Pombos, gaivotas e estorninhos são as aves mais problemáticas pelos danos que causam a edifícios e outras estruturas da cidade de Lisboa. O controlo destas aves - que existem em grande quantidade em Portugal - através da utilização da falcoaria é uma prática que tem vindo a ser adotada cada vez mais, com empresas especializadas a fornecerem os seus serviços a armazéns, fábricas, hotéis, padarias e até aos próprios municípios..A falcoaria é uma forma de caça natural que pretende sempre respeitar o equilíbrio do meio ambiente. Para esta prática são utilizadas aves de rapina como falcões, águias ou açores, que acabam por reproduzir o seu comportamento do meio selvagem para ajudar a afugentar pombos, gaivotas ou estorninhos de determinados locais. "O mais importante de tudo na falcoaria é gostar de animais, especificamente de aves de rapina. Estas aves requerem muita paciência e dedicação diária", diz Tiago Meca, sócio-gerente da empresa Aves do Oeste, que antes de montar a sua empresa teve de receber formação da Associação Portuguesa de Falcoaria..Este método tem um impacto ambiental nulo pois não causa ruído ou perturbação, nem deixa resíduos no meio ambiente. Tiago Meca considera que além da questão ambiental, as entidades que contactam a sua empresa fazem-no por este ser também um método que agrada e impressiona as pessoas que, por exemplo, em esplanadas, acabam por ficar a assistir às operações das aves de rapina..O princípio que os falcoeiros tentam transmitir no controlo de avifauna é que naquela zona vive um predador, razão pela qual não devem ir para lá. Tiago Meca não deixa de sublinhar que conseguem controlar uma parte da personalidade das aves de rapina mas que o instinto selvagem continua lá. "Conseguimos ensinar-lhes certas regras e limites mas o instinto selvagem é incontrolável. Podemos ter uma ave que já trabalha há alguns anos a fazer espantamento, mas se lhe aparecer uma presa fraca e tiver a oportunidade de a comer, come-a", explica o falcoeiro, acrescentando que este é um comportamento que tentam ao máximo evitar em público mas que pode acontecer..No momento de atacar, as aves de rapina escolhem sempre o indivíduo mais fraco do grupo por forma a poupar energia e reforçar a sua presença como predador no local. Américo Meca, pai de Tiago e também falcoeiro na mesma empresa, explica que durante a intervenção os pombos mais velhos percebem que há um predador e deixam de aparecer, mas que os pombos mais novos continuam a vir por ainda não compreenderem que há um perigo..Por sua vez, os estorninhos são uma ave sazonal e assim tem de ser o seu controlo, ao contrário dos pombos e das gaivotas, que obrigam a um trabalho constante. Como estas aves aprenderam a viver com os humanos deixou de haver a época de escassez e abundância. "Não é possível fazer isto por quatro ou seis meses porque se sairmos, volta tudo ao que estava. Temos de dar a predominância de que há um predador", revelou..As aves de rapina também têm a sua personalidade e há umas que são mais agressivas do que outras. "Quando vou para amendoais ou para a cultura de mirtilos, levo aves mais agressivas ou que têm uma personalidade mais forte porque não há público e estou ali sozinho. Aquelas aves que nós sabemos que têm um comportamento mais dócil, que não se assustam com o barulho dos carros ou de uma criança a gritar, são as que trabalham no meio do público", explica Tiago Meca, que anda com seis pássaros todos os dias: três de baixo voo (duas águias e um açor) e três de alto voo (falcões)..O falcoeiro considera que as suas aves voam pouco para as capacidades que têm, mas que isso lhe garante a rotatividade de predadores e que, assim, não ganham demasiada confiança num território. Nesta arte, há dois fatores essenciais para controlar as aves de rapina: a alimentação e a confiança que as aves têm nos falcoeiros. "A alimentação tem de ser controlada quase à grama. Aliás, com algumas espécies é mesmo à grama. É preciso ter a quantidade perfeita para nos obedecerem e estarem em perfeita saúde", revelou..Finalmente, a confiança no falcoeiro é importante para poder controlar a agressividade das aves. "Elas têm de confiar em nós e não no seu ego, porque isso vai aumentar-lhes a agressividade", explicou Tiago Meca..sara.a.santos@dn.pt