Famílias portuguesas nunca pouparam tão pouco
Não é o pior entre os Estados membros da União Europeia, mas também está longe dos melhores. A taxa de poupança das famílias portuguesas está no nível mais baixo desde que há dados disponíveis. Há 23 anos que a proporção de dinheiro que as famílias colocam de lado é a menor de sempre.
Para 2017, o Eurostat apenas dispõe de dados atualizados para 19 dos 28 Estados membros da União Europeia. De fora ficam a Bulgária, a Croácia, a Grécia, a Eslováquia, a Irlanda, Malta, a Roménia, a Polónia e o Reino Unido. Mas mesmo tendo em conta os dados de 2016, Portugal aparece entre os países em que as famílias menos poupam. A pior posição pertence a Chipre, que mantém desde 2013 uma taxa de poupança em valores negativos. No topo está o Luxemburgo, com uma taxa de poupança a rondar os 20%.
Em relação à zona euro, Portugal sempre apresentou uma taxa de poupança abaixo dos níveis dos parceiros da moeda única, mas nos últimos anos a distância tem vindo a aumentar, tal como para os parceiros da UE.
Mas, voltando a Portugal, se em 1995 a taxa de poupança ultrapassava os 12,5% do rendimento disponível, a partir de então tem vindo sempre a descer. Uma tendência que se mantém até agora. E que parece não estar a abrandar.
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De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de poupança das famílias voltou a diminuir no segundo trimestre deste ano, descendo para 4,4% do rendimento disponível. É uma queda de 0,2 pontos percentuais face aos primeiros três meses do ano.
A descida da taxa de poupança é justificada pelo aumento do consumo, cujo ritmo de crescimento superou o aumento do rendimento disponível. A despesa de consumo final aumentou 0,9%, enquanto o rendimento disponível cresceu 0,7%.
"O crescimento do rendimento disponível das famílias foi influenciado pela variação das remunerações recebidas, que registaram um acréscimo de 1% no segundo trimestre de 2018 após um aumento de 0,9% observado no trimestre anterior", indica o INE.
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"A taxa de poupança das famílias portuguesas tem apresentado uma tendência de redução desde o início da união monetária, a qual foi apenas temporariamente interrompida no início da crise económica e financeira." A avaliação é do Banco de Portugal num destaque publicado no Boletim Económico de maio de 2016.
Na altura, o supervisor notava que esta evolução "contrasta com a média da área do euro, onde a taxa de poupança se reduziu apenas ligeiramente desde 1999, permanecendo num nível significativamente superior ao registado em Portugal". A análise, apesar de ter dois anos, ainda se mantém atual.
Na avaliação que fez em 2016, o Banco de Portugal apontava alguns fatores que poderão justificar os baixos níveis de taxa de poupança. Entre esses fatores está o acesso mais fácil ao crédito ("redução das restrições de liquidez"), mas também a redução da desigualdade na distribuição de rendimento.
Os portugueses só conseguem poupar, em média, 80 euros por mês, um dos mais baixos entre os países da EU, de acordo com o relatório European Payment Consumer Report, divulgado ontem pela Intrum. É um valor bastante abaixo da média europeia, que é de 385 euros.
Países como a Suíça (250 euros), a Noruega (198 euros) e a Suécia (184 euros) possuem os valores de poupança mais elevados.
Abaixo da média de Portugal estão a Polónia (69 euros), a Lituânia (67 euros), a Letónia (44 euros), a Hungria (40 euros), a Roménia (40 euros) e a Grécia (31 euros).
O estudo revela ainda que 58% dos portugueses conseguem poupar dinheiro mensalmente, um valor ligeiramente acima do da média europeia que ronda os 57%.
Para a realização do estudo foram entrevistados 24 401 consumidores europeus, 1009 dos quais em Portugal.