Falsos cães de raça à venda na Net e nos jornais

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Para atender a um pedido insistente dos filhos, Margarida Araújo decidiu comprar um cão. Escolheu a raça labrador, por ser um cão descrito como brincalhão, meigo e altruísta, próprio para crianças de nove e seis anos. Viu um anúncio de um criador de Gondomar num jornal a quem uma pessoa amiga tinha comprado há tempos um cão, foi lá e acabou por comprar um cachorrinho pelo qual pagou cerca de cem euros.

Logo na primeira visita ao veterinário, ficou a saber que tinha sido lubridiada. Afinal, o Goldy não era mais do que um rafeiro. E Margarida Araújo tornou-se, assim, mais uma "enganada" neste negócio crescente da procura de cães de raça pura.

Em jornais, na Internet e até em lojas de animais anunciam-se ninhadas de cachorrinhos das mais diversas raças. Por mais do que uma vez, as pessoas acabam por ser enganadas, comprando cachorros que mais tarde se verifica não serem os cães pretendidos.

A única certeza que o comprador pode ter relativamente à segurança da aquisição vem do registo do animal no Clube Português de Canicultura (CPC), que controla os pedigrees em Portugal.

Luís Pinto Teixeira, vice-presidente do CPC, reconhece que as situações de fraude no comércio de animais de raça não são "tão desprezíveis quanto isso". Contudo, essa é uma área onde o CPC "não tem intervenção", uma vez que se trata de um organismo que "não tem fins comerciais".

Os enganos neste mercado - onde um cachorro pode custar entre 250 e 500 euros - , não são uma situação nova, nem característica de Portugal, e os responsáveis do clube têm consciência de que ela existe porque "as pessoas reclamam" para lá, sendo que só tenderá a decrescer quando as pessoas se informarem devidamente.

Da mesma forma, Agrela Pinheiro, director-geral de Veterinária (DGV) - entidade que tutela as raças animais - diz que cabe ao consumidor a defesa dos seus interesses.

"O CPC é a entidade que, por delegação da DGV, é responsável pelos registos genealógicos", explica, havendo técnicos responsáveis pelos livros, "pelo que, garantia na aquisição, só com registo".

"Cabe ao consumidor pedir o registo da ninhada e dirigir-se ao CPC para verificar", adianta ainda, garantindo que não têm chegado queixas nessa matérias à Direcção-Geral de Veterinária.

Para ajudar eventuais consumidores, o CPC disponibiliza ainda listas de criadores de raças caninas às pessoas que estejam interessadas em adquirir um cachorro, mediante a indicação de uma raça específica. Uma informação que não presta por telefone (apenas por escrito, por carta ou fax) e que não inclui listas gerais de criadores ou até para mais de uma raça.

As tentativas de enganar, garante ainda Luís Pinto Teixeira, chegam ao próprio CPC e quando há desconfianças relativamente a uma determinada ninhada que um criador deseja registar. O único recurso fiável são os testes de ADN.

"Há, com certeza, bastantes tentativas de enganar e detectámos algumas falcatruas. Uma minoria, é certo, mas com alguma expressão", adianta o responsável.

São registados, anualmente, cerca de 20 mil cães de raça pura, o que significa uma média de cinco mil ninhadas. Na impossibilidade de controlar tecnicamente um número tão elevado, o CPC fá-lo, explica o seu vice-presidente, "de forma aleatória ou quando há problemas anteriores com os produtores".

No entanto, nem todos os cães de raça pura que nascem todos os dias em Portugal são registados pelos proprietários, estimando-se que apenas cerca de 20% do total da população canina nacional é declarada ao Clube Português de Canicultura.|

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