Fãs de metal levam fábrica de cassetes da Maia a bater recordes
Nas décadas de 1980 e de 1990, era possível encontrar, em qualquer café, expositores com música popular portuguesa à venda em cassetes. Nel Monteiro chegou a vender um milhão de cópias nessa época. Mas estamos em 2020 e agora são os fãs de metal os principais impulsionadores deste formato.
O entusiasmo dos "metaleiros" tem permitido a recuperação de um hábito que está em contraciclo com a revolução digital: ouvir música em cassete. A Edisco - a única fábrica do género na Península Ibérica - fica dentro da zona residencial de Águas Santas, na Maia, e tem duplicado anualmente a produção na última década.
Depois de ter fabricado 150 mil unidades no ano passado, já superou esta marca neste ano e vai registar em 2020 o recorde dos últimos 15 anos.
O segredo do sucesso está no passa-palavra e "em falarem de nós nos fóruns. Nunca fizemos publicidade", indica ao Dinheiro Vivo o líder da Edisco, Armando Cerqueira.
Além do metal, são produzidas cassetes para géneros musicais como eletrónica, noise e punk. Também são fabricadas cassetes para a consola ZX Spectrum.
Mais de oito em cada 10 unidades vão para o estrangeiro, para destinos como Europa, Estados Unidos, Brasil, Peru, México e Indonésia. São raras as encomendas para músicos portugueses. Mas foi desta fábrica da Maia que saíram recentemente cassetes para homenagear o francês Johnny Hallyday.
Na era em que boa parte do consumo de música é feito digitalmente, a cassete virou também artigo para colecionadores. "Há muita gente que as compra mas nem sequer as ouve. Cada unidade chega a ter um código para ouvir no digital".
Em média, são produzidas séries de 300 unidades, muitas vezes esgotadas ainda nas pré-vendas. "Chegamos a ver cassetes na internet à venda por 80 euros e que tinham um preço original de 5 euros."
As editoras, "para tentar conter a especulação", lançam novas edições, só que os colecionadores que adquiriram a primeira edição "acabam por comprar as restantes".
Na Europa, há fábricas de cassetes em Inglaterra, Polónia e Bulgária. A diferença é que a Edisco usa máquinas industriais, o que encurta o prazo de entrega de seis para apenas duas semanas.
As editoras mandam pela net os ficheiros com as músicas já masterizadas. Os funcionários da produtora da Maia transferem as faixas para um CD, que é inserido numa máquina para depois se criar a bobine principal, que servirá de base às cópias nas cassetes.
Segue-se a impressão, feita a partir de chapas. Na última etapa, é incluída a capa, cuja parte gráfica é desenhada junto de parceiros da Edisco. Como as máquinas são de 1990, é necessária manutenção constante "e alguma fé", porque quando são precisas novas peças "é muito complicado".
Apoiada na faturação de 200 mil euros, a Edisco acredita que vai ser possível "continuar a aumentar a produção" e sobreviver a mais uma crise.