"Fechem-se as torres de arrefecimento"

O "desmantelamento imediato das torres de arrefecimento de água nos edifícios públicos e privados" e o "regresso das auditorias obrigatórias à qualidade do ar interior", são algumas das soluções
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O "desmantelamento imediato das torres de arrefecimento de água nos edifícios públicos e privados" e o "regresso das auditorias obrigatórias à qualidade do ar interior", são algumas das soluções propostas pelo presidente da Associação Portuguesa das Empresas dos Setores Térmico, Energético, Eletrónico e do Ambiente (APIRAC). O que falta é aposta na prevenção.

Porque é que as torres de arrefecimento da água são nocivas à saúde pública?

Tecnicamente, as torres funcionam. Mas o problema é que trabalham todas entre os 25 e os 40 graus de temperatura e fazem vaporização da água. A legionela transmite-se por aerossóis, é com a vaporização de água que entra nos bronquíolos das pessoas. Pelo contrário, com a água fria não há problema: pode-se beber um copo de água fria com colónias de legionela e não acontece nada. As duas principais fontes de disseminação são as torres de arrefecimento e as águas quentes sanitárias (os chuveiros, por exemplo).

Então uma solução seria desmantelar todas as torres de arrefecimento?

A APIRAC já fez essa proposta. Defendemos que deviam ser desmanteladas, até porque não há muitas - no sul do país nem há nenhumas - e substitui-las por equipamentos de arrefecimento do ar ou outras soluções. Neste momento há técnicas de arrefecimento que impossibilitam a disseminação da bactéria. Se a água estiver a 10 ou 15 graus está adormecida, à medida que vai aumentando a temperatura da água vai acordando e criando uma colónia que se vai desenvolvendo. O seu máximo de desenvolvimento dá-se a uma temperatura entre os 35 e 40 graus. Por volta dos 60 graus ficará de novo adormecida e para ser eliminada a temperatura tem de ir aos 100 graus.

Mas ainda há muitos edifícios, públicos e privados, a usarem as torres de arrefecimento?

A maioria das torres são antigas e estão a aproximar-se do fim de vida, que é de 20 a 25 anos. Mas são muito poucas e são mais usadas nos processos industriais, como se constatou no surto de Vila Franca em 2014 [morreram 12 pessoas].Há uma regra da Autoridade Regional de Saúde a proibir as montagens de torres de arrefecimento aos projetistas de ar condicionado. Essa norma tem uns 15 anos. E agora temos justificação para dizer que não queremos este equipamento porque é um perigo.

Alertaram, a propósito do surto de Vila Franca, e agora neste, que foi um erro o fim das auditorias obrigatórias à qualidade do ar interior em 2013. Já defendeu um regresso destas auditorias. Porquê?

Essas inspeções não tinham só que ver com a legionela mas também com uma série de poluentes. Entendemos que as auditorias devem ser repostas e que em relação à legionela exista legislação específica para tratar do assunto de uma forma imediata. O problema do radão (um gás que aumenta o risco de cancro do pulmão) é que só ao fim de 20 anos é que se dá por isso com o surgimento do cancro pulmonar.

Não há legislação específica e adequada?

Não. Quando foi o surto de Vila Franca participei num debate em que defendi que a lei dos produtos químicos lançados para o ambiente é antiga e não está regulamentada. Caiu-me tudo em cima. Até que agora vejo o Ministério Público a vir dizer que a lei que há não permite fazer acusações contra ninguém. Antigamente a punição podia ir até ao encerramento do edifício.

E sabe porque acabaram as auditorias obrigatórias?

A hotelaria queixava-se que era muito caro. E nos centros de idosos da Segurança Social nada daquilo passava. Há falta de prevenção e irresponsabilidade.

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