Faroeste
Quando se entra no campus de uma universidade norte-americana, mesmo que esteja longe de ser uma escola de líderes ou de génios da ciência ou da inovação, o que marca é a facilidade de acesso ao conhecimento global. Mesmo na região metropolitana mais pobre dos EUA - McAllen-Edinburgh-Mission, no Vale do Rio Grande, no Texas, onde o rendimento per capita é o mais baixo das 276 regiões metropolitanas dos 50 estados e a população tem o nível mais baixo de escolaridade e formação superior ou profissional das 150 metrópoles do país (estudo divulgado na semana passada pela revista Forbes) -, a biblioteca é uma porta escancarada para o saber do mundo. E no entanto.
Ontem, 1 de agosto, passaram 50 anos sobre aquele que é considerado o primeiro massacre da era moderna nos EUA. O ano era o de 1966 e passavam poucos minutos das onze e meia da manhã quando Charles Whitman, 25 anos, ex-marine, subiu os 27 andares da torre da Universidade do Texas, em Austin, com uma espingarda e desatou a disparar indiscriminadamente. Matou 17 pessoas e feriu mais de 30. Ontem, 1 de agosto, foi a data escolhida pelo estado do Texas para entrar em vigor a lei Campus Carry, que permite que todos os maiores de 21 anos - estudantes, funcionários ou professores - com licença de porte de arma possam circular armados com uma pistola pelos campus e edifícios das universidades públicas do estado. As novas regras mandam que a pistola deve estar escondida e acondicionada em coldre apropriado e os reitores podem designar algumas áreas da universidade "livres de armas". As salas de aulas, no entanto, não são um destes locais. A medida, justificou o governador republicano do Texas, destina-se a prevenir massacres nas escolas e de nada valeram os protestos dos professores que apontaram para a combinação explosiva entre estudantes e armas e a ameaça que a lei representa para a liberdade académica. O estado conservador e pró-armas do Texas não é, aliás, o primeiro a implementar a lei Campus Carry e segue as pisadas de outros seis onde ela já está em vigor com mais ou menos variantes. E no entanto.
Dados do Gun Violence Archive, uma organização sem fins lucrativos norte-americana, revelam que nos últimos dois anos e meio foram registados no país um milhar de ataques indiscriminados com armas de fogo, que mataram 1134 pessoas e feriram mais de 3900. Os massacres, mostra a estatística, são cada vez mais frequentes e mais letais.
Oito anos do democrata Obama não conseguiram acabar com as armas nos EUA. Hillary terá, provavelmente, a mesma má sorte. E, se os americanos elegerem Trump para a Casa Branca, será o verdadeiro regresso ao faroeste.