Faz-me falta uma direita com valores
O espectro político que temos em Portugal é um verdadeiro vazio para quem quer pensar num país para o futuro.
Comecemos pelo princípio.
A democracia é um sistema que se baseia na alternância de acesso ao poder e que se norteia pelo Bem Comum. O desenvolvimento de um país depende disso mesmo.
Se, de cada vez que formos confrontados com uma alteração de governo, fosse considerada a total inversão das políticas até então promovidas, rapidamente nos daríamos conta de que a evolução não seria possível.
Para determinar esse elemento essencial da democracia - o Bem Comum - é fundamental ter a capacidade de debater entre todos os seus actores aquilo que pretendemos para o nosso país.
Ora, hoje, em Portugal, a oferta política que está disponível não se coaduna com esta necessidade absoluta, uma vez que apenas temos um partido de governo e uma enorme quantidade de pequenos partidos que, para encontrarem o seu espaço de existência, acabam por tentar-se desvincular ao máximo uns dos outros, não permitindo o debate sobre as ideias fundamentais para a definição do projecto democrático de Portugal.
Ao contrário de hoje, na década de setenta existiu esse debate e houve um consenso. Muito sob a influência da esquerda, muito ideológica, mas foi aceite e permitiu lançar as bases da democracia.
Mais tarde, nos anos oitenta, voltou a ser aberto este tema e foram reformuladas algumas ideias essenciais; houve uma abertura, houve mais liberdade, e permitiu-se ao país começar um caminho de crescimento e de desenvolvimento, que muito beneficiou da adesão ao mercado europeu.
Contudo, para que fosse possível prosseguir este caminho de definição da estratégia daquilo que todos consideramos um bem para todos, tornava-se essencial voltar a promover este debate de uma forma aberta e participativa para que se voltasse a colocar o essencial na mira dos nossos governantes - mas tal deixou de ser possível.
A visão imediatista com que se foi levando a vida democrática e a necessidade de ganhar eleições independentemente do benefício para o país, levou a abdicar daquilo que estruturava o Bem Comum.
A seriedade, o respeito pela verdade e a justiça foram sendo substituídos pela imagem, a promoção de novas verdades e a censura pública e, apesar de ter sido uma esquerda mais extrema que teve a habilidade de criar esta disrupção da sociedade, a verdade é que os partidos do arco da governação, de esquerda e de direita, foram entrando no jogo sempre convencidos de que seria essa a única forma de manter o poder.
Curiosamente, hoje vemos que aqueles que promoveram essa nova realidade acabaram por ser penalizados pela população, que em eleições veio mostrar que não está de acordo com as suas propostas, mas quem beneficiou com esta mudança foi, naturalmente, quem menos se identificava com os valores que estavam a ser questionados.
Assim assistimos a uma posição reforçada do Partido Socialista e a um desmoronamento das forças de direita, fundamentalmente porque quem se revê no primeiro não se choca com as causas que foram questionavas e quem se revê nas segundas desacreditou totalmente o seu trabalho e procurou alternativas.
Falta-me um partido de valores que, com coragem, assuma as ideias de uma direita que permita servir de alternativa ao Partido Socialista e que não tenha medo de defender os princípios que caracterizam uma solução de futuro deste sector político que não existe.
Falta-me um partido que crie a possibilidade de alternância e que salve a nossa democracia.