Familiares de exilados espanhóis começam a pedir nacionalidade

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Espanha I. Medida contida na lei da memória histórica pode abranger meio milhão de pessoas

Filhos e netos de vítimas da guerra civil e regime de Franco podem pedir

Cristian López guardou preciosamente os documentos do avô Felipe, oriundo da Corunha, na Galiza, à espera que o dia de hoje chegasse. É que a partir de agora os descendentes dos exilados da guerra civil e do franquismo vão poder pedir a nacionalidade espanhola. E este argentino, de 32 anos, não vê a hora de ter os papéis para ir a Espanha.

"Aqui é difícil ter sucesso. Eu ganho mil pesos [250 euros] a trabalhar como empregado de mesa todo o dia e está tudo muito caro. A Argentina não me oferece nenhum futuro", lamentou este descendente, em declarações a Rosario Ganbino, correspondente da BBC em Buenos Aires. Cristian, que também vive na capital, admitiu, contudo, que não percebe bem os trâmites do processo.

Os interessados, que segundo os media espanhóis e latino-americanos poderão chegar ao meio milhão, podem pedir a nacionalidade espanhola pela Internet ou de forma presencial, nas embaixadas, consulados e registos civis municipais de Espanha. Os pedidos têm de vir acompanhados por certidões de nascimento dos pais ou mães de origem espanhola. No caso dos netos é necessário apresentar provas da condição de exilado do seu avô ou da sua avó.

Em Havana, capital cubana, centenas de pessoas fazem fila frente ao consulado-geral de Espanha desde a passada sexta-feira, indicou a Efe, para pedir os formulários necessários. Apesar disso é a Argentina o país com maior número de beneficiários - aproximadamente 300 mil. Os outros países são, segundo a AFP, o Uruguai, o Chile, a Venezuela, o México e, até mesmo, a França.

As pessoas elegíveis terão um período de dois anos para depositar os seus pedidos, até final de 2010, segundo o site da Associação de Descendentes do Exílio Espanhol. A medida aplica-se, essencialmente, aos filhos e aos netos dos que foram forçados ao exílio entre 18 de Julho de 1938 e 31 de Dezembro de 1955. Os visados não terão de renunciar à sua nacionalidade anterior uma vez que a espanhola é a nacionalidade de origem.

A medida é uma das disposições da chamada lei da memória histórica, aprovada em 2007 pela maioria do Parlamento espanhol. Esta visa reabilitar as vítimas da sangrenta guerra civil espanhola - principalmente as republicanas. A lei esteve envolta em polémica desde o início, pois o Partido Popular, que se encontra actualmente na oposição, acusa o Governo socialista de Zapatero de estar a abrir desnecessariamente as feridas do passado.

Esta legislação controversa, que foi aplaudida pelas dezenas de associações para a recuperação da memória histórica espanholas, prevê ainda, entre outras coisa, a retirada de símbolos franquistas de lugares públicos e ajudas estatais para os que quiserem resgatar os restos mortais dos seus familiares das valas comuns e dar-lhes um enterro digno. Milhares de espanhóis, sobretudo republicanos, lado derrotado da guerra, jazem, anónimos, em fossas espalhadas por toda a Espanha.

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