Fazer pão como quem cria uma ópera

Foi no bairro do Beato que três sócios de origem francesa encontraram o ambiente ideal para a Lully 1661, uma padaria/pastelaia artesanal que se inspira em Jean-Baptiste Lully, compositor de origem italiana que se tornou francês. O pão é o cartão de visita do espaço, mas é preciso experimentar a vasta gama de <em>viennoiserie</em> e doces.
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Figura única do período barroco, desafiando o convencional da época ao incorporar diferentes influências nas suas composições, Jean-Baptiste Lully deu inspiração à nova padaria/pastelaria artesanal que abriu no Beato, em Lisboa. "É à sua imagem que aspiramos abordar o nosso processo: como se estivéssemos a criar uma ópera, com o equilíbrio perfeito entre coração e conhecimento técnico, sem medo de inovar", diz Alain Savouré, CEO da Lully 1661, projeto que vai buscar o nome ao compositor italiano, filho de um moleiro, que se tornou cidadão francês em 1661.

A Lully 1661 é fruto da amizade dos três sócios, em cujas cabeças fervilhava uma mão cheia de ideias, e que partilhavam o interesse pela arte, história e, claro, comida. "Depois de examinarmos de perto a 'cena' das padarias, percebemos que poderíamos fazer algo empolgante, diferente de tudo o que tínhamos visto até ali. Sentimos que havia espaço para revitalizar este mercado, trazendo de volta a estética, a beleza e a clássica boulangerie e pâtisserie francesa do período barroco", conta, realçando o objetivo de criar "produtos honestos, bonitos e acessíveis para todas as carteiras".

Queriam "manter o respeito pela originalidade, mas introduzindo um lado disruptivo - quase punk -, muito como Jean-Baptiste Lully fez nas suas óperas", e viram Lisboa como o local perfeito para o fazer. "Vemos que esta cidade é onde a nossa identidade e conceito encaixam como uma luva. É vibrante, multicultural, jovem, artística - um verdadeiro centro de criação, com todo o potencial para liderar tendências. Além disso, Lisboa é uma cidade aberta, onde as pessoas estão dispostas a abraçar novas ideias e a ter novas experiências - desde que sejam boas", explica Alain Savouré.

E foram precisamente as pessoas do Beato e Marvila que ajudaram a aprimorar o produto, elaborado com uma série de farinhas importadas da região de Mâconnais. "Trabalhámos com o bairro, vendendo os nossos produtos a preço de custo em troca de feedback, feedback esse que nos levou a fazer pequenas alterações até atingirmos o ponto em que nos sentimos prontos para mostrar ao mundo o que temos andado a 'cozinhar'", conta.

O ponto de cozedura, por exemplo, é resultado desse processo de consulta popular. "Hoje, temos um pão com crosta externa crocante e um interior macio - au point - exatamente como imaginámos", gaba-se. Algumas das receitas são elaboradas com massa fermentada (levedura) 100% biológica, nomeadamente, os pães e a chamada viennoiserie (ou seja, os brioches, croissants e toda a panóplia de massas doces.

Com uma vasta oferta, o pão é o "cartão de visita" da Lully 1661. "Recomendo o Paillard. É um pão de 4,5 kg que pode ser comprado inteiro, em metades, quartos ou fatiado. É o pão perfeito para começar o dia, denso e saboroso, que pode ser apreciado tostado, com uma simples camada de manteiga, ou fresco, numa sanduíche composta, algo que também poderão encontrar no nosso menu", diz Alain.

"Os croissants e brioches também são uma excelente opção para a mesa do pequeno-almoço ou um lanche delicioso. Para os mais gulosos, recomendamos a recém-introduzida tarte de limão ou a tarte flan, que faz lembrar o clássico pudim d"avó", acrescenta.

"Estamos confiantes de que, quem se atrever a provar os nossos produtos, voltará a visitar-nos muitas vezes", remata Alain Savouré. De tal forma que ele, um francês "em transição para Portugal", já pensa mudar-se permanentemente. "Temos planos ambiciosos para a padaria e queremos levá-la a mais lugares", revela.

sofia.fonseca@dn.pt

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