Lá fora o chinfrim dos elétricos que passam mesmo juntinho à porta, cá dentro o som das guitarras. Passa pouco das quatro da tarde de sábado, dentro da tasca apagam-se as luzes da sala e acende-se uma luz vermelha. Calam-se as vozes, pousam-se os talheres. O Jaime tira a máscara da cara e surpreende-nos com a sua voz profunda: "Canoa de vela erguida/ Que vens do Cais da Ribeira/ Gaivota, que andas perdida/ Sem encontrar companheira." Na Tasca do Jaime e da Laura o fado é vadio e cantado por quem apareça com vontade de cantar. A porta aberta para a Graça, os pastéis de bacalhau num prato, e há sempre quem aplauda. "Não são clientes, são amigos", diz ela..Laura tem 54 anos e chegou a Lisboa com 12, vinda de Fonte Arcada, aldeia de Sernancelhe, na Beira Alta. Por essa altura, Jaime, que é um bocadinho mais velho do que ela, tem agora 61, também já estava na capital, vindo de Castelo Branco, na Beira Baixa. "Eram outros tempos", conta ele. "Imagine ter de deixar a família com esta idade." Jaime veio para trabalhar na mercearia de um tio, cresceu atrás de um balcão, a vender feijão e a fazer contas com tostões. Laura veio servir, como se dizia então, em casa de uma "família muito boa". Tinha de tomar conta dos meninos, limpar a casa, tratar da roupa. "Ao princípio não sabia nada, foi a senhora que me ensinou." Ensinou-lhe tudo, também a cozinhar. Quando o Jaime a conheceu, ficou encantado. "Ela era uma menina. Era muito educada", recorda, embevecido. "Aos domingos à tarde, tínhamos folga e havia bailes nas coletividades. Foi assim que nos conhecemos, em Arroios." Casaram-se há 34 anos..Pouco depois, decidiram que queriam ter um negócio deles. Compraram a tasca da Rua da Graça há 31 anos. Foi um risco. "Tivemos de pedir dinheiro emprestado: 6500 contos na altura. Um sufoco. Durante 25 anos não tivemos folgas nem férias." Ao princípio, a tasca vendia sobretudo álcool. Muito vinho e bagaço. "Fomos mudando as coisas aos bocadinhos, pondo a casa mais ao nosso jeito", conta Laura. "A Graça tinha muitos trabalhadores, estivadores, operários, muitos homens que vinham aqui e pediam para eu aquecer a marmita do almoço. Eu aquecia por simpatia e o único dinheiro que fazia era o da bebida. Mas eu fazia comida, tudo o que fosse de panela, que era mais em conta, e aos poucos eles começaram também a almoçar aqui.".Ao mesmo tempo, Jaime, que sempre foi apaixonado por música, começou a comprar uns instrumentos para enfeitar as paredes: uma concertina, uma guitarra. E de vez em quando os clientes pediam para tocar. Às vezes alguém cantava. Foi assim que começou. "Dei por mim com a casa cheia aos fins de semana, por causa do fado, e foi então que tive de pôr alguma ordem nisto, começar a pagar aos músicos e marcar uma hora para os fadistas amadores." E depois foi o que se sabe. A história está contada nas fotografias espalhadas pelas paredes e expostas por baixo do plástico das mesas. Os turistas levaram o nome da tasca para o seus países. Os tuk-tuks parados à porta chamando a atenção para algo "very typical". A casa cheia aos fins de semana para ouvir o fado vadio, genuíno, sem consumo mínimo..No negócio entraram também o filho mais velho, David, de 31 anos, que tirou o curso de cozinheiro e acabou por abrir uma outra Tasca do Jaime em Alfama, e o filho mais novo, Duarte, de 24 anos, que estudou música e agora toca guitarra nas duas casas. "Trabalhamos aqui de dia e de noite em Alfama, é muito cansativo, é verdade, mas, sabe o que se costuma dizer, só quando começa a doer, os pés ou as costas, é que começa a dar lucro", diz Jaime..E foi assim até àquele sábado de março em que a casa ficou vazia, antes mesmo da ordem do Governo para fechar as portas. A família