Farmácias pequenas com muitos remédios antigos
Maria Teresa Castelão percorre com os dedos as facturas dos medicamentos pedidos aos distribuidores nos últimos dias de Outubro. "Está a ver? Esgotado, esgotado, esgotado. Não me lembro de esperar tanto tempo por tantos medicamentos ao mesmo tempo", conta a responsável pela Farmácia Nacional. Desde terça-feira que todos os fármacos à venda nas farmácias têm de ter novos preços, 6% mais baratos. Mas neste pequeno estabelecimento no centro de Lisboa ainda há muitos que mantém o custo antigo. E os novos tardam em chegar.
Apesar de o Ministério da Saúde garantir que a substituição dos preços dos remédios decorreu com normalidade, Maria Teresa Castelão relata as dificuldades no abastecimento. "Tenho 90 medicamentos pedidos, só me chegaram 40. Houve rupturas de stock, porque os fabricantes tiveram que remarcar tudo". Por isso, muitos dos remédios disponíveis nas prateleiras mantém o mesmo valor. "Já os tinha na farmácia e não se esgotam de um dia para o outro. Há alguns que, ao longo do ano, não se vendem nem uma vez. E podem existir milhares", defende a farmacêutica. " As farmácias nos arredores de Lisboa, que têm mais movimento, podem já ter a maior parte dos medicamentos com novos preços, mas nestas zonas da cidade, onde já não mora ninguém, é mais difícil vender tudo rapidamente."
O Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) garante, por seu lado, que os remédios de preço antigo que ficaram armazenados nas farmácias "são menos de 1%" e correspondem apenas aos fármacos com menos rotação. Todos os outros já custam menos aos doentes.
Quem não sentiu a diferença de preços foi Maria Vicente, de 58 anos. Acabou de comprar um saco cheio de genéricos e de fármacos de marca. Todos os meses gasta "uns 60 euros" na farmácia, e não sentiu a redução de preços na factura que acabou de pagar. "Vou agora comparar os preços em casa, mas acho que é a mesma coisa, nem sabia que tinham baixado". A culpa nem é da farmácia Vieira Borges, no centro de Lisboa, que diz já ter praticamente todos os medicamentos ao preço novo. "Há pessoas que perguntam por que razão alguns medicamentos genéricos estão mais caros e temos que lhes explicar que houve uma redução da comparticipação do Estado", explica a farmacêutica Isabel Lucas.
Em pleno Rossio, o movimento constante da Farmácia Estácio permitiu já escoar a maior parte dos remédios antigos e 80% já têm novo preço. Mas também aqui há remédios que continuam a custar o mesmo. É o caso do oxepar, um antidepressivo que chegou em Abril de 2004 e, devido à pouca procura, continua nas gavetas. "Continuo a vendê-los, não vou dizer às pessoas que não os tenho só porque têm outro preço", diz José Augusto. "Provavelmente só serão substituídos quando acabar o prazo de validade". O que pode demorar anos. No caso do antidepressivo, é até 2007.