Falta de turistas faz cair 40% vendas de vinho do Porto

Em ano de pandemia, França destrona Portugal e torna-se o primeiro mercado de destino.
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O mercado nacional é o mais castigado em termos de vendas de vinho do Porto, que caíram 40,26% entre janeiro e agosto. Os dados são dos Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) e revelam os efeitos da falta de turistas no país. Desde 2017 que, com o boom do setor turístico, Portugal se tornara o principal mercado deste vinho licoroso, em termos de valor, mas, em ano de pandemia, a França voltou a ocupar o primeiro lugar do pódio.

O Instituto Nacional de Estatística só divulga os dados das exportações na próxima sexta-feira, mas o IVDP já tem os números das vendas dos vinhos do Porto e do Douro devidamente compilados. Ambas as denominações caem, quer em valor quer em volume. Assim, nos primeiros oito meses do ano, foram vendidas 4,095 milhões de caixas de nove litros de vinho do Porto, no valor de 176,4 milhões de euros. A quebra homóloga em volume é de 11,12% e em valor é de 14,72%.

As vendas em Portugal caíram 35,27% em volume e 40,26% em valor, para pouco mais de 25 milhões de euros. França, com os seus 40,355 milhões de euros, é de novo o principal mercado consumidor, apesar da quebra de 9% em volume e de 9,29% em valor. Os Estados Unidos recuam 4,3% (apesar de, em volume, crescerem 4,5%), a Holanda cai 9% e o Reino Unido mais de 10%. Mas há quem esteja a comprar mais.

É o caso de Alemanha, Canadá, Rússia, Noruega, Luxemburgo e República Checa, todos com crescimentos em valor que vão dos 1,7% aos 28,09%. A que se juntam a Irlanda e a Itália, com crescimentos em valor, mas não em volume.

Quanto à denominação de origem Douro, as vendas estão a cair 8,2% em volume e 12,6% em valor, num total de 90,6 milhões de euros. Portugal perde quase 20%, França mais de 21%, os EUA 10,4% e o Brasil 8,2%. Mas aqui o panorama é mais positivo, com as vendas para Canadá, Suíça, Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Polónia, Noruega, Suécia e Holanda a crescerem.

"As coisas estão difíceis. Não estão catastróficas, como se temia no início da pandemia, mas estão complicadas. Assistimos a alguma recuperação em julho e agosto, mas Portugal e França, que são os dois maiores mercados do vinho do Porto, continuam a ser muito castigados", diz a diretora-geral da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), assumindo grande apreensão face aos próximos meses. "Não podemos esquecer que o Natal representa muito para o setor e tememos os efeitos do inverno e de possíveis novos confinamentos", assume Isabel Marrana.

Para a responsável, estes números são "a prova do algodão" de que o sucesso do mercado nacional nos últimos anos "não era resultado do consumo nacional, mas do crescimento do turismo". E, se nos vinhos do Douro o crescimento de vendas em super e hipermercados "vem substituir alguma das perdas na restauração e garrafeiras", no "Porto" isso não se verifica.

Por outro lado, a AEVP destaca a "enorme resiliência" do setor e lembra que a "vindima curta" deste ano "veio ajudar a suportar" o preço aos produtores, acabando por ser um "fator positivo para a visão global do negócio". A previsão de colheita divulgada pelo Instituto da Vinha e do Vinho em julho apontava para uma quebra de 20% na produção da Região Demarcada do Douro, mas há áreas com perdas que chegam aos 40%.

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