ficou toda em casa, mas as contas continuaram a ser pagas. "Têm sido tempos horríveis", lamenta-se Laura. "Isto vai dar cabo de nós, financeiramente e psicologicamente." Mais de dois meses depois, as portas voltaram a abrir-se, as guitarras voltaram a tocar, Laura voltou a fazer caracóis, os amigos vieram cantar uns fados. Mas o movimento não é como dantes. Na Graça é o silêncio. Não se ouve as rodinhas dos trolleys dos turistas, não se ouve ninguém a falar inglês, não há quem aprecie a magnífica vista dos miradouros, nem quem se acotovele por uma selfie com o Tejo ao fundo. "Já ninguém mora aqui", conclui Jaime. "Mandaram toda a gente embora para fazer alojamento local mas agora que não há turistas isto é um deserto. Vou a Alfama e a calçada tem ervas. Não se vê ninguém. Abrimos aqui na Graça mas é só para tirar a cabeça da terra, porque não estamos a ganhar nada." Ganhamos nós, que o ouvimos cantar. "Vai dizer adeus à Graça/ Que é tão bela, que é tão boa.".Música, comida e inclusão.Enquanto na tasca se canta o fado, mais à frente, nas Damas, Alexandra e Clara fecham a porta a meio da tarde e interrompem a atividade para participar na manifestação contra o racismo. "As Damas repudiam qualquer ato de discriminação associado a nacionalidade, etnia, género, orientação sexual, religião, idade, classe ou deficiência. Todo e qualquer comportamento com este tipo de motivações discriminatórias irá levar à expulsão do espaço" - o aviso está colado na parede do estabelecimento, bem visível, para que se saiba que este é um espaço de todos. Inclusão é uma palavra que as duas proprietárias dizem muitas vezes. Não foi por acaso que abriram as portas num dia 25 de abril. As Damas celebram sempre a revolução e associam-se às lutas pelos direitos, seja da comunidade LGBT seja dos trabalhadores precários..Alexandra Campos Vidal e Clara Metais vieram para Lisboa para estudar, a primeira licenciou-se em História e Arqueologia e a segunda em Psicologia: "Foi no verão de 2014 que, já fartas de trabalhar para os outros e de continuarmos em situações precárias, achámos que estava na altura de fazer alguma coisa por nós e tivemos esta ideia de abrir um negócio nosso", contam. Foi Alexandra que encontrou aquele sítio, na Rua da Voz do Operário, uma casa fechada: "Eu espreitei por um vidro partido e não dava para ver bem como isto era grande e como estava em mau estado", recorda. Foram necessárias muitas obras. Muitos meses. Muito trabalho. "Optámos por manter toda a destruição que fosse possível manter, porque para nós não fazia sentido gastar imenso dinheiro numa iluminação ou numas cadeiras quando isso não deveria ser o coração do negócio. O que tens para oferecer é que deve ser valorizado.".O que elas tinham para oferecer era uma fusão de comida e música, um restaurante com programação cultural. E sem saberem muito bem como, amigo que traz amigo, a notícia de que havia um espaço assim na Graça, longe dos circuitos habituais da noite lisboeta, acabou por espalhar-se e as Damas tornaram-se um dos novos locais da moda. "A localização foi a nossa única aposta, este era um bairro com pouca oferta", explica Clara. "Nunca imaginámos que isto crescesse tão depressa e que viesse a ter esta dimensão. Já fomos acusadas de sermos as causadoras da gentrificação na Graça", riem-se. À sexta e ao sábado a casa fica cheia e nas noites de calor o passeio transforma-se em sala de estar..Apesar de se ter tornado conhecido como bar e sala de concertos, o restaurante é o principal negócio das Damas. Com petiscos, pratos veganos, alguma carne e muito peixe, são os almoços e os jantares que ali são servidos que permitem que as noites de fim de semana sejam animadas. "Não cobramos entrada, esse é um dos princípios da casa, a inclusão. O restaurante permite-nos suportar a entrada livre e democrática", explica Alexandra. "Convidámos projetos que respeitamos, sangue novo, projetos emergentes, e começámos a fazer parcerias com promotoras e editoras", conta Clara. Foi naquela sala dos fundos, com capacidade para oitenta a cem pessoas que, no ano passado, se apresentou a funkeira brasileira Deize Tigrona numa noite memorável..Não voltará a acontecer nos próximos tempos. Por agora, as Damas estão a funcionar apenas como restaurante e a tentar reformular a sala de concertos para que se transforme num estúdio comunitário e numa escola de música. "Mesmo que volte a haver concertos, tudo será diferente. E os músicos precisam de encontrar outras formas de sustento", explicam. Precisam todos, aliás. "Ao início éramos poucos, mas depois fomos crescendo, para dar resposta, e agora temos uma equipa muito grande - somos 14 pessoas, temos equipas técnicas para o som, para produção cultural, temos mais bartenders e mais gente na cozinha do que efetivamente precisamos neste momento." Se não pode haver concertos, inventa-se programação. Neste sábado há um concurso de caracóis, "uma luta de cozinheiros", anunciam. O cozinheiro Nelo e o bartender Augusto desafiaram Alexandra e querem saber quem é que faz os melhores caracóis das Damas. É ir e provar, nesta tarde, ao som de CelesteMariposa..O rio ali ao lado.Quando Pedro e Rosário decidiram comprar uma casa no Parque das Nações, em 1999, o bairro ainda não existia, era só buracos e projetos de prédios que iriam ser construídos. Foi um tiro no escuro. Tiveram algum receio, admitem. "Mas via-se que havia alguma organização, isso inspirou-nos confiança. Além disso, tinha o atrativo de ser uma coisa construída de raiz, e tinha o Tejo, claro, que é sempre um privilégio", explica Pedro..Pedro Martins tem 66 anos e é advogado, Rosário tem 56 e é psicóloga. Ela morava em Alvalade, ele nas Telheiras e, há pouco mais de 20 anos, decidiram morar juntos. "Chegámos aqui e apaixonámo-nos pela casa. É um apartamento de cinco assoalhadas num prédio bioclimático. Não temos aquecimento nem arrefecimento. Se tivermos cuidado, a casa mantém uma temperatura de 22º C ou 23º C o ano todo. Tem umas paredes especiais e é alimentada por energia solar - e como precisa de muita luz, à volta não temos prédios, só árvores.".Entretanto, o bairro nascido no sítio onde tinha acontecido a Expo"98 foi crescendo e hoje, tirando o Oceanário e a Altice Arena, já poucos vestígios sobram desse extraordinário evento. A zona norte do Parque das Nações fica nos limites da cidade, muito longe do bulício do centro. Tão longe que às vezes eles dizem que vão a Lisboa. Riem-se. "É mesmo quase como viver fora de Lisboa. O único defeito serão talvez os transportes", diz Pedro. Para chegar ao metro, os autocarros são poucos e irregulares. De resto, são só vantagens: "É um sossego, uma tranquilidade", confirma Rosário. "Temos tudo o que precisamos e, apesar de ser uma zona nova, temos muita vida de bairro, temos o largo, a mercearia - o Pomar da Rosa - e o café do senhor Armando, vimos aqui e encontramos amigos. À uma da manhã, podemos andar na rua à vontade, é um sítio muito seguro.".Num fim de tarde qualquer, junto ao rio, há bastante gente a correr e a fazer exercício, muitas famílias e crianças. Pedro gosta de ir de bicicleta por ali afora, ver os flamingos e outros pássaros. "É um luxo ter o rio e este espaço todo à porta de casa." Que o diga a Box, a cadela enérgica, que corre pela relva, imparável..Pedro e Rosário também não são de ficar parados. Contam entusiasmados as histórias das suas viagens pelo mundo, para ver outras cidades mas também para ver desertos e vulcões. Ele gosta de fotografar, ela aventura-se na pintura. Como gostam ambos de cozinhar, criaram uma empresa chamada At Your Door e levam comida, feita por si, a casa dos vizinhos. O filho, Martim, de 18 anos (neste momento a estudar para entrar no curso de Medicina), fez o site, e eles divertem-se a fazer massa caseira, strudel de alheira de caça, bacalhau confitado, pastéis de Tentúgal e outros pratos deliciosos. "É uma empresa pequena mas no ano passado estivemos no arraial dos Navegantes, foi um sucesso", contam. "Há tempo para tudo, é uma questão de organização.".Há uns tempos descobriram as maravilhas da pesca. Levantam-se às cinco da manhã, levam as canas e atravessam a rua para chegar ao rio. "Ficamos ali em silêncio, vemos o nascer do Sol, é ótimo", conta Rosário. Quase como uma terapia, com a vantagem de no final trazerem bom peixe para o almoço..Uma aldeia com prédios altos.Quando passeia pela Estrada de Benfica, junto à carismática pastelaria Talismã ou à Casa da Sorte, sempre com gente à procura de um futuro melhor, o padre Nuno Fernandes cruza-se com muitos dos seus paroquianos. Os mais velhos, mesmo aqueles que não costumam ir à igreja, levantam um bocadinho o boné da cabeça para o cumprimentarem: "Bom dia, senhor prior." "Isto é uma coisa de aldeia", comenta o padre, "mas é engraçado que aqui há este ambiente de aldeia, de comunidade". Benfica era, na verdade, uma aldeia da porcalhota que foi engolida pela urbanização, uma freguesia que cresceu imenso na segunda metade do século XX, com prédios novos e muitos equipamentos, e que acabou por ficar no limite da capital: as Portas de Benfica são também as portas de Lisboa..Apesar disso, "Benfica não é um dormitório, é um bairro com muita vida", garante o padre Nuno, 47 anos, que nasceu em Lisboa mas cresceu no Cadaval, responsável há seis anos pela paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica. Na juventude, o desejo de ser padre coexistia com o desejo de ser jornalista, e estudou Ciências da Comunicação antes de estudar Teologia. "Mas percebi que não queria fazer só comunicação, precisava de estar em contacto com as pessoas, precisava da paróquia." Esteve na Estrela e no Parque das Nações, antes de chegar a este bairro: "Uma paróquia grande, com muita vida, com pessoas muito diferentes mas muito empenhadas. Há muita gente que dá muito tempo à comunidade e isso é bonito de se ver. Temos um bom grupo de jovens e um agrupamento de escuteiros. Mas é também uma comunidade muito envelhecida.".Nos últimos meses, enquanto as celebrações presenciais estiveram proibidas, a paróquia manteve uma intensa atividade nas redes sociais, com transmissão de missas e o terço rezado todas as noites. "Era uma ideia que eu já tinha mas que foi apressada pelas circunstâncias. Temos pessoas muito idosas, gente sozinha em casa, outros estão doentes. Queríamos que mantivessem o contacto com a sua igreja." Há duas semanas, a igreja voltou a abrir as portas com uma lotação de apenas 70 pessoas. "Temos sete missas - duas ao sábado e cinco ao domingo - e têm estado sempre cheias", congratula-se o padre Nuno. A entrada é feita pela porta lateral e, muito antes da missa do meio-dia, a fila já vai em ziguezague pelo passeio. Há um circuito assinalado no chão e quatro voluntários que fazem o acolhimento e garantem o cumprimento de todas as regras. "O padre Traquina [o anterior pároco] dizia que esta igreja era um bocadinho como um santuário, tem sempre movimento, as pessoas vêm de outros lugares, de fora de Lisboa, porque fica na corrente dos autocarros e num local muito central do bairro." Lá está, como numa aldeia. A igreja de Benfica é uma referência, fica ao pé dos cafés, do clube de futebol e do mercado.."É proibido tocar nos alimentos".Mesmo num dia de semana, há fila à porta do Mercado de Benfica. Só podem lá estar cem clientes de cada vez, toda a gente usa máscara e, à entrada, uma funcionária aponta o desinfetante para as mãos estendidas dos fregueses. Mas uma vez lá dentro quase nos esquecemos do vírus com tanta agitação e variedade de comidas, os cheiros do peixe, dos legumes e dos enchidos todos misturados, um burburinho constante de gente a pedir nabiças, salsa e laranjas. Em vez de se debruçarem nas bancas, como era habitual, as pessoas fazem filas ordeiras, por trás da linha marcada no chão, mantendo a distância social. "É proibido tocar nos alimentos" - este é o aviso repetido por todo o mercado em cartazes vermelhos. "Essa é a parte mais difícil, mais difícil do que a máscara", lamenta-se uma cliente. Já não se pode provar as uvas nem avaliar o grau de amadurecimento dos melões.."É uma injustiça, porque nos supermercados as pessoas podem mexer em tudo e aqui não", queixa-se Filipe Barbosa. Filipe tem 45 anos e partilha a sua banca de fruta com a banca de legumes dos pais, Teresa e Celestino. Estão no Mercado de Benfica há 20 anos. Filipe não para. Mora em Odivelas, acorda todos os dias às 04.30 e depois de passar a manhã em Benfica ainda vai trabalhar a tarde toda no MARL - Mercado Abastecedor da Região de Lisboa. É raro deitar-se antes da meia-noite. "Não durmo muito, é verdade", admite. Tem três filhos de 16 anos e as despesas não acabam nunca. "Gosto do que faço, mas é uma vida de escravo, trabalhamos muito", diz, enquanto atende mais um cliente, agora um quilo de cerejas, depois umas nectarinas..A manhã está quase a acabar e há quem já lave as bancadas. "Ó amor, o que é que vocês querem saber?", pergunta Lisete, baixando a máscara e mostrando o seu sorriso de 82 anos. Lisete podia estar num cartão-postal de Lisboa. É a típica peixeira, simpática e faladora. Sentada num cantinho da sua banca de peixe, ao lado das muletas, a mais antiga vendedora do Mercado de Benfica está ali há 50 anos, conhece toda a gente e com todos vai conversando. "Miúdos que vi crescer e que agora já vêm com os filhos, outras pessoas que já morreram... É uma vida inteira aqui.".Lisete começou a trabalhar aos 7 anos, ajudando a mãe e a avó, que já eram peixeiras. Foram muitos anos quase sem dormir: "Levantava-me à meia-noite para ir a Sesimbra e a Peniche buscar o peixe e depois à Ribeira e a Santos. O MARL só abriu há 20 anos, antes tínhamos de ir às lotas." Lisete estudou pouco - só conseguiu fazer a quarta classe à noite e depois de várias tentativas - mas conseguiu tirar a carta e desenvencilhar-se na vida à custa de muito trabalho. Sabe tudo sobre aqueles peixes, os melhores para a caldeirada ou para o carvão, os carapaus de olhos vivos, o choco que fica tenrinho. "A sardinha está muito boa mas, infelizmente, neste ano não se vende muito, sem os restaurantes... quem é que assa sardinhas em casa?", pergunta. "O mês de junho costumava ser uma alegria, mas neste ano está complicado... mas tem de ser, não é, menina?, temos de ter cuidado", conclui, resignada..É difícil conversar com as máscaras. Gritamos e perguntamos muitas vezes "o quê?". Lisete ri-se muito. Lisboeta, do bairro dos Sete Moinhos, "ao pé do Casal Ventoso", tem dois filhos e cinco netos. A filha vem ajudá-la ao sábado e é capaz de um dia ficar responsável pela banca do peixe, mas, por agora, é Lisete que continua ali. Já não vem tão cedo, já passou parte do trabalho a Palmira e a Teresa, as duas funcionárias de sempre, mas ainda vem quase todos os dias: "Trabalhei muito a vida toda e agora já podia estar em casa mas... ia ficar em casa a fazer o quê?"