de ser privatizada e, a acontecer, será mais um player no mercado.......o que é fatal. Completamente fatal..De que forma é que a comunicação social se vai sustentar quando isso acontecer?.Aí é que está. Para as televisões é gravíssimo porque o mercado fica maior e o mercado publicitário é cada vez mais pequeno. O que vai acontecer é que vão ter que reagir e essa reação vai ser baixarem os preços da publicidade. Para nós, e agora falo enquanto imprensa escrita, vai ser gravíssimo! Porque, quando as televisões baixam os preços, nós vamos baixar também. Já está difícil. Acho que as pessoas não têm bem a noção do que se está a passar no mercado da imprensa. É brincar com coisas sérias, é poder levar uma data de empresas à falência e acho que é gravíssimo. Para nós, imprensa escrita, que somos, em matéria de publicidade, quase o fim da linha em investimento... não sei o que é que vai restar. Preocupa-me imenso a comunicação social neste país e a forma como se lida com tudo isto, e mesmo com a privatização da RTP, que é uma coisa que tinha que ser olhada de uma forma tão séria e tão ponderada... Até aqui há um mês, tudo levaria a crer que seria mais um ímpeto do ministro Relvas..De que forma acha que esta crise vai transformar os media?.Já está a transformar. Até aqui, é uma transformação que eu até posso achar lícita. Estamos todos a trabalhar com muito menos meios, com muito menos dinheiro para fazer as coisas. Agora, isto é o limite. A partir daqui, vai ser cortar osso. A partir daí, o produto fica amputado, fica irremediavelmente estragado. E eu disso tenho muito, muito medo. Geralmente, quando há estas crises nas empresas, os cortes são muito cegos. É cada vez mais difícil, neste atual panorama, e mais difícil vai ser se a RTP for privatizada, de conseguir ter alguma empresa de imprensa escrita rentável. E isso é horrível. Acho que se vive uma enorme incógnita: Onde é que isto tudo vai parar, e depois disto tudo o que é que vai restar? É claro que temos sempre aquela vontade de dizer que quem conseguir passar por esta travessia no deserto está pronto para tudo. Não sei se vai ser assim. Não sei se, na travessia, não vai morrer muita coisa. ."As minhas filhas veem-me pouco na televisão. As crianças não estão nem aí, só se nós incutirmos isso".Tem duas filhas pequenas, a Ana, de sete anos e a Rosa, de nove [fruto do casamento com o pedopsiquiatra Nuno Lobo Antunes], para além do seu filho Tomás..O meu filho Tomás, que emigrou!.Elas têm perceção de quem os pais são?.Não. As minhas filhas veem-me pouco na televisão. As crianças não estão nem aí, só se nós incutirmos isso. Depois, o pai é um médico conhecido, de quem elas têm imenso orgulho, que faz coisas que elas já aprenderam a respeitar. Quero que elas sejam livres de fazer o que as outras crianças fazem..Elas têm curiosidade em seguir a profissão dos pais?.Não. A Rosa gosta muito de televisão, é uma noveleira, mas eu também era assim. A outra não. Está na fase das bonecas, das pinturas, dos cabelos. Talvez alguma possa vir a ser médica. Jornalista espero que não, confesso, porque vejo o futuro de nós todos cada vez mais complicado..Estava a dizer-me que o seu filho, Tomás, emigrou. Acha que o futuro das suas filhas também passa por aí?.Ou este país faz uma inversão de marcha rapidamente ou acho que sim, que é inevitável. O meu filho faz 30 anos agora, é desta geração que tirou um curso superior, que tem um currículo, até à data, fantástico. Enfim, não é para isso que uma pessoa está a estudar uma vida, é para ir crescendo. Aqui, isso é muito complicado. Fui a primeira a incentivá-lo quando ele teve esta proposta para ir para São Paulo a ganhar mais do triplo do que ganhava aqui, com umas condições fantásticas. Disse-lhe para ele nem olhar para trás! Agora é claro que isto tem um preço altíssimo. Esta emigração não tem nada a ver com a emigração da época dos nossos pais e dos nossos avós. As pessoas que emigram com esta idade, muitos deles sem família criada, inevitavelmente vão constituir família nesses países e não voltam! Como é que não se tenta agarrar estes miúdos que têm algum valor? Enfim, é uma coisa que me faz alguma confusão.