Faro. Doente morreu após falhas graves na assistência

Várias decisões erradas fizeram que homem com AVC estivesse seis horas para ser atendido, concluiu o Tribunal de Contas
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Má referenciação, cuidados hospitalares insuficientes, erro na triagem telefónica do Centro de Orientação de Doentes Urgentes e um inquérito do Centro Hospitalar do Algarve com "falhas graves e [que] foi totalmente inconsequente, em termos de apuramento de responsabilidades". O Tribunal de Contas (TdC) não poupa nas críticas à forma como um doente de 74 anos foi atendido pelo hospital de Faro com um diagnóstico de acidente vascular cerebral isquémico e que foi transferido do Algarve para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde morreu, a 28 de dezembro do ano passado, 13 dias após ter sido transferido.

No relatório de uma auditoria ao serviço de urgência do Centro Hospitalar do Algarve, divulgado ontem, o tribunal frisa que as "falhas de organização e de procedimento na assistência ao doente implicaram perdas de tempo de cerca de 15 horas". Neste período incluiu seis horas de atraso no atendimento ao doente devido ao não registo pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) das "queixas relevantes apresentadas pelo doente quando da chamada de emergência". Ou seja, não foi acionada a via verde

A inspeção do TdC também não poupou a avaliação da Entidade Reguladora da Saúde, que não terá comportado "procedimentos de averiguação, avaliação e controlo autónomos, nem analisou a reclamação dos familiares do doente, pelo que nada acrescentou ao inquérito já realizado".

Segundo o documento toda a assistência ao doente foi um acumular de falhas de organização e procedimentos, começando pelo facto de o Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM não ter feito o registo completo das queixas do doente. Se o tivesse feito, alega, o homem teria sido encaminhado para o serviço de urgência de Faro e não para as urgências de Vila Real de Santo António. Foram ainda detetadas falhas no acionamento da Via Verde AVC (foi sinalizado no sistema informático clínico da urgência mas não foi acionado), o que terá implicado que o doente tenha sido observado com um atraso de cinco horas após a triagem.

Também o clínico neurologista da unidade de AVC do Centro Hospitalar do Algarve não escapou às críticas. "Não contactou o hospital de referência, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte. Esta decisão foi tomada com base na suposição de que o Hospital de Santa Maria não dispunha de equipa para procedimentos de neurorradiologia de intervenção." Foi feito um contacto com o Hospital de São José, que informou não dispor, na hora prevista de chegada do doente, de meios humanos habilitados para prestar os cuidados necessários. Segundo relata o TdC, o neurologista não averiguou a disponibilidade de outros centros hospitalares mais próximos, pedindo transferência para Coimbra, onde o pedido foi aceite.

Quanto ao inquérito aberto pelo Centro Hospitalar do Algarve sobre o caso, o TdC diz que tem "falhas graves" e que foi inconsequente.

Morte em Abrantes

No dia em que se conhece este relatório sobre a deficiente resposta das urgências de um hospital, a TVI 24 divulgou que um doente de 75 anos morreu na terça-feira a caminho do Hospital de São José (Lisboa) depois de ter estado cerca de três horas à espera em Abrantes por uma vaga numa unidade com neurocirurgia. A vítima, que estava a ser transportada de helicóptero para Lisboa, tinha sofrido uma hemorragia cerebral, provocada por um aneurisma. Com Lusa

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