Falso padre até a casar era burlão

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Agostinho Coutinho Caridade é o verdadeiro nome do indivíduo de 34 anos que durante anos se fez passar por padre, celebrando vários casamentos, baptizados e missas, além de fazer inúmeros peditórios, até ser detido, no sábado passado, frente ao altar de Areias, Santo Tirso, quando se preparava para baptizar uma criança. O burlão enganou muita gente, sem que as autoridades eclesiásticas dessem conta. Ouvido pela PSP, foi libertado e ninguém sabe onde está.

Celebrou casamentos na Sé de Braga, na Trofa, na Maia. Mas pode haver mais. Arlindo Rodrigues Silva foi uma das vítimas deste burlão. No passado dia 29 de Maio, o seu filho casou na Igreja Matriz da Maia e foi o padre João Luís Gonçalves Amorim - nome falso usado por Agostinho Caridade desde 2004 - quem celebrou. "Conheci-o no Algarve numa igreja. Tinha o dom da palavra e gostei muito. Convidei-o para fazer o casamento do meu filho e ainda há três semanas realizou o funeral da minha mãe, em Malta, Vila do Conde. Sabemos agora que é um burlão. A minha nora está em estado de choque. Nem sabe se é mesmo casada", contou ao DN Arlindo Silva, revelando ainda que emprestou 2300 euros ao burlão: "Fez isto a muita gente."

As aventuras de Agostinho Caridade - que usava identificação falsa e documento de ordenação por uma ordem espanhola, o que também é falso, segundo a Diocese de Braga - acabaram no passado sábado, quando foi desmascarado em pleno altar, numa capela em Areias, Santo Tirso. Preparava-se para realizar um baptizado quando o cónego Fernando Monteiro, da Diocese de Braga, entrou na igreja com agentes da PSP, munidos com um mandado de captura, emitido pelo Ministério Público.

Sandra e Jorge Azevedo nem queriam acreditar que o baptizado do filho de quatro meses metia intervenção policial. "Comecei logo a chorar, mas depois o pároco da freguesia fez o baptizado no mesmo dia", disse Sandra Azevedo, com o marido a acrescentar: "Ele disse-me que já fez mais de 70 casamentos" O falso padre foi parar a esta cerimónia porque o pai de Sandra tinha assistido ao casamento do filho de Arlindo Silva e tinha gostado muito "do dom da palavra".

"Ele cativava muito as pessoas. Era muito eficaz junto do povo". A descrição é do padre Nuno Rocha, da paróquia da Lapa, na Póvoa de Varzim, uma das muitas onde Agostinho Caridade ludibriou pessoas e onde chegou a co-celebrar missas. O pior é que convenceu todos que era missionário passionista e realizou peditórios. "Aqui, só numa missa levou 650 euros", denuncia o padre Nuno Rocha. Em Vila do Conde, fez o mesmo, levando milhares de euros.

Em Alvarelhos, na Trofa, onde o burlão chegou a realizar dois casamentos, repete-se a história. "Ajudou nos dois últimos anos em cerimónias. Fez dois casamentos - os casais nem eram daqui - e soube depois que pediu dinheiro emprestado a muita gente. Mas ninguém desconfiava: ele era muito bem falante", disse o padre José Ramos. O falso padre é suspeito de burlas de "dezenas de milhares de euros", um pouco por todo o País: Braga, Famalicão, Trofa, Santo Tirso, Póvoa de Varzim, Viana do Castelo, Fátima e Albufeira. |

* com PAULO JULIÃO e SUSANA PINHEIRO

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