As provas de automobilismo em circuito urbano vão regressar a Vila Real nos próximos dias 5, 6 e 7 de Outubro, 16 anos depois da última edição. A câmara e o comércio estão entusiasmados. Mas para a família Pinto há feridas que não se apagam. "O regresso das corridas a Vila Real é, para mim, um tormento", disse ao DN Carlos José Pinto, de 53 anos, que em 1991 perdeu parte da sua família - irmão, filho e sobrinho - na última edição da prova..Há 16 anos, tudo aconteceu em segundos, com o despiste do piloto Pedro Carvalho na antes conhecida como "curva da Ford", na zona da Araucária, a provocar quatro mortos entre a assistência e ferimentos graves em diversos espectadores..Com a voz embargada e olhos rasos de água, Carlos Pinto manifesta toda a sua revolta pelo que aconteceu em Julho de 1991, quando ao pé de si viu cair um irmão na altura com 40 anos, um filho de 14 e um sobrinho de 10. "Só não morri, tal como o meu filho de cinco anos e a minha filha de 15, porque nos mantivemos estáticos e o carro em despiste passou-nos por cima, indo atingir os restantes. Não havia nenhuma protecção a não ser uma fita amarela que resguardava os espectadores, estávamos de peito aberto", recordou..Foi este acidente que levantou a polémica e originou a suspensão das provas automobilísticas. Serão agora retomadas, com um novo traçado que já não inclui esta zona onde ocorreu o acidente. Por isso, os organizadores não querem falar deste acidente, garantindo que o circuito actual oferece todas as condições de segurança..Mas Carlos Pinto e os filhos não conseguem esquecer aquele dia de 1991. "Fui ressarcido através do seguro, em processo cível, mas tentei também demandar criminalmente a organização e o próprio piloto causador do acidente. Nunca consegui que um advogado desta cidade aceitasse representar-me na questão", afirmou ainda ao DN.. Acrescentou que foi aconselhado a desistir do processo-crime "pois não teria hipóteses", dado que a organização do circuito "tinha muito peso". Agora, não tem dúvidas, em Outubro vai viver "os dias mais tristes da vida". Com o regresso das corridas a Vila Real sinto-me derrotado..O filho, Carlos José, hoje com 21 anos, tinha cinco quando viu morrer ao seu lado o irmão de 14 anos, um tio de 40 e um primo de 13..Passados 16 anos fala pela primeira vez do acidente de que "escapou por milagre". "O carro após o despiste voou, ultrapassando as barreiras colocadas, passou por cima de mim e do meu pai e colheu os meus outros familiares. Foi horrível. Por tudo isso não concordo com o retomar das corridas na cidade. Estão manchadas com o sangue dos meus familiares", disse Carlos José ao DN..Como não suporta assistir a corridas, já decidiu: "Nos dias das corridas em Vila Real, abandono a cidade com a minha família."|