Felicidade inesperada na ilha desabitada

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A estreia encenada de L"isola disabitata, de Davide Perez, motivou uma produção (encenação de Carlos Pimenta) cujo principal atrativo visual era o video-mapping (de João Pedro Fonseca) em fundo de palco, aliado a elaborado trabalho cromático e de desenho de luz (Rui Monteiro). A cena era despojada: um terreiro com areia, um rochedo do lado esquerdo. Os quatro solistas vestiam, eles, um urbano fato cinza/antracite; elas, vestido longo, rodado e acinturado (de José António Tenente).O libreto de Metastasio é garante de qualidade teatral e imagética, mas se a segunda foi vertida por orquestra e cena, já a teatral ficou aquém das possibilidades - mesmo preservando a distância ao realista/naturalista! Algo a ter em atenção em futuras apresentações. Vocalmente, estivemos bem servidos (cada cantor tem duas árias): Joana Seara (Costanza) brilhou mais na 2.ª (a 1.ª explora uma tessitura mais ingrata), Bruno Almeida (Gernando) pelo contrário esteve melhor na 1.ª (não controlou tão bem a emissão e a expressão na 2.ª), Eduarda Melo apanhou por completo o (de difícil vocalidade) papel de Enrico, e a Francesca Aspromonte assentou "como uma luva" a vocalidade e potencial teatral de Silvia. No fosso, uns Divino Sospiro em excelente forma por toda a récita (de sábado), dirigidos de forma enérgica, convicta e clara por Massimo Mazzeo. Transpareceu um intenso trabalho ao nível da textura orquestral (equilíbrios relativos, realce tímbrico, definição de fraseios, justeza das articulações) adequada a cada ária, e os recitativos foram esplendidamente liderados pelo cravista Riccardo Doni e, por vezes, pelo violoncelo solo, com intenso efeito poético.Futuros regressos à partitura farão, cremos, que se aprofunde os efeitos de contraste na orquestra, salvaguardando embora sempre o equilíbrio com as vozes.

Crítico

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