Falta de coordenação entre polícias na caça ao homem preocupa governo

Passados nove dias dos homicídios em Aguiar da Beira, sem a captura do suspeito, surgem críticas à falta de estratégia operacional
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A descoordenação das forças policiais envolvidas na "caça" ao suspeito dos homicídios de Aguiar da Beira está a causar crescente preocupação no governo. Passados nove dias, o impasse mantém-se, com informações contraditórias a virem a público e um evidente fracasso operacional. Pedro Dias continua por capturar. Ontem à noite, a GNR realizava buscas em localidades do distrito de Vila Real, próximas do local onde o fugitivo abandonou um carro que tinha roubado.

O ex-secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SG-SSI), juiz conselheiro Mário Mendes, avisa a sua sucessora, a procuradora Helena Fazenda, que "faz parte das suas competências promover mecanismos de coordenação" em casos "desta gravidade que são uma ameaça à segurança pública". O magistrado sublinha que "o alarme público em causa, em que ainda estão vidas de pessoas em perigo, tendo em conta o nível de violência revelado pelo suspeito, exige medidas extraordinárias. Toda a ajuda é necessária". Fazenda tem estado em silêncio e não respondeu ao DN, quando questionada sobre a sua intervenção no caso.

Ministra preocupada

O DN sabe que a ministra da Administração Interna não tem escondido a sua preocupação. Contactado, o seu gabinete confirma que "diariamente a sra. ministra tem telefonado à PJ para colocar à disposição todos os meios e recursos das polícias sob a sua tutela". Aparentemente sem resultado visível. No terreno, garantem ao DN fontes envolvidas, não tem havido coordenação entre a investigação da Judiciária e a GNR, que tem a sua própria operação em campo. Não tem havido sequer reuniões para definir táticas operacionais.

Quadros superiores da PJ, PSP e GNR, com experiência em incidentes tático-policiais graves - como pode ser este tecnicamente classificado -, ouvidos pelo DN, não entendem como "perante a gravidade do incidente, não foi criado um centro de coordenação e comando, ou um gabinete de crise, onde todas as polícias trocassem informações e afinassem estratégias". Um desses peritos assinala que a "coordenação" devia ter em conta três objetivos fundamentais: "O primeiro é a salvaguarda da vida das pessoas, o segundo é capturar o suspeito, o terceiro é levá-lo à justiça." Para isso, sublinha, "tem de haver articulação e coordenação entre as autoridades". Um oficial da PSP lamenta que esta força de segurança "esteja a ser colocada à margem das operações". Esta polícia remeteu à PJ todas as informações que tinha na sua base de dados sobre Pedro Dias, sabe o DN. "Mas em troca, nada. Estamos às escuras, apesar de termos responsabilidade na segurança das zonas urbanas da região alvo da operação".

Falhas de coordenação grandes

Mário Mendes evidencia que "as falhas de coordenação são bastante grandes e que, pelo menos, a SG-SSI deveria reunir de urgência o Gabinete Nacional de Segurança (onde estão representadas as polícias e as secretas) e incentivar mecanismos de cooperação que não estão a ser realizados".

O ex-superpolícia admite e entende que "deveria ser a PJ a dirigir um eventual centro de comando e coordenação, tendo em conta que a investigação destes crimes é da sua responsabilidade". A Lei de Segurança Interna diz que o SSI "tem poderes de articulação das forças e dos serviços de segurança no desempenho de missões ou tarefas específicas, limitadas pela sua natureza, tempo ou espaço, que impliquem uma atuação conjunta, de acordo com o plano de coordenação, controlo e comando operacional".

A tutela do SSI é do primeiro-ministro, cujo gabinete não respondeu ao DN.

Ministra da Justiça nega descoordenação

Entretanto, e já hoje, a ministra da Justiça veio negar descoordenação no caso do homicida de Aguiar da Beira, bem como o diretor nacional da Polícia Judiciária e o comandante operacional da GNR. "Não há nenhum problema de descoordenação no que diz respeito a essa operação", disse a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, em declarações aos jornalistas, no final da cerimónia do 71.º aniversário da PJ.

Uma garantia subscrita pelo diretor nacional da PJ, Almeida Rodrigues, pelo Comandante Operacional da GNR, Rui Moura, e pela secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Helena Fazenda, que sublinhou terem sido acionados, desde o início deste caso, "mecanismos de articulação e cooperação". "Essa articulação é real, concreta e diária", assegurou Helena Fazenda, a propósito da operação para localizar e deter o suspeito e fugitivo Pedro Dias.

Com DAVID MANDIM

Notícia atualizada às 18.30. Incluídas reações da ministra da Justiça, do diretor nacional da PJ e da secretária-geral do Sistema de Segurança Interna

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