Fantin-latour, um pintor intimista de referência
É um Retrato do Artista Sentado ao Cavalete, assinado pelo próprio, em 1858, que abre a primeira retrospectiva de Fantin-Latour na Península Ibérica. É apenas um dos muitos auto-retratos do pintor incluídos na exposição que hoje se inaugura na sala de exposições temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Esta é a maior mostra dedicada ao francês em mais de 25 anos, e foi organizada em parceria com o Museu Thyssen-Bornemisza, de Madrid, que no final de Setembro vai receber estes objectos.
Apesar de ser um dos grandes nomes da pintura francesa do século XIX, Henri Fantin-Latour não é muito conhecido em Portugal. Contemporâneo e amigo pessoal da geração impressionista, é definido por Vincent Pomarède, curador do Departamento de Pintura do Museu do Louvre e comissário da mostra, como "um pintor de inspiração clássica que representava a intimidade da família moderna da sua época". Já para Guillermo Solana, director do Thyssen-Bornemisza, é "um grandes pioneiros (juntamente com Whistler, Manet ou Degas) da alvorada da pintura moderna", apesar de não ter ainda recebido "a atenção que merece".
Esta exposição pretende corrigir esse lapso. Ao todo, estão na Gulbenkian cerca de 60 pinturas e 17 desenhos e gravuras, divididos por nove núcleos. A secção Fantin Por Ele Mesmo abre a exposição com sete auto-retratos do pintor. Surgem depois os estudos e cópias de obras famosas que também marcaram o início da sua carreira. Durante anos, estas peças serviram de fonte de rendimento para o francês, fiel ao trabalho dos Grandes Mestres. Neste núcleo, Para O Louvre!, é possível encontrar duas cópias segundo As Bodas de Canaã, de Veronese.
Como seria de esperar, os retratos intimistas que popularizaram Fantin encontram-se em destaque. Entre as figuras representadas estão as suas irmãs, a sua mulher e também pintora Victoria Dubourg, os seus mecenas britânicos, o casal Edwards, ou escritores como Paul Verlaine ou o jovem Arthur Rimbaud, imortalizados em Ao Redor da Mesa. E nem faltam as inevitáveis naturezas-mortas ou os seus conhecidos "retratos de flores", tal como obras gráficas inspiradas pela música e seus compositores.
Naquela que, segundo a coordenadora da exposição Luísa Sampaio, é "a primeira grande exposição monográfica de Fontain-Latour desde 1983" é ainda possível descobrir um lado menos conhecido do francês. Assim, na secção convenientemente intitulada Simbolismos encontram-se vários quadros que atestam uma aproximação ao simbolismo. "Para ele, [essa] era a pintura do futuro", explica Sampaio.
De acordo com a coordenadora da mostra, Calouste Gulbenkian, um dos grandes admiradores do pintor, "conservou na sua colecção quatro das suas obras". Mas para reunir os 74 objectos de arte agora apresentados, a Fundação teve que colaborar com instituições internacionais. Exemplos? O Museu d'Orsay e o Petit Palais, de Paris, a Tate e o Victoria and Albert Museum, de Londres, os Museus de Belas Artes de Bruxelas e Grenoble, e a Galeria dos Ufiizi, de Florença, entre outros.