Facebook não eliminou conteúdos violentos nem páginas de extrema-direita, revela investigação

Segundo uma investigação da estação de televisão Channel 4 a rede social fundada por Mark Zuckerberg protegeu publicações de ativistas da extrema-direita e conteúdos
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Vídeos de agressões a crianças, discursos de ódio e imagens de autoflagelação entre utilizadores menores de idade foram permitidos no Facebook, apesar de serem conteúdos que violam as regras da rede social, com mais de dois mil milhões de utilizadores, revelou uma investigação levada a cabo pela série de documentários "Dispatches" do Channel 4. Segundo o canal de televisão britânico, a rede social terá também protegido publicações de ativistas da extrema-direita.

Um repórter do Channel 4 infiltrou-se na sede irlandesa da CPL Resources, em Dublin, centro de moderação do Facebook, como um dos funcionários que têm como objetivo monitorizar tudo o que chega à rede social.

Durante a investigação, é referido, por exemplo, que um vídeo de uma criança a ser agredida por um adulto foi considerado como um conteúdo perturbador, permitindo que utilizadores o possam visualizar. Na sessão de formação foi usado como exemplo do que é aceitável. "Se se começa a censurar demasiado as pessoas deixam de usar a plataforma. No final do dia é tudo sobre o dinheiro", diz um moderador da rede social no documentário.

Durante as seis semanas em que esteve infiltrado nas sessões de formação no centro de moderação, o jornalista descobriu que páginas de extremistas com muitos seguidores eram protegidas, da mesma forma que as de governos.

Uma das páginas era a de Tommy Robinson, um dos líderes do extinto partido da extrema-direita Britain First, revela a investigação. "Têm muitos seguidores e, por isso, gerem muitas receitas para o Facebook", disse um dos funcionários ao repórter, antes da página do Britain First ter sido banida no passado mês de março por violar as regras da rede social ao incitar ao ódio com publicações anti-islâmicas.

A decisão surgiu seis meses após ter sido excluído como um partido político e uma semana depois de os seus líderes terem sido presos.

No documentário, Richard Allan, responsável europeu pela privacidade do Facebook, nega que as regras da rede social tenham como base a receita. "Se o conteúdo viola as regras, é eliminado", garantiu. "Esta não é uma discussão sobre o dinheiro, esta é uma discussão sobre o discurso político", sublinhou.

Facebook reconhece erros

Ao The Guardian, o responsável garantiu que o Facebook retira o conteúdo da rede social, "independentemente que quem o publica", se for contra as regras da plataforma.

Antes de o programa ser exibido, Allan reconheceu erros na rede social. "Está claro que parte do que é mostrado no programa não reflete as políticas ou valores do Facebook, e fica aquém dos altos padrões que esperamos", afirmou, em comunicado, citado pelo Irish Times .

"Nós levamos muito a sério os erros em alguns dos nossos processos de treino e estamos agradecidos aos jornalistas que os levaram até nós", refere o responsável, admitindo as falhas que existem na rede social. "Estamos a trabalhar para saber exatamente o que aconteceu para tentar corrigir", garantiu Richard Allan.

E a rede social fundada por Mark Zuckerberg já está a tomar medidas para corrigir os erros detetados na investigação. "Exigimos a todos os formadores em Dubin que fizessem uma sessão retreinamento e estamos a preparar para fazer o mesmo a nível global", refere, em comunicado o Facebook. "Também revimos as políticas de privacidade e as ações de fiscalização que o repórter mencionou e corrigimos os erros que encontrámos", assegurou a plataforma.

"Foi sugerido [no documentário] que fechamos os olhos aos maus conteúdos com interesse comercial. Não é verdade", reforça a empresa, que diz dar prioridade a um "ambiente seguro onde pessoas de todo o mundo possam partilhar e ficarem ligadas". "Se os nossos serviços não forem seguros, as pessoas não partilham e, com o tempo, vão deixar de usá-los. Os anunciantes também não querem que as suas marcas sejam associadas a conteúdos problemáticos", argumentou.

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