Fátima vai rezar em latim
Quando cair a noite na Cova de Iria, a 12 de Maio, a voz de Bento XVI sairá da Capelinha das Aparições para o mundo recitando o terço em latim, cabendo aos fiéis responder na sua língua.
Quem tem mais de 50 anos, boa memória e é católico, deve lembrar-se das celebrações em latim. Mas esta é a primeira vez que um Chefe do Vaticano recita o terço em Fátima e a escolha recaiu no latim. "É preciso não esquecer que o latim é a língua oficial litúrgica, e é uma língua tão apta para louvar a Deus como qualquer outra", diz ao DN, Jesus Ramos, doutorado em História da Igreja. Para o actual director do Instituto Superior de Estudos Teológicos, em Coimbra, "quando a Igreja está em volta do Papa a rezar o latim é um sinal de unidade a viver o mistério da fé. O latim não é de ninguém, é de todos".
O actual porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Padre Manuel Morujão, considera que "seria um erro crasso sobrevalorizar o latim, assim como menosprezá-lo", uma vez que "nos ambientes internacionais [como é esta peregrinação] é natural que se use uma língua multicultural". O director do Serviço Pastoral Litúrgico, padre Francisco Pereira, assinala que a recitação do terço em Fátima na peregrinação de 12 e 13 de Maio é multilingue: "Normalmente é rezado o primeiro mistério em português, o segundo em espanhol, o terceiro em italiano e o quarto em inglês. É desejo do Papa ter um papel preponderante na recitação do terço e ele escolheu a língua universal da Igreja". Já o professor Jesus Ramos lembra ser "evidente que os mais jovens não sabem latim. Hoje, não seria útil que na minha paróquia celebrasse missa em latim, as pessoas não iriam entender". Recorda até que o latim está quase ausente dos planos curriculares de Teologia.
Perante o regresso do idioma ancestral, o clero francês rompeu o silêncio: cinco bispos e 30 padres mostraram-se preocupados com a concessão aos ultraconservadores, desvalorizando as conquistas do Concílio Vaticano II (1962/65) com o qual foi permitido o culto nas línguas modernas de cada país. Em Fátima, tal como fazia quando era cardeal, Bento XVI volta a ser protagonista na vertente conservadora